domingo, 22 de junho de 2008

Estudo sobre LITERATURA DO ANTIGO TESTAMENTO

Estudo sobre LITERATURA DO ANTIGO TESTAMENTO

LIVRO: Conheça Melhor o Antigo Testamento – Elissen ED.Vida


1)Fale da autoria do Pentateuco e o Objetivo de cada Livro ?
O primeiro lugar de ordem e de honra entre os livros do Antigo Testamento ocupa-o aquele que os, gregos chamaram Pentateuco, isto é, obra em cinco tomos. Para os hebreus é a "tora," ou seja, a lei, nome tomado da matéria central. Também os hebreus o dividiram nos mesmos cinco livros que os gregos, distinguindo-os com a palavra inicial. Nós usamos exclusivamente os nomes impostos pelos gregos, que de maneira graciosa lhes caracterizaram o conteúdo: Gênesis, Exodo, Levítico, Números, Deuteronômio. De fato, o Gênesis narra as origens do universo e do gênero humano até à formação paulatina do povo de Israel na sua estada no Egito. O Exodo narra a saída dos israelitas do Egito, conduzidos por Moisés aos pés do Sinai, para aí receberem de Deus a sua lei religiosa e civil e se constituírem, por meio de um pacto sagrado ("testamento"), em peculiar "povo de Deus (Javé)." O Levítico regula o culto religioso à maneira de ritual, dirigido especialmente aos levitas, que formavam o clero consagrado ao serviço do santuário. Os Números recebem o nome dos recenseamentos do povo contidos na primeira parte, estendendo-se, depois, em referir fatos e providências legislativas correspondentes a cerca de quarenta anos de vida nômade no deserto da península sinaítica. No Deuteronômio, ou segunda lei, emanada pelo fim da jornada no deserto, Moisés retoma a legislação precedente para adaptá-la às novas condições de vida sedentária, em que o povo viria a se encontrar com a conquista iminente da Palestina.
Neste rápido apanhado aparece num só lance tanto a unidade como a variedade do Pentateuco, bem como a sua importância fundamental para a religião antiga e para a história especial do povo hebreu.
Quem é o autor do Pentateuco? Desde a mais remota antigüidade foi considerado seu autor o próprio Moisés, o protagonista dos últimos quatro livros. Já nos livros posteriores da Bíblia citam-se-lhe várias sentenças com a fórmula: "Está escrito na lei de Moisés" ou "no livro de Moisés," ou "no volume da lei de Moisés." Assim, para não falar do livro de Josué, que é a continuação imediata e como que o complemento do Pentateuco (Jos 8:31, 23:6, em 1Rs 2:3; 2Rs 14:6; 2 Crôn 23:18; 25:4, 35:12; Esdr 3:2, 6:18; Ne 8:1, 10:3,; 13:1; Bar 2:2; Dan 9:11 etc.). Os Evangelhos nos apresentam a convicção de que Moisés é autor da lei, difundida e radicada entre os judeus; o próprio Jesus, bem como os apóstolos admitem-na e a confirmam (veja Mt 8:4; Mc 12:26; Lc 20:37; Jo 5:46; At 3:32, 15:21; Rom 10:5 etc.). Entre as testemunhas eloqüentes da fé judaica figuram Fílon, José Flávio e com maior crédito e ressonância o Talmud (tratado Baba batra, f. 14,15); entre os cristãos, os Padres da Igreja são unânimes em reconhecer Moisés autor do Pentateuco.
Não contraria essa atribuição o fato de que de Moisés se fale sempre em terceira pessoa; Xenofonte e Júlio César (para falar só em nomes célebres),fizeram o mesmo. Nem suscita a menor dificuldade a grande antigüidade de Moisés (cerca do século XIV a.C.), pois agora sabemos por documentos originais recentemente descobertos, que naquela época, não só a escrita já era conhecida desde séculos, mas até o próprio alfabeto fenício-hebraico já fora inventado. Nem derrogam esta convicção universal a opinião de alguns, já na Idade Média, de que um outro trecho breve, como os oito últimos versículos do Deuteronômio, que narram a morte de Moisés, tenha sido acrescentado mais tarde ao Pentateuco. Só nos tempos modernos é que surgiram dúvidas e negações radicais.
A partir do século XVIII vem-se fazendo pesquisas perspicazes em três sentidos: composição, autor, idade do Pentateuco. A composição: é fruto ou não da união de vários documentos ou de mais escritos originariamente distintos? O autor: de quem são as partes individuais ou os documentos, quem as reuniu num todo, ou seja, de quem é a redação definitiva do atual Pentateuco? A idade: quando viveu cada um dos autores e redatores? São três questões distintas entre si, mas tão conexas que podem e habitualmente são tratadas como um tema comum: a questão mosaica. Para responder a tais questões elaboraram-se, no século XIX, vários sistemas; mas prevaleceu sobre todos, no fim do século, o defendido por K.H.Graf (1866) e aperfeiçoado por J.Wellhausen(1876-78). Ele distingue no Pentateuco quatro autores ou escritores diferentes: dois narradores denominados pelo uso diferente do nome de Deus, um javista (abreviado J), o outro eloísta (E), aos quais se deve a maior parte dos fatos referidos no Gênesis, Êxodo, Números; um deuteronomista (D), autor quase exclusivo do Deuteronômio; e um tratado presbiteral (P) ou código sacerdotal, que compreende todo o Levítico e muitas partes narrativas de Gênesis, Êxodo e Números. Esses os documentos. Para as respectivas datas, segundo a supracitada escola, o código sacerdotal (P) seria posterior ao profeta Ezequiel (primeira metade do século VI a.C.), o Deuteronômio teria sido composto pouco antes da reforma religiosa de Josias, ou seja, pelo ano de 621 a.C., o eloísta e o javista seriam mais antigos (século VIII e IX). A união de todos esses escritos no atual Pentateuco ter-se-ia realizado no tempo de Esdras (século V a.C.). Com tais conclusões, nada mais resta a Moisés do Pentatéuco, exceto um ou outro fragmento, como o Decálogo (Êx 20), incorporado pelos primeiros colecionadores das antigas memórias (J E) à própria obra.
Esta teoria, que se estriba, em boa parte, no princípio filosófico da evolução aplicado à religião e à história do povo hebreu, se bem que tenha encontrado a maior aceitação entre os protestantes, teve na própria Alemanha, fortes opositores entre os críticos de primeira ordem, especialmente no que concerne às datas atribuídas aos supostos documentos, que, se na verdade é o ponto mais revolucionário, é também o mais vulnerável de todo o sistema. Para desmenti-lo neste ponto, surgiram no século XX novas escolas; novas orientações emergiram do solo, com as escavações no Oriente, importantíssimos documentos, tais como o código de Hamurabi, rei de Babilônia, os arquivos dos heteus, ou hititas, em Bogazköy, na Ásia Menor, e os poemas ugaríticos descobertos em Ras Shamra, no litoral da Síria, para só mencionar os principais. Eles trazem à luz costumes, instituições e ritos análogos aos do Pentateuco de tempos até mais antigos de Moisés, e que os críticos julgavam próprios de época mais recente, e nos revelam fatos que se refletem na vida dos patriarcas (Gên 12:fim), com matizes que poucos séculos atrás teria sido impossível imaginar. Conseqüentemente, a brilhante concepção arquitetada por Wellhausen acha-se em plena dissolução. Resiste ainda tenazmente a análise documentária, ou seja, a distinção de quatro (ou mais) fontes, de cuja fusão teria resultado o Pentateuco.
Remetendo, para mais amplas explicações, a tratados especializados de introdução bíblica, ou a comentários mais desenvolvidos, exporemos aqui os fatos objetivos, sobre os quais se quer fundamentar a prova da estrutura compósita do Pentateuco, para indicar depois uma via de solução, e mostrar como esses fatos, quando reduzidos ao seu justo valor, não impedem que Moisés possa ser verdadeiramente chamado autor do Pentateuco. A exposição que segue auxiliará o leitor a formar uma compreensão mais clara destes livros.
Nomes divinos. Para exprimir a idéia de Deus, a língua hebraica dispõe de muitos termos. O mais freqüente (1440 vezes no Pentateuco, mais de 6800 em toda a Bíblia) é "Javé" (ou "Jeová," segundo uma pseudo pronúncia introduzida entre os séculos XVI e XIX), nome próprio, pessoal. "'Elohim" (975 vezes no Pentateuco, cerca de 2500 na Bíblia) é nome de natureza, como se disséssemos: a divindade; gramaticalmente plural (a forma singular, "'eloah," é poética e existe só 2 vezes no Pentateuco), quanto ao sentido é singular "El," de igual valor, mas arcaico e poético, 46 vezes no Pentateuco; "'Adonai" = Senhor, 17 vezes; "Saddai" = o Onipotente, 9 vezes; "Elion" = o Altíssimo, 6 vezes. A questão mosaica interessam principalmente os dois primeiros. Foi observado (e o primeiro a dar pelo fato foi o médico católico francês Jean Astruc em 1756) que no Gênesis e no início do Êxodo capítulos inteiros empregam exclusivamente, ou quase, o nome Javé; outros, ao invés, com a mesma exclusividade e constância rezam Eloim. Assim, por exemplo, em Gên 1, lê-se 33 vezes Eloim, e nunca Javé; em Gên 4, uma vez Eloim e 10 vezes Javé (em 2-3 diga-se de passagem, estão juntos Javé e Eloim); em Gên 10:16 nenhum Eloim, 36 Javé (com 2 Adonai); em Gên 17, ao invés, 7 Eloim, 1 Javé; em Gên 24 nenhum Eloim, 19 Javé; em Gên 30-35 contra 32 Eloim 6 Javé. Na tradução, a Vulgata nem sempre conserva a distinção.
O emprego alternado dos dois nomes divinos não é casual; nem é sem motivo que cessa em Êx 6, predominando depois quase exclusivamente Javé; isso está manifestamente em relação com o que aí se lê; às gerações precedentes Deus se revelava como Sadai, pois desconheciam o nome sagrado de Javé, revelado pela primeira vez a Moisés (veja também Êx 3:13-15). Compreende-se, pois, porque nas narrativas precedentes o nome usado seja Eloim. Mas, como explicar a presença de Javé em tantas partes do Gênesis? Depois de Astruc viu-se aqui a prova tangível de duas fontes ou dois autores diferentes, chamados um eloísta (sigla E), outro javista (sigla J). Veremos se com razão.
Língua e estilo. No entanto, estão já todos concordes que ó argumento dos nomes divinos, por si só, não é suficiente para se distinguirem solidamente fontes ou autores. Este argumento por isso é acompanhado de provas subsidiárias. Com efeito, observam eles, à alternação dos nomes divinos acha-se associada a semelhantes mudanças de vocábulos e construções. Por exemplo, o ato criador em Gên 1 exprime-se com "bara," em 2 com "yasar"; os habitantes da Palestina antes dos hebreus são chamados "cananeus" por J, "amoreus" por E; a serva, "sifha" por J, "'amah" por E; o patriarca Jacó só em J toma o nome de Israel. A diversidade prolonga-se além do Gênesis; o monte onde foi promulgada a lei, em J chamava-se "Sinai," em E "Horeb"; o sogro de Moisés, em J tem o nome de "Raguel," em E de "Jetro," e assim por diante. Igualmente, mudando os nomes divinos, muda o estilo. J é mais abundante e minucioso; condescendente e popular, não evita os mais chocantes antropomorfismos; vivaz e dramático, tem um colorido poético, fascinante. E é mais sêco, anedótico, um pouco descuidado.
Observando-se a diversidade de estilo, descobrem-se mais duas fontes ou autores: um segundo eloísta que, nas partes legislativas, ocupa-se de preferência do culto religioso, donde foi chamado sacerdote e autor do "código sacerdotal" (P); e na seção narrativa ele aprecia as estatísticas, anotações cronológicas, fórmulas esquemáticas (exemplo seja a narração da criação, Gên 1), a linguagem precisa e quase pedante do jurista. E, enfim,o pregador que escreveu o Deuteronômio (D) num estilo amplo, parenético, cheio de afeto humanitário e de suave insinuação.
Os duplicados. Para provar a pluralidade de autores do Pentateuco surge um terceiro argumento, mais valioso do que os dois antecedentes. Certos acontecimentos - diz-se - e não poucas leis, ocorrem duas e até três vezes em forma pouco diversa. Assim, a criação do mundo é narrada duas vezes (Gên 1:1-2,3 e 2:4-24); duas vezes Agar é expulsa da casa de Abraão (16 e 21); duas vezes acha-se em perigo a honestidade de Sara (12 e 20) e uma terceira a de Rebeca (26); as duas genealogias de Caim (4) e de Set (5) têm em comum a maior parte dos nomes; no dilúvio (6-8) são entrelaçadas duas narrações distintas. Duas vezes é repetida a vocação de Moisés (Ex 3 e 6), a queda do maná e a pousada das codornizes no deserto (Êx 16 e Núm 11), a prova junto às águas de Meribá (Ex 17 e Núm 20). O preceito das três solenidades anuais é repetido até cinco vezes (Êx 23:14-19, 34:23-26; Lev 23; Núm 28; Dt 16).
Variações nas leis. Entre os duplicados legais, especial atenção reclamam os que introduzem uma modificação. A mais célebre e mais grave de tais modificações diz respeito ao lugar do culto (templo e altar). Ex 20:24 parece permitir a ereção de um altar em qualquer lugar, memorável por alguma intervenção divina, e aí imolar vítimas sagradas. Lev 17:3-9 não admite nenhuma matança de animal longe do altar, sobre o qual deve ser derramado o sangue, sendo este altar, em união com o tabernáculo sagrado, o único para todos. Em Dt 12:1-28, segundo a interpretação comum e óbvia, únicos são o templo e o altar, e fora deles não é permitido oferecer sacrifícios a Deus. Permite-se, no entanto, que se matem animais em qualquer lugar, para o uso comum, derramando-lhes o sangue por terra, ação declarada profana e não mais sagrada.
A esta variedade de leis corresponde - observa-se - a prática na história, conforme vem narrada pela própria Bíblia. De fato, vemos nos livros dos juízes (6:24-28;13:15-23), de Samuel (1 Sam 6:9-17, 9:12; 2Sam 15:7-12, 24:18-25), dos Reis (1Rs 3:2-4, 15:14 etc.), altares erigidos e sacrifícios oferecidos quase por toda parte, segundo as circunstâncias, em harmonia com a lei do Êxodo. Mas, em 2Rs 22:23, lemos que o rei Josias no sétimo ano de seu reinado (621 a.C.), tendo-se encontrado como que por acaso, no templo, um exemplar da lei, fêz dela uma aplicação imediata, que corresponde exatamente às prescrições do Deuteronômio, particularmente acerca da unicidade do santuário e do altar. Trata-se da chamada reforma de Josias, precedida, um século antes, por uma tentativa de Ezequias no mesmo sentido (2 Rs 17:22; 2 Crôn 32:12; Is 36:7).
Esses os fatos. A supradita escola crítica tira daqui as conseqüências que temos visto: o Deuteronômio, o primeiro a ostentar a lei do altar único, foi composto no século VII a.C., pouco antes da reforma de Josias. O Levítico, que já supõe essa lei, bem como todo ocódigo sacerdotal ao qual pertence, é posterior a Josias e ao exílio, acrescentado pouco depois. Os dois escritos narrativos, o Javista e o eloísta, que já circulavam separadamente, o primeiro desde o século IX na Judéia, o segundo desde o século VIII no reino de Israel, refletem a prática mais antiga.
Essas conseqüências sustentam-se? Será que os fatos acima mencionados, reduzidos aos seus justos limites, não comportam outra explicação? A solução da questão da autenticidade mosaica do Pentateuco depende da resposta a esses dois quesitos.
Partindo do primeiro argumento, o dos nomes divinos, afirmamos antes de mais nada que nem sempre esteve ao arbítrio do escritor usar Javé ou Eloim; o matiz sutil de sentido e a associação diferente de idéias contidas nos dois nomes, levam, em dadas circunstâncias, a usar um com exclusão de outro, e em certas construções o uso, sem razão aparente, ligou-se exclusivamente a um ou ao outro. É daí que se diz: "'is Elohim" = homem de Deus, mas "debar Jahvé" = palavra do Senhor, e não o contrário. O critério dos nomes divinos, portanto, está sujeito à cautela. Além disso, será que estamos certos de que os nomes divinos, como figuram no texto atual, são originais, isto é, remontam ao próprio autor?
A tese crítica o supõe, e é para ela indispensável. Há, porém, boas razões para duvidar. A alternação dos nomes divinos não é particularidade do Pentateuco: constata-se também em outros livros da Bíblia, especialmente no Saltério, onde os primeiros quarenta e os últimos sessenta salmos usam quase exclusivamente Javé, ao passo que os demais cinqüenta, do meio, empregam geralmente Eloim. Ora (e isto é de importância capital), pode-se demonstrar com vários argumentos que também naqueles salmos, agora eloísticos, originalmente no lugar de Eloim havia Javé. Mais de um salmo da seção javista é repetido na eloísta (um "duplicado" análogo aos do Pentateuco) sem outra variante, ou quase, senão justamente esses nomes divinos. Ora, assim como ninguém duvida que os salmos assim repetidos, por exemplo, 13 e 52 sejam do mesmo autor, assim também não está provado que seções javistas e eloístas no Pentateuco devam pertencer a autores diferentes.
A língua e o estilo não dependem unicamente do autor, mas também do assunto e do gênero literário. Santo Agostinho ditava os seus trabalhos dogmáticos de modo diverso dos seus sermões populares. O Deuteronômio, que, é a promulgação oral de uma lei, em reunião pública, não pode ter o estilo lapidar de um código gravado em tábuas, nem as disposições rituais do código sacerdotal têm que se amoldar às leis civis do código da aliança (Ex cc. 21-23). A variedade, por maior que seja, não se opõe à unicidade substancial do autor. Além disso, não está excluído, como veremos, o emprego de fontes e de colaboradores que também deixam a sua marca na obra definitivamente concluída.
Distinguimos duas espécies dos chamados duplicados: duas vezes ocorre um fato semelhante (duplicado real), ou duas vezes narra-se o mesmo fato (duplicado literário); para a questão de unicidade ou pluralidade de autor, somente a segunda espécie tem valor. Ora, que, por exemplo, a beleza de Sara tenha excitado duas vezes, em duas cidades diversas, a cobiça de um déspota oriental (Gên 12 e 20) nada tem de improvável. É também positivamente verossímil que em quarenta anos mais de uma vez se tenha verificado a passagem das codornizes nas suas migrações através do deserto (Ex 16; Núm 11); estes são duplicados reais. Cumpre examinar, assim, caso por caso. Para a repetição em que o mesmo ato não pareça admissível, isto é, em se tratando de verdadeiros duplicados literários, tem valor a solução que delinearemos mais adiante.
É ínsito em toda lei, civil ou religiosa, que, permanecendo inalterados os pontos fundamentais, em muitos outros esteja sujeita a variações com o decorrer do tempo e as mudanças de circunstâncias. Nem a lei mosaica podia escapar a essa necessidade quase vital. Mas o próprio texto apresenta a razão das variações observadas no Pentateuco. Desde a primeira legislação no Sinai (código da aliança) e a segunda, às margens do Jordão, o Deuteronômio, passam-se cerca de quarenta anos, e, o que mais importa, o povo de Israel, no fim desse período, encontra-se prestes a sofrer uma profunda transformação, ao passar da vida nômade ou pastoril, à sedentária e agrícola. Impunha-se, portanto, uma adaptação do antigo direito às novas condições. Da não observância rigorosa, durante séculos, da lei deuteronômica sobre a unicidade do altar, não prova de per si que não existisse. De resto, um ou outro acréscimo ou modificação pode ter-se introduzido com o tempo nas leis mosaicas sem derrogar ou diminuir a paternidade de Moisés do Pentateuco.
A escola crítica, portanto, não provou, contra o testemunho claro da própria Bíblia, a sua tese de que o Pentateuco em nada pertence a Moisés. Das discrepâncias, quaisquer sejam, de vocabulário, de estilo, de leis, dão-se outras explicações conciliáveis com a autenticidade mosaica. No Gênesis, por exemplo, não se lhe opõe a distinção de fontes, pois trata-se de acontecimentos anteriores a Moisés, transmitidos, ao menos em grande parte, oralmente (talvez também, parcialmente, por escrito) às gerações do povo de Israel, cujas memórias o grande legislador teria registrado, deixando às narrações o seu matiz original. Um exemplo claro deste gênero temo-lo no capítulo 14 (expedição de Abraão e encontro com Melquisedec), de características tão individuais, que a crítica o atribui a uma fonte especial, não pertencente a nenhuma das quatro habituais. No tocante aos quatro livros posteriores, que versam exatamente sobre os tempos de Moisés, já indicamos as razões que explicam as particularidades estilísticas de dois grandes documentos legislativos, o Código sacerdotal e o Deuteronômio.
Outra hipótese, baseada na analogia do Saltério, é a seguinte: o Pentateuco, composto inteiramente por Moisés, parte baseado em suas recordações, parte em documentos fornecidos pela tradição e pela casta sacerdotal, propagou-se na sociedade hebraica; e, durante a transmissão, sofrendo modificações na forma, em nada insólitas na transcrição de obras literárias, chegou, com o tempo, a receber, em dois pontos diversos da área israelita, por exemplo, no reino de Efraim e no reino de Judá, duas formas um tanto diferentes; em uma delas, entre outras coisas, o primitivo nome de Javé foi substituído por Eloim. Mais tarde (no reinado de Ezequias ou Josias), quando se sentiu a necessidade ou a oportunidade de unificar as duas recensões, um redator fundiu-as, extraindo ora desta ora daquela, muitas vezes contentando-se com justaposições, sem alterar as feições próprias de cada uma. Destarte explicar-se-iam os fenômenos que levaram a acreditar na existência de fontes diversas.
Gênesis
O objetivo histórico do livro de gênesis é proporcionar uma narrativa autentica da origem do homem ao ser criado por Deus, sua queda no pecado e conseqüências, retratar a introdução ao reino de Deus e dos programas redentores na terra.
Já o Objetivo teológico é salientar a soberania de Deus sobre toda a criação e enfatizar a responsabilidade do homem para com Deus. Sendo que a obidiência resulta em graça e a rejeição e rebeldia acarreta o julgamento divino.
Gênesis narra as primeiras origens do mundo, do gênero humano, do povo hebreu, tudo relacionado com Deus, com sua revelação, com seu culto. Deus cria o universo, revela-se aos primeiros homens, Deus escolhe uma família (Abraão e sua descendência), para no seio dela conservar e desenvolver os germes da primitiva revelação e a verdadeira religião, no intuito de preparar a solene revelação do Sinai, narrada no Exodo.
A criação do céu e da terra (1:1-2:3), é como que o prólogo do grandioso drama, que se divide em duas partes, e tem por protagonistas os cinco grandes patriarcas: Adão e Noé, patriarcas do gênero humano; Abraão, Isaac e Jacó, patriarcas do povo hebreu.
O todo é enquadrado pelo autor sagrado em dez tábuas genealógicas (2:4, 5:1, 6:9, 10:1, 11:10, 11:27, 25:12, 25:19, 36:1, 37:2) dispostas de tal modo que, após ter registrado os ramos secundários da propagação humana, volta a narrar difusamente os destinos do ramo patriarcal, isto é, da descendência eleita, portadora da revelação divina e da verdadeira religião.
O Gênesis abrange na sua narração uma longa série de séculos, e colocando (no tronco principal das suas genealogias) ao lado dos nomes também números de anos, forneceria os elementos de uma cronologia. Infelizmente as cifras não parecem bem conservadas, porque nos números dos capítulos 5 e 11 os três textos independentes: o hebraico, o samaritano e o grego divergem entre si. Baseando-se sobre o seu texto, os gregos do império bizantino colocavam a criação do homem 5508 anos a.C. Os hebreus ainda usam uma era que no mesmo período conta 3760 anos. As ciência antropológicas exigem um tempo assaz maior para a existência do homem sobre a terra. A Bíblia não é contrária a resultados certos de tais ciências, também porque as listas genealógicas do Gênesis poderiam ser incompletas, ou seja, com omissões de elos intermediários.
Do nascimento de Abraão à descida dos israelitas ao Egito - 290 anos (Gên 21:5 + 25:26 + 47:28), a cronologia respectiva é mais ou menos certa. Para a cronologia absoluta (baseada na era vulgar) ter-se-ia um ponto fixo no sincronismo de Abraão com Hamurabi, o célebre rei da Babilônia, cujo famoso código de leis foi descoberto em 1902. A identificação, porém, de Amrafel, rei de Senaar (Gên 14:1), com Hamurabi da Babilônia, é hoje mais do que duvidosa; tampouco a data do reinado deste último está definitivamente fixada; atualmente tende-se a colocar-lhe o início por volta de 1728 a.C. Tomando como ponto de partida a data em que os israelitas saíram do Egito sob o faraó Menefta pelo ano de 1200 a.C., e remontando o curso dos séculos com os dados da própria Bíblia (Ex 12:40 e passagens acima citadas), Abraão teria nascido por volta de 1900 a.C., mas não é certo qual seja o faraó do Êxodo.
Muitas páginas do Gênesis têm correspondência nos monumentos babilônicos e egípcios: nos primeiros, a história primitiva, isto é, os primeiros 11 capítulos; nos egípcios, o resto, especialmente a história de José (37-50). Com os dois primeiros capítulos (a criação) têm algo de semelhante vários poemas babilônicos entre si discordantes e que são uma, fantasiosa mitologia de crasso politeismo; quão mais sublime pela nobreza de pensamento é a prosa simples da Bíblia! Também a tradição babilônica conhece dez reis, como Gên 5, dez patriarcas, de vida longuíssima antes do dilúvio. Este cataclisma foi narrado em muitas lendas babilônicas, uma das quais foi inserida no romanesco poema "Gilgames," assim chamado por causa do herói protagonista. Os pontos de contato com a narração bíblica (Gên 7:8) são numerosos e típicos. A narração da torre de Babel (Gên 11:1-9) é toda tecida de elementos babilônicos; mas um paralelo exato não foi ainda encontrado na literatura cuneiforme. Nada ainda se encontrou nessa literatura de verdadeiramente análogo à narração do paraíso terrestre e da queda do homem (Gên 3).
Nos monumentos, egípcios temos representadas muitas cenas semelhantes às narradas no Gên cc. 12:37-50.
Êxodo
O principal objetivo de Êxodo é descrever como Deus livrou Israel da servidão e da idolatria no Egito, conduzindo-o a um lugar de destaque como povo seu. O segundo livro do Pentateuco toma o nome de Êxodo da saída dos hebreus do Egito, onde, depois dos bons tempos de José, passaram a sofrer a mais dura escravidão. Esse acontecimento, porém, nada mais foi do que o prelúdio de fatos muito mais importantes na vida dos filhos de Israel, os quais, de um conglomerado de famílias que eram, recuperando a liberdade, conquistaram verdadeira unidade de nação independente e receberam uma legislação especial, uma forma de vida moral e religiosa, pelas quais se distinguiram de todos os outros povos da terra.
Com toda facilidade compreender-se-á a importância deste livro, sobretudo em se pensando que, se a história civil das nações, mormente as antigas, acha-se intimamente vinculada à religião e essa à moral, isto jamais foi tão verídico como a respeito dos hebreus. As leis contidas no Êxodo formam a essência da vida civil e religiosa do povo eleito.
É bem verdade que, de todas essas leis, e especialmente as do chamado código da aliança (21:23), foram encontradas analogias notáveis no código de Hamurabì (rei babilônico, que viveu alguns séculos anteriormente a Moisés), que foi descoberto, traduzido e publicado pelo dominicano Pe. Scheil, em 1902. De tais analogias não se infere, porém, em absoluto, como pretendem alguns, a dependência do código mosaico do babilônico. Elas têm sua explicação adequada nos fatores comuns às duas sociedades, israelita e babilônica, tão próximas no tempo, no lugar e também na origem, pois os patriarcas do povo hebreu procediam do vale do Tigre.
Realmente, na legislação decretada no Sinai, nem tudo foi criado desde a raiz; muitos usos e costumes já introduzidos na prática social foram confirmados pela aprovação divina. De resto, também nas famosas leis romanas das doze tábuas descobrem-se semelhanças com o código mosaico, sem que ocorra a alguém o pensamento de querer estabelecer um parentesco entre as primeiras e o segundo. Providências semelhantes surgem espontaneamente de necessidades sociais do gênero. No decálogo, porém, e na doutrina religiosa que lhe forma a base inconcussa (20:2-17), reside a verdadeira prerrogativa do povo de Israel; nada de semelhante se encontra em nenhum outro povo. Citam-se, é certo, da literatura egípcia; certas desculpas espirituais como: "Não cometi injustiça, não roubei, não matei" etc., ou da babilônia, os esconjuros, onde se pergunta se o exorcizado ultrajou alguma divindade, se desprezou pai e mãe, se mentiu ou praticou obscenidades etc. Mas não há proporção entre os protestos de um particular para evitar o castigo (finalidade daquelas fórmulas rituais) e a autoridade soberana que impõe a lei a todo um povo. Entre os próprios egípcios e babilônios, nada há de correspondente, na legislação, àquelas fórmulas cerimoniais. O decálogo de Moisés não tem rivais no mundo.
Pelas razões citadas, os acontecimentos narrados no Êxodo tiveram um eco enorme na memória das tribos israelitas. Em quase todas as páginas do Antigo Testamento são recordadas a libertação da escravidão do Egito, a prodigiosa passagem do mar Vermelho, os golpes tremendos com os quais foi dominada a tenaz oposição do opressor egípcio, as grandiosas manifestações divinas no Sinai, o sustento milagroso de povo tão numeroso no deserto. Daí Israel deduzia os motivos mais fortes para ser grato e fiel a Deus,, e conservar uma confiança inabalável na sua providência soberana e nos seus próprios destinos.
A cronologia do Êxodo, ou seja, o ano em que os hebreus saíram do Egito, está naturalmente ligada à história desse país. Mas, já que a Bíblia não fornece os nomes dos dois faraós, o da opressão (1:8, 2:23) e o da saída (14:5), duas opiniões diversas se equilibraram entre os doutos, com autoridade e número de defensores quase iguais. Para uns, o opressor seria Totmés 3 (1500-1450) e o outro Amênofis 2 (1447-1420), da XVIII dinastia; para outros, no entanto, Ramsés II (1292-1225), da XIX dinastia, teria oprimido ns hebreus, e seu sucessor, Menefta (1225-1215); tê-los-ia libertado. A segunda opinião, que estabelece o século XIII a.C. para o Êxodo, parece-nos mais condizente com o texto (1:11) e mais coerente com outros dados da história sagrada e profana.
Levitico
Levítico tem o objetivo singular de convocar o povo de Deus para a santidade pessoal. Este livro traz o nome de Levítico, por tratar quase exclusivamente dos deveres sacerdotais. Poder-se-ia compará-lo a um ritual.
Com exceção de dois trechos históricos (8:10, 24:10-23), compõe-se inteiramente de leis que visam à santificação individual e nacional. Santificação, de per si ritual e exterior, que, porém, simboliza e promove certa santidade interior e moral. Toda a matéria pode ser dividida em cinco partes:
1a Leis relativas aos sacrifícios (1:7). Os sacrifícios são de cinco espécies; duas séries de leis: l" série - o rito de cada sacrifício (1:5), holocausto (1), oblação de vegetais (2), sacrifício salutar (3), sacrifício expiatório (4), sacrifício de reparação (5). 2° série -ireitos e deveres dos sacerdotes em cada espécie de sacrifícios (6-7).
2a Consagração dos sacerdotes (8:9). Nadab e Abiú são punidos por terem usurpado um ofício sagrado (10:1-7). Várias prescrições para os sacerdotes (10:8-20).
3a Leis sobre a pureza legal (11:16) dos alimentos (11), da puérpera (12), da lepra nas pessoas (13:1-46, 14:1-32), nas vestes (13:47-59) e casas (14:33-57); sobre a gonorréia (15). Rito para o dia solene de expiação (16).
4a Leis sobre a santidade (17:23): a) do povo (17:20); matança dos animais, uso do sangue, unicidade do santuário (17); prescrições que regulam os atos sexuais (18); várias prescrições religiosas e morais (19); punição para os transgressores (20); b) dos sacerdotes: núpcias e luto (21:1-15); irregularidades (21:16-24); impureza cerimonial (22:1-16; qualidades das vítimas (22:17-30); conclusão (22:31-33); c) dos dias festivos: solenidades anuais e o sábado (23).
5a Determinações diversas: lâmpadas no santuário e pães da apresentação (24:1-9); pena para o blasfemador (24:10-23); prescrições para o ano sabático e jubileu (25); promessas e ameaças relativas a observância da lei (26); votos e dízimos (27).
O sacrifício, o ato mais sagrado, da religião, isto é, oferecer a Deus vítimas, animais ou vegetais, não foi instituído por Moisés, mas remonta às próprias origens da humanidade (Gên. 4:3-4). Moisés encontrou o seu uso estabelecido e arraigado entre todos os povos. Nas tabuinhas recentemente descobertas em Ras Shamra (antiga Ugarit), na Fenícia setentrional, anteriores alguns séculos a Moisés, são mencionadas espécies idênticas de sacrifícios, até mesmo com nomes iguais (afinidade das duas línguas) aos do Pentateuco. Moisés, com suas leis, só regulamentou e consagrou ao culto do verdadeiro Deus um cerimonial já praticado, deixando ainda toda essa legislação dos sacrifícios separada das condições essenciais do pacto celebrado entre Deus e o seu povo (Ex 19:23). Nesse sentido deve-se entender aquele protesto do próprio Deus contra os judeus, por boca de Jeremias (7:22-23): "Em matéria de sacrifícios e holocaustos, eu nada disse e nada ordenei aos vossos pais ao tirá-los do Egito; dei-lhes somente esta ordem: Escutai a minha voz; eu serei vosso Deus e vós sereis o meu povo, cf. Èx 19:5).
Nada, portanto, impede atribuir-se ao próprio Moisés a legislação cerimonial do Levítico, embora seja óbvio que não a tenha escrito toda de uma vez e se tenha servido, para a fixar, da obra de algum sacerdote ou levita de profissão. Nem se exclui que algumas destas leis tenham recebido em tempos posteriores modificações e acréscimos.
Devemos observar ainda, que todas essas leis cerimoniais foram elaboradas depois de Jesus Cristo. Entretanto, os sacrifícios da antiga lei haviam prefigurado o seu sublime sacrifício na cruz, no qual, único e perfeito sacrifício, teve cumprimento toda a variedade dos sacrifícios do Antigo Testamento. Ou melhor, como nos ensina S. Paulo (Hebr 9:9, 10:10), os sacrifícios levíticos recebiam sua principal eficácia de aplacar a Deus daquele valor figurativo, pois que "é impossível que, por si só, o sangue dos touros e dos cabritos cancele os pecados" (Hebr 10:4). Considerados nó seu significado típico e simbólico, os ritos escritos no Levítico continuam e continuarão a ser instrutivos.
Números
O objetivo de Moisés em números foi preservar um registro da paciência de Deus para com o povo que ele escolhera , e demonstrar que a redentora misericórdia divina não impediu que Ele os castigasse severamente por seus pecados. O quarto livro do Pentateuco recebeu o nome de Números (em grego Arithmoi, que aqui tem o sentido de "recenseamentos") por causa dos "recenseamentos" (1:1-4:26), que são próprios deste livro e que lhe dão a sua feição particular. Contém, além disso, alguns fatos que se ligam imediatamente aos acontecimentos narrados no Éxodo, e leis semelhantes às do Levítico. Pode ser dividido facilmente, de acordo com os lugares e tempos, em três partes: no Sinai (1:1-10:10); viagens através do deserto (10:11-21:35); na margem oriental do Jordão (22:36).
1a parte. No Sinai: disposições para a partida: 20 dias. Recenseamento das tribos e respectivas posições no acampamento (1:2). Os levitas: seu destino e recenseamento; divisão por famílias e por ofícios. Leis: banimento dos impuros, restituições, ciúmes, nazireato, bênção litúrgica. Últimos fatos: donativos dos chefes das tribos ao santuário, consagração dos levitas, segunda Páscoa (9:1-14), sinais para a partida e para a parada, as trombetas (9:15-10:10).
2a parte. Viagem através do deserto: Do Sinai a Cades: partida e ordem de marcha (10:11-36), murmuração do povo, as codornizes, a lepra de Maria, irmã de Moisés. Parada em Cades: missão dos doze exploradores e queixas do povo; leis sobre as oblações e primícias, sobre o sábado e os filactérios; sedição de Coré, Datan e Abirão, e sua punição e confirmação do sacerdócio na família de Arão; relações entre sacerdotes e levitas, emolumentos de uns e de outros; a água lustral; sedição do povo por falta de água (20:1-13). De Cades ao Jordão: os edomitas negam passagem pelas suas terras; morte de Arãò (20:14-29); queixas do povo e castigo, a serpente de bronze (21:1-9); vitória sobre os amorreus e conquista de Basan (21:10-35).
3a parte. Na margem oriental do Jordão: cerca de cinco meses. A matéria desta parte, mais por ordem lógica do que por ordem do texto, pode ser assim agrupada: últimos encontros com os povos da Transjordânia; Balaão e seus vaticínios (22:24); prostituição a Beelfegor (25); guerra santa contra os madianitas e leis sobre a divisão dos despojos (31); lista das etapas (33). Grupo de leis: herança (27:1-11), festas e sacrifícios (28:29), votos (30). Disposições para a ocupação da terra prometida. Segundo recenseamento (26); nomeação de Josué (27:12-23). Distribuição da Transjordânia (32); normas para a ocupação e distribuição da Cisjordânia (33:50-34:12); designação das cidades levíticas e de refúgio (35); disposições para manter inalterada a primitiva distribuição (36).
A julgar pelo resumo, o presente livro compreende um período de cerca de trinta e oito anos e meio. Sobre a maior parte desse período (os trinta e oito anos no deserto) narra-nos apenas uns poucos fatos, mas muito notáveis pelo significado religioso, como a serpente de bronze, a sedição de Coré, os vaticínios de Balaão, a.água brotada da rocha; fatos dos quais os apóstolos no Novo Testamento tiraram utilíssimas lições (1Cor 10:1-11; Hebr 3:12-19; Jo 3:14-15). No centro do drama acham-se dois fatos semelhantes entre si, duas sedições do povo contra Moisés, executor das ordens divinas; a primeira (14), originada pela repugnância em empreender a conquista da Palestina; a segunda (20), por falta de água. Conseqüência ou punição da primeira foi a longa demora da nação inteira no deserto da península sinaítica; a segunda deixou a mais profunda impressão na consciência nacional e na literatura posterior (cf. SI 80:94-105), envolvendo o próprio Moisés, que por um instante duvidou da clemência divina e por isso teve de deixar a outros o remate de sua obra, a conquista de Canaã (cf. Dt 32).
O livro dos Números é importante para a literatura porque, entre outras coisas, nos conservou fragmentos de antiquíssimos cânticos populares (21:23-24), com a indicação de coleções - já existentes, como "o Livro das guerras de javé" (21:14), do qual não se tem outra menção.
Deuteronômio
O Objetivo de Moisés ao escrever o livro era o de preparar a nova geração de Israel para viver em Canaã mediante uma reafirmação de uma lei Sinaíta. O quinto e último livro do Pentateuco foi chamado Deuteronômio, isto é, "segunda lei," talvez porque assim tenha sido traduzida, embora inexatamente pelos LXX, uma frase hebraica em 17:18. No entanto, convém-lhe perfeitamente esse nome. O livro não é uma simples repetição da legislação contida nos livros precedentes, mas além de leis novas, oferece complementos, esclarecimentos e modificações às primeiras. É, de certo modo, uma segunda lei, promulgada no fim da longa peregrinação dos israelitas, paralela á lei dada no Sinai e destinada a regular mais de perto a vida do povo escolhido, no solo da Terra Prometida à qual eles estavam para chegar e dela tomar posse definitiva. Não é, porém, simples enumeração de leis e determinações; o que caracteriza esse livro, o que lhe constitui a alma, é um ardente sabor oratório. O hagiógrafo nos faz ouvir um Moisés que exorta, encoraja, invectiva; inculca á observância das leis, a começar dos grandes princípios morais; apela para os mais poderosos motivos, evoca a glória do passado, a missão histórica de Israel, os triunfos do porvir. Na mente do autor sagrado temos o testamento definitivo, que o grande guia e legislador deixa ao povo de Deus às vésperas da sua morte. Pelo estilo, o Deuteronômio é um discurso, ou melhor, vários discursos, dirigidos por Moisés aos israelitas. Deduz-se daí a divisão do livro em quatro partes:
1a parte: 1° discurso (1:4): olhar retrospectivo aos fatos acontecidos desde a partida do Horeb até às últimas conquistas da Transjordânia; exortação geral à observância da lei (4:1-40).
2a parte: 2° discurso: renovação da lei (4:44-26:19). Princípios gerais: o Decálogo (5), o culto e o amor ao único Deus verdadeiro (6), guerra à idolatria (7), benefícios de Deus, censura da infidelidade anterior de Israel, promessas e ameaças (8:11).
Leis especiais: Deveres religiosos. Unicidade do santuário e disposições relativas (12:1-28); contra a apostasia (12:29-13:18); alimentos e dízimos (14); ano da remissão (15); as três grandes solenidades anuais (16:1-17).
Direito público. Juizes (16:18-17:13), rei (17:14-20), sacerdotes (18:1-8),.profetas (18:9-22); homicídio involuntário (19), guerra (20), homicídio por mão desconhecida (21:1-9). 3) Direito familiar e privado. Grande variedade; os pontos principais são: matrimônio (21:10-14, 22:13-23,) e filhos (21:15-20), o divórcio (20:1-4), levirato (25:5-10), deveres de humanidade (22:1-12, 23:16-20, 24:6-25, honestidade (25:11-19), votos (23:22-24), primícias e dízimos (26).
3a parte: 3° e 4° discursos: ordem de promulgar a lei em Siquém, maldições para os transgressores (27), ameaças e promessas (28). Exortação à observância da lei, com a recordação dos fatos históricos, das promessas e das ameaças (29:30).
4a parte. Apêndice histórico. últimas disposições de Moisés, nomeação de Josué, seu sucessor (31); cântico de Moisés (32), bênção das doze tribos (33), morte de Moisés (34).
Amor de Deus, beneficência, alegria no cumprimento do dever, eis as principais características do Deuteronômio, princípios inculcados e repetidos com solicitude incansável. Por isso, perpassa-o um sopro ardente de sincera e profunda piedade para com Deus e uma ternura simpática pelo homem, que edifica e comove. Há páginas que se aproximam da sublimidade divina dos ensinamentos evangélicos, mais do que quaisquer outras.

2) De acordo com o Livro de Josué e Juízes, fale sobre os Juízes e da cidade de refúgio.

Josué, foi filho de Num, da tribo de Efraim e sucessor de Moisés como líder de Israel. Em Nm 13:16, é chamado Oséias.
Nasceu no Egipto e era provavelmente da idade de Calebe, a quem é frequentemente associado. Participou em todos os acontecimentos relacionados com o Êxodo e ocupou a posição de comandante do exército israelita na batalha contra os amalequitas, em Refidim (Ex 17:8-16). Tornou-se no ajudante de Moisés, tendo-o acompanhado parte do caminho, quando ele ascendu ao Monte Sinai, a fim de receber as duas tábuas da lei (Ex 32:17). Foi também um dos doze que Moisés enviou a espiar a terra de Canaan (Nm 13:16, 17) e somente ele e Calebe trouxeram um relatório favorável. Sob a direcção de Deus, Moisés, antes da sua morte, investiu Josué de um modo solene e público, com autoridade sobre o povo e como seu sucessor (Dt 31:23). O povo estava acampado em Sitim, quando ele assumiu o poder (Js 1:1) e, ao atravessarem o Jordão, acamparam em Gilgal onde, tendo circuncidado o povo, festejou a Páscoa e foi visitado pelo capitão do exército do Senhor, que o encorajou na sua missão (Js 1:1; Js 12:24). Tendo, assim, subjugado os cananeus, Josué dividiu a terra pelas tribos e Timnate-Sera, no Monte Efraim, ficou para ele como herança.
Tendo terminado a sua obra, Josué morreu com a idade de 110 anos, 25 anos depois de ter atravessado o Jordão e foi sepultado na sua cidade de Timnate-Sera (Js 24); e “a luz de Israel esmoreceu”.
Josué tem sido visto como um tipo de Cristo (Hb 4:8), devido aos seguintes pontos: 1) o nome é comum aos dois; 2) Josué traz o povo para a Terra Prometida e Jesus levará o seu povo para a Canaan Celestial; e 3) tal como Josué sucedeu a Moisés, também o Evangelho sucede à lei.
O carácter de Josué é, assim, bem esboçado por Edersheim: “Nasceu escravo no Egipto e tinha cerca de quarenta anos quando se deu o Êxodo. Muito ligado a Moisés, liderou Israel na sua primeira e decisiva batalha contra Amaleque (Ex 17:9, 13), enquanto Moisés elevava ao céu a “vara” dada por Deus. Foi nessa ocasião que o seu nome foi mudado de Oséias - “ajuda” - para Josué - “o Senhor ajuda” (Nm 13:16). E este nome é a chave da sua vida e obra. Desde a ida para Canaã, passando pelas suas guerras e pela distribuição da terra pelas tribos, incluindo a miraculosa travessia do Jordão e a tomada de Jericó, ele foi a personificação do seu nome: Jeová é ajudador”. O seu carácter também correspondeu ao seu nome. Foi marcado pela singeleza de propósitos, pela franqueza e decisão. Tendo um objectivo perante ele, segue-o com firmeza.

JEFTÉ
“Homem valente e valoroso”, que livrou Israel da opressão dos amonitas (Jz 11:1-33) e julgou o povo durante seis anos (Jz 12:7). É descrito como “um montanhês de Gileade, ousado e bravio, uma espécie de Elias guerreiro”. Após 45 anos de calma, Israel novamente apostatou e, “com o tempo, os filhos de Amom declararam guerra contra Israel” (Jz 11:5). Desesperados, os anciãos de Gileade foram buscar Jeftá a Tobe, para onde ele fugira depois que os irmãos lhe negaram participação na herança do seu pai (2) e o povo fez dele seu príncipe e capitão. Os “anciãos de Gileade” convocaram-no para que os ajudasse e logo ele tomou a seu cargo o comando da batalha contra Amom. Mandou, por duas vezes, uma embaixada ao rei de Amom mas em vão. A guerra era inevitável. O povo obedeceu ao seu chamado e “o espírito do Senhor veio sobre ele”. Antes de se envolver na guerra, ele fez um voto, dizendo que se voltasse em paz da guerra com os amonitas, ofereceria em holocausto aquilo que, da sua casa, primeiro lhe saísse ao encontro. Os amonitas foram derrotados. “Ele os feriu com grande mortandade desde Aroer até chegar a Minite, vinte cidade e até Abel-Queramim” (Jz 11:33). Os homens de Efraim sentiram-se insultados por não terem sido chamados por Jeftá para a batalha contra Amom. Isto levou à guerra entre os homens de Gileade e de Efraim (Jz 12:4) e na qual os efraimitas morreram. “Então morreu Jeftá, de Gileade e foi sepultado numa das cidades de Gileade” (7).

SANGAR
Os filisteus da planície marítima fizeram várias incursões contra a região montanhosa hebraica do interior com o propósito de a saquear, quando alguém com este nome chefiou um grupo com o objectivo de libertar a terra desta opressão. Ele repeliu a invasão, matando 600 homens com “uma aguilhada de bois”. O aguilhão era um instrumento pontiagudo, às vezes com dez pés de comprimento. É provável que, durante algum tempo, tenha sido contemporâneo de Débora e Baraque (Jz 3:31; Jz 5:6).

SANSÃO

Filho de Manoá. Nasceu em Zorá. A narrativa da sua vida é feita em Jz 13-16. Era “nazireu de Deus” desde o seu nascimento, sendo o primeiro nazireu a ser mencionado na Bíblia (Jz 13:3-5; comp. Nm 6:1-21). O primeiro evento da sua vida a ser registado foi o seu casamento com uma filisteia de Timnate (Jz 14:1-5). Tal casamento não era proibido pela lei de Moisés, pois os filisteus não faziam parte das sete nações cananeias condenadas à destruição (Ex 34:11-16; Dt 7:1-4). Foi, contudo, um casamento não abençoado e pouco feliz. Não demorou a que a sua mulher lhe fosse tirada e “dada ao seu companheiro” (Jz 14:20). Sansão vingou-se e queimou as “searas dos filisteus” (Jz 15:1-8) que, por sua vez, como vingança, “queimaram a fogo a ela e a seu pai”. Sansão vingou, de um modo terrível, a morte dela (Jz 15:7-19). Nos vinte anos que se seguiram, ele julgou a Israel; mas nada se sabe sobre a sua vida. Talvez estes vinte anos tenham coincidido com os últimos vinte anos da vida de Eli. Depois disto, temos um registo das suas façanhas em Gaza (Jz 16:1-3), da sua paixão por Dalila, da traição desta (Jz 16:4-20) e, depois, da sua morte (Jz 16:21-31). Morreu juntamente com os seus inimigos, na última e terrível destruição que trouxe sobre eles. “E foram mais os mortos que matou na sua morte (em importância política e social = elite do povo) do que os que matara na sua vida”.
“Esforçando todos os seus nervos, ele inclinou-se: como que com a força reprimida de ventos e de águas, quando as montranhas tremeram, aqueles dois pilares maciços, em horrível convulsão, ele arrancou, até que caíram, derrubando todo o tecto sobre eles, como o ribombar de um trovão sobre as cabeças de todos os que ali se encontravam, Senhores, damas, capitães, conselheiros ou sacerdotes, os eleitos da sua nobreza”.

OTNIEL

O segundo dos juizes. A sua mulher Acsa era filha de Caleb (Js 15:16, 17; Jz 1:13). Casou com ela como recompensa pela sua bravura, ao comandar uma expedição bem sucedida contra Debir. Cerca de trinta anos após a morte de Josué, os israelitas ficaram sujeitos a Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia. Ele oprimiu-os durante oito anos, altura em que “choraram” perante Jeová e Otniel saiu em sua ajuda. Era o irmão mais novo de Caleb (Jz 3:8, Jz 9-11). É o único juiz mencionado e de quem se diz estar relacionado com a tribo de Judá. Sob o seu comando, a terra descansou durante quarenta anos.

GIDEÃO

Também conhecido por Jerubaal (Jz 6:29,32). Foi o primeiro dos juizes a ter a sua história narrada nas Escrituras (Jz 5:1-8:35). O seu chamado marca o início do segundo período da história dos juizes. Após a vitória que Débora e Baraque conseguiram sobre Jabim, Israel novamente se afundou na idolatria e os midianitas, os amalequitas, assim como os outros "filhos do Este", atravessaram o Jordão todos os anos, durante sete anos consecutivos, com o objectivo de pilharem e assolarem a terra. Gideão recebeu um chamado directo de Deus para que levasse a cabo a tarefa de libertar a terra daqueles invasores dados à guerra. Era da família de Abiezer (Js 17:2; 1Cr 7:18) e da pequena cidade de Ofra (Jz 6:11). Primeiro, acompanhado de dez dos seus servos, ele derrubou os altares de Baal e o bosque que estava perto deles, fazendo, depois, soar a trombeta de alarme. O povo, então, reuniu-se no cimo do Monte Gilboa, sendo em número de 22.000 homens. Estes, contudo, ficaram reduzidos a 300. Este exército armado com tochas, cântaros e buzinas desceram rapidamente de três pontos diferentes do campo de Midiã, à meia noite, no vale a norte de Moré, gritando: "Pelo Senhor e por Gedeão" (Jz 7:18). Aterrorizados, os midianitas ficaram confundidos e na escuridão, mataram-se uns aos outros, de modo que, de um exército de 120.000 homens, somente 15.000 escaparam com vida.
A recordação desta grande libertação impressionou grandemente a nação (1Sm 12:11; Sl 83:11; Is 9:4 e Is 10:26; Hb 11:32). E a terra descansou durante 40 anos. Gedeão morreu bem velho e foi sepultado junto de seus pais. Pouco depois da sua morte, houve outra mudança. O povo novamente se esqueceu de Jeová e começou a adorar a Baalim, "nem usaram de beneficência com a casa de Jerubaal" (Jz 8:35). Gedeão teve setenta filhos, uma descendência tristemente degenerada e fraca, com excepção de Abimeleque, que parece ter tido muita da coragem e energia do seu pai, embora tivesse uma ambição inquieta e sem escrúpulos. Juntou um grupo de homens à sua volta e matou todos os filhos de Gedeão em cima duma pedra, com excepção de Jotão.


3) Comente sobre o início do reinado sob Saul e Davi e como estes chegaram a tornar-se reis.

Quanto a Saul:

Saul, significa chamado, ele foi Filho de Cis, da tribo de Benjamim e o primeiro rei da nação israelita. As circunstâncias providenciais relacionadas com a sua eleição como rei estão registadas em 1Sm 8-10. As jumentas do seu pai tinham-se perdido e Saúl foi enviado, juntamente com um criado, para as procurar. Deixando a sua casa em Gibeá (1Sm 10:5, “o outeiro de Deus”, V.A.; Lit., na V.R., “Gibeá de Deus”), Saúl e o seu servo dirigiram-se para noroeste, para a montanha de Efraim e depois, virando para nordeste, chegaram “à terra de Salisa”. Indo, então, mais para este, dirigiram-se à terra de Saalim, passando depois pela terra de Zufe, perto da casa de Samuel em Ramá (1Sm 9:5-10). Nesta altura, Saúl propôs-se a voltar para casa, após uma busca infrutífera, mas o seu servo sugeriu que fossem primeiro consultar o “vidente”. Ouvindo que ele estava prestes a oferecer um sacrifício, ambos se apressaram na direcção de Ramá e “eis que Samuel lhes saiu ao encontro”, a caminho do “bamah”, i.e., o “alto”, onde iria oferecer o sacrifício. E, em resposta à pergunta de Saúl: “Mostra-me, peço-te, onde está aqui a casa do vidente”, Samuel deu-se a conhecer. Samuel fora divinamente preparado para se encontrar com ele (1Sm 9:15-17) e recebeu Saúl como um convidado. Levou-o consigo para o sacrifício e depois da festa, “falou com Saúl sobre o eirado”, sobre tudo o que lhe ia no coração. No dia seguinte, Samuel “tomou um vaso de azeite e lho derramou sobre a cabeça”, ungindo Saúl como rei de Israel (1Sm 9:25-10:8) e dando-lhe sinais de confirmação do seu chamado para ser rei. Quando Saúl chegou a sua casa em Gibeá, o último destes sinais cumpriu-se. O Espírito de Deus veio sobre ele e “Deus lhe mudou o coração em outro”. O simples provinciano transformou-se no rei de Israel. Deu-se, repentinamente, uma mudança notável no seu comportamento e o povo perguntou admirado, ao observar o robusto filho de Cis: “Está também Saúl entre os profetas?” Um dito que se transformou num “provérbio” (comp. 1Sm 19:24).
O povo ainda desconhecia a conversa entre Saúl e Samuel. A “unção” tinha sido feita em segredo. Mas chegara o tempo em que deveria ser confirmada pela nação. Assim, Samuel reuniu o povo em assembleia solene “perante o Senhor” em Mizpá. Foram lançadas sortes (1Sm 10:17-27), que recaíram sobre Saúl e quando ele foi apresentado ao povo, o homem mais imponente de todo o Israel, o povo jubilou, dizendo: “Viva o rei!” Ele, então, voltou para sua casa em Gibeá, acompanhado por uma espécie de guarda-costas, “aqueles cujo coração Deus tocara”. Quando lá chegou, Saúl mandou-os embora e voltou à sua vida anterior.
Pouco depois disto, ao ouvir falar da conduta de Naás, o amonita, em Jabes-Gileade, formou um exército de todas as tribos de Israel, tendo-se reunido, a seu pedido, em Bezeque e ele os conduziu para a batalha, vencendo os invasores amonitas em Jabes (1Sm 11:1-11). Por entre a alegria geral originada por esta vitória, ele foi, então, completamente reconhecido como rei de Israel. A convite de Samuel, “todo o povo partiu para Gilgal e levantaram ali rei a Saúl perante o Senhor em Gilgal”. Samuel ungiu agora oficialmente a Saúl como rei (1Sm 11:15). Embora Samuel nunca tivesse cessado de ser juiz em Israel, a sua obra como tal praticamente terminou nesse momento.
Saúl empreendeu, então, a grande e difícil tarefa de libertar a terra dos seus inimigos filisteus e, para isso, juntou um exército de 3000 homens (1Sm 13:1,2). Os filisteus estavam acampados em Geba. Saúl, com 2000 homens, ocupou Micmás e a montanha de Betel; o seu filho Jónatas, com 1000 homens, ocupou Gibeá, a sul de Geba e, aparentemente sem qualquer indicação por parte do seu pai, “feriu” os filisteus em Geba. Derrotados, os filisteus, que tinham um exército de 30.000 carros e 6000 cavaleiros e “povo em multidão como a areia que está à borda do mar”, acamparam em Micmás e Saúl evacuou o seu exército para Gilgal. Saúl permaneceu em Gilgal durante sete dias, sem tomar qualquer atitude, tal como Samuel lhe dissera para fazer (1Sm 10:8); mas no sétimo dia, tornou-se impaciente à medida que se aproximava o fim do período estipulado por Samuel. Saúl decidiu, então, “oferecer ofertas pacíficas” e Samuel, quando chegou, avisou-o das consequências fatais da sua desobediência, pois ele não esperara o tempo suficiente (1Sm 13:13,14>>).
Quando Saúl, depois que Samuel se foi embora, partiu de Gilgal com os seus 600 homens, tendo os que o seguiam diminuido para este número (1Sm 13:15), a fim de lutar contra os filisteus em Micmás, o seu quartel-general situava-se sob uma romeira em Migrom, defronte a Micmás, tendo somente a separá-los a penha es-Suweinit. Saúl e o seu exército descansaram em Gibeá-Geba, sem saberam o que fazer a seguir. Jónatas ficou impaciente e, com o seu pajem de armas, planeou um assalto contra os filisteus, sem que Saúl e o seu exército soubessem (1Sm 14:1-25). Jónatas e o seu escudeiro subiram “com os pés e com as mãos” a estreita penha chamada Bozez, onde estava estacionado o exército filisteu. Eles surpreenderam e depois mataram vinte filisteus, que imediatamente se alvoroçaram e fugiram aterrorizados. “Houve tremor no arraial”; um pânico sobrenatural apoderou-se do exército. Saúl e os seus 600 homens, um grupo que rapidamente aumentou para 10.000 homens, apercebendo-se da confusão, perseguiram o exército filisteu e as notícias da batalha atingiram Bete-Aven, a meio caminho entre Micmás e Betel. Os filisteus foram totalmente destruídos. “Assim livrou o Senhor a Israel naquele dia”. Ao perseguir os filisteus, Saúl esconjurou irreflectidamente o povo, dizendo: “Maldito o homem que comer pão até à tarde”. Mas, embora exaustos e desconfiados, os israelitas “feriram, aquele dia, aos filisteus, desde Micmás até Aijalom” (uma distância entre 24 a 32 Km). Jónatas, ao passar por um bosque em perseguição dos filisteus, comeu um pouco de mel que ali havia em abundância (1Sm 14:27). Saúl soube disto mais tarde (1Sm 14:42) e ameaçou matar o seu filho. O povo, porém, interveio, dizendo: “Não lhe há-de cair no chão um só cabelo da sua cabeça”. Aquele a quem Deus tinha tão assinaladamente reconhecido, que “obrou tão grande salvação em Israel”, não devia morrer. “E Saúl deixou de seguir os filisteus e os filisteus se foram ao seu lugar” (1Sm 14:24-46); e, deste modo, terminou a campanha contra os filisteus. Este foi o segundo grande sucesso militar de Saúl.
O reinado de Saúl, contudo, continuou a ser uma quase constante guerra contra os inimigos à sua volta (1Sm 14:47,48), saindo sempre vitorioso. A guerra contra os amalequitas é a única que está registada (1Sm 15). Estes inimigos antigos (Ex 17:8; Nm 14:43-45) de Israel ocupavam o território a sul e a sudoeste da Palestina. Samuel convocou Saúl para que este banisse da terra este cruel e implacável inimigo de Israel, tal como Deus determinara (Dt 25:17-19). A taça da sua iniquidade estava cheia. Esta ordem era “o teste às suas qualificações morais para poder continuar a ser rei”. Saúl propôs-se a executar a ordem divina; e juntando o povo, marchou desde Telaim (1Sm 15:4) contra os amalequitas, que ele feriu “desde Havilá até chegar a Sur”, destruindo completamente “todo o povo ao fio da espada”, i.e., todos os que caíram nas suas mãos. Ele foi, contudo, considerado culpado de rebelião e desobediência, ao poupar Agague, o rei amalequita e ao se mostrar conivente com os seus soldados, que pouparam o melhor das ovelhas e das vacas; e Samuel, seguindo Saúl até Gilgal, no Vale do Jordão, disse-lhe: “Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, Ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei” (1Sm 15:23). O reino foi retirado a Saúl e dado a outro, a David, a quem o Senhor escolhera como sucessor de Saúl e a quem Samuel ungiu (1Sm 16:1-13). A partir desse momento, “o espírito do Senhor se retirou de Saúl e o assombrava um espírito mau da parte do Senhor”. Ele e Samuel separaram-se para só se encontrarem novamente numa das escolas dos profetas.
David foi mandado chamar, por ser um habilidoso tocador de harpa (1Sm 16:16,18), para que tocasse perante Saúl, quando o espírito maligno o perturbasse e foi, assim, apresentado na corte de Saúl. David tornou-se no favorito do rei. Mais tarde, David voltou para casa do seu pai e para a sua ocupação habitual como pastor, durante, talvez, cerca de três anos. Os filisteus mais uma vez invadiram a terra e reuniram o seu exército entre Socó e Azeca, em Efes-Damim, na vertente sul do Vale de Elá. Saúl e o povo de Israel saíram ao encontro deles e acamparam na vertente norte do mesmo vale, que agora se encontrava entre os dois exércitos. Foi aqui que David matou Golias de Gate, o campeão dos filisteus (1Sm 17:4-54), um empreendimento que levou à fuga e derrota total do exército filisteu. Saúl admitiu David permanentemente ao seu serviço (1Sm 18:2), embora se tornasse ciumento por causa dele (vers. 1Sm 18:9) e em muitas ocasiões mostrasse a sua inimizade para com ele (<<1Sm 18:10,11), inimizade essa que Saúl levou ao extremo de tentar, em vão, matar David em várias ocasiões.
Algum tempo depois, os filisteus reuniram-se na planície de Esdraelon e acamparam em Sunem; e Saúl reuniu todo o Israel e “acamparam-se em Gilboa” (1Sm 28:3-14). Sendo incapaz de saber qual era a vontade de Deus, Saúl, acompanhado por dois dos seus homens, dirigiu-se à “pitonisa de Endor”, a cerca de 11 ou 12 Kms de distância. Aqui, ele deixou-se dominar pela aterradora comunicação que lhe é misteriosamente transmitida por Samuel (1Sm 16 a 19), que lhe terá aparecido. “E imediatamente Saúl caiu estendido por terra e grandemente temeu por causa daquelas palavras de Samuel” (1Sm 28:20). O exército filisteu pelejou “contra Israel; e os homens de Israel fugiram de diante dos filisteus e caíram atravessados na montanha de Gilboa “ (1Sm 31:1). Desesperado por causa da desgraça que sobreviera ao seu exército, “Saúl tomou a espada e se lançou sobre ela”. Os filisteus, no dia seguinte, “acharam a Saúl e a seus três filhos estirados na montanha de Gilboa”. Tendo-lhe cortado a cabeça, enviaram-na, juntamente com as suas armas, pela terra dos filisteus e puseram as suas armas no templo de Dagom, em Asdode. Suspenderam o seu corpo sem cabeça, juntamente com o de Jónatas, no muro de Bete-Sã. Os homens de Jabes-Gileade retiraram depois os corpos do muro, queimaram-nos e sepultaram os ossos sob o arvoredo de Jabes. Os restos mortais foram, contudo, depois transferidos para o sepulcro da família em Zelá (2Sm 21:13,14).

Quanto a Davi:

Davi, significa Amado, ele foi o oitavo e filho mais novo de Jessé, um cidadão de Belém. O seu pai parece ter levado uma vida simples. Não está registado o nome da sua mãe. Alguns pensam que é a Náas referida em 2Sm 17:25. Da sua aparência pessoal apenas sabemos que era ruivo, que tinha uns belos olhos e que era formoso (1Sm 16:12 e 1Sm 17:42).
Tinha por ocupação cuidar do rebanho de seu pai, levando-o até às regiões montanhosas do interior de Judá. Do que se sabe da sua história, sem dúvida que se distraía com a sua flauta de pastor, enquanto assim trabalhava, aprendendo com as lições que os vários incidentes que se davam à sua volta lhe ensinavam. Os seus primeiros feitos registados foram os seus encontros com as feras do campo. Ele menciona que matou um urso e um leão, quando estes tentaram atacar o seu rebanho (1Sm 17:34,35).
Enquanto David, na frescura da sua juventude sadia, estava assim ocupado com os seus rebanhos, Samuel fez uma visita inesperada a Belém, tendo sido ali conduzido pela direcção divina (1Sm 16:1-13). Aí ofereceu um sacrifício e chamou os anciãos de Israel e a família de Jessé para que se lhe juntassem. De todos os que foram à sua presença, nenhum era o que Samuel procurava. Mandaram chamar David e o profeta logo o reconheceu como o escolhido de Deus para suceder a Saúl, que se afastara dos caminhos de Deus. Assim, em antecipação, ele ungiu-o e David voltou para a sua vida de pastor. Mas "o Espírito do Senhor se apoderou de David desde aquele dia em diante" e "o Espírito do Senhor se retirou de Saúl" (1Sm 16:13,14).
Não muito depois disto, David foi enviado para o palácio, a fim de, com a sua harpa, acalmar o espírito perturbado de Saúl, que sofria de uma estranha depressão melancólica. Ele tocou tão bem perante o rei, que Saúl logo se alegrou e começou a demonstrar grande afeição pelo jovem pastor. Depois, David voltou para a sua casa em Belém. Mas não demorou a que voltasse a ocupar um lugar de proeminência. Os exércitos filisteus e de Israel encontravam-se em guerra e assentaram arraiais no vale de Elá, a cerca de 26 Km a sudoeste de Belém; e David foi enviado pelo seu pai até ao arraial, a fim de levar provisões aos seus três irmãos, que se encontravam a lutar ao lado do rei. Ao chegar ao local, David (agora com cerca de 20 anos) foi posto ao corrente do que se passava, quando o campeão dos filisteus, Golias de Gate, avançou e desafiou Israel. David pegou na sua funda e com uma pontaria bem treinada, atirou uma pedra "do seu alforge", que atingiu o gigante na testa e ele caiu sem sentidos no chão. David, então, correu para ele e matou-o, cortando-lhe a cabeça com a sua própria espada (1Sm 17:1-58). Como resultado, os israelitas obtiveram uma grande vitória, perseguindo depois os filisteus até às portas de Gate e Ecrom.
A popularidade de David, uma consequência do seu feito heróico, despertou os ciúmes de Saúl (1Sm 18:6-16), ciúmes esses que ele demonstrou de várias maneiras. Gerou-se nele um ódio amargo para com David e através de vários estratagemas, tentou matá-lo. As tramas do rei enfurecido, que não podia deixar de ver como David "prosperava grandemente", mostraram-se inúteis e apenas tornaram o jovem herói mais querido do povo, mas em especial de Jónatas, o filho de Saúl. Entre eles formou-se uma amizade calorosa.
Para escapar à vingança de Saúl, David fugiu para Ramá (1Sm 19:12-18), para junto de Samuel, que o recebeu, passando a viver com os filhos do profeta, que estavam a ser ensinados pelo próprio pai. Supõe-se que os Salmos 6, 7, 11 tivessem sido escritos nesta altura. Este lugar ficava apenas a 5 Km da residência de Saúl, que não demorou a descobrir para onde tinha ido o fugitivo e tentou, em vão, trazê-lo de volta. Jónatas fez um esforço frutífero para conseguir que o seu pai voltasse a relacionar-se bem com David (1Sm 20:1-43) que, ficando ao corrente desse facto, preferiu fugir ainda mais para longe, pois não estava certo de ali se encontrar em segurança. Vamos encontrá-lo primeiro em Nobe (1Sm 21:1-9) e depois em Gate, a principal cidade dos filisteus. O rei dos filisteus não o admitiu ao seu serviço, como ele assim esperava e David, então, instalou-se na caverna de Adulão (1Sm 22:1-4; 1Cr 12:8-18). Aqui e em pouco tempo, juntaram-se-lhe 400 homens, que lhe deram a conhecer que o consideravam como seu líder. Foi nesta altura que David, por entre os tormentos e os perigos da sua posição, gritou: "Quem me dera beber da água da cisterna de Belém"; quando três dos seus valentes romperam pelo arraial dos filisteus e lhe trouxeram a água pela qual ele ansiava (2Sm 23:13-17), ele não a quis beber.
Cheio de raiva por não conseguir apanhar David, Saúl deu ordens para que se massacrasse toda a família sacerdotal em Nobe, "pessoas que usavam o éfode de linho", num total de 85 pessoas, tendo sido mortas por Doegue, o edomita. Abiatar, o filho de Aimeleque, levou as tristes novas do massacre a David, tendo sido ele o único a escapar.
Ao ouvir que Queila, uma cidade na fronteira ocidental, estava a ser atormentada pelos filisteus, David e os seus homens foram até lá, livrando-a dos perigos (1Sm 23:1-14); e depois, com medo de Saúl, ele fugiu para as cavernas da "região montanhosa" de Judá. Enquanto ali esteve acampado, no bosque do distrito de Zife, Jónatas visitou-o, transmitindo-lhe palavras de encorajamento (1Sm 23:16-18). E os dois, então, se separaram para nunca mais se encontrarem. Saúl continuou a perseguir David que, dessa vez, lhe escapou à justa.
Mais tarde estabeleceu-se como rei das 12 tribos, conquistou Jerusalém, aumentou a extensão do território do reino vencendo todas as batalhas em que se empenhou. Apesar de erros graves cometidos durante o seu reinado, David tomou sempre o caminho do arrependimento e o registo dos seus salmos demonstram a devoção que faziam dele um servo de Deus.

4) Leia e faça uma análise do Livro de Daniel com as suas palavras.
O livro de Daniel traz grandes ensinamentos e revelações para aqueles que amam e crêem na palavra de Deus. É um livro altamente profético e cheio de revelações futuras a respeito de Israel e da Igreja do Senhor.
O livro é de autoria do próprio profeta Daniel, durante o período do exílio.
Podemos perceber esta autoria no emprego da primeira pessoas do singular nos capítulos de sete a doze (Dn 7.13,28; 8.1; 9.1,2; 10.2; 11.2; 12.13). Como o livro faz parte de uma unidade, conclui-se que todo o livro foi escrito por Daniel. Além da unidade do próprio livro, há uma unidade temática no mesmo; passagens conhecidas, como por exemplo, a que trata da visão de uma estátua que teve o rei Nabucodonosor a qual foi interpretada por Daniel, desenvolve-se mais precisamente nas visões dadas por Deus ao próprio Daniel na segunda parte do livro.
O próprio Senhor Jesus afirmou a autoria de Daniel em Mt 24.15.
Soma-se ao exposto acima, o fato de que a Igreja apostólica jamais contestou a autenticidade do livro, sendo que o primeiro a questionar a autoria foi um forte oponente ao cristianismo chamado Porfírio de Tito, durante o 3º século da Igreja. Ao longo dos séculos tem sido mantida tradicionalmente a autoria de Daniel pela Igreja cristã.
O livro tem como propósito, encorajar os judeus do exílio babilônico mostrando que Deus, apesar de puni-los, estava no controle de todas as coisas, e que o Senhor tem o domínio sobre o tempo e sobre a história, bem como é soberano sobre cada ser humano individualmente e sobre todos os reinos da terra; logo, os judeus deveriam animar--se, pois Deus os traria de volta a Terra prometida e julgaria todos os reinos. Sendo que o tema do livro é a soberania de Deus sobre a humanidade no decorrer de todas as eras.
Podemos observar que O livro de Daniel é chamado de “Apocalipse do Velho Testamento”; é um livro essencialmente profético, e muitas profecias nele narradas se referem ao final dos tempos. O estudo do livro é necessário para a compreensão de textos importantes, tais como o sermão profético de Jesus (Mt 24,25; Lc 21.5-36), e o texto de II Ts 2.1-12 que fala sobre o Anticristo. Também é fundamental para melhor entendimento do livro do Apocalipse. Não devemos esquecer o fato do livro de Daniel estar repleto de linguagem figurada quando formos lê-lo ou meditarmos nele. A simbologia requer um estudo bastante acurado; criterioso e cuidadoso, a fim de que não cometamos erros sérios de interpretação.
O livro pode ser dividido em duas partes principais: 1-6- parte histórica, 7-12- parte profética. A partir desta divisão temos o seguinte esboço:
1ª parte:
1.1-21-Daniel na Babilônia – assiste diante do rei
2.1-49- A visão de Nabucodonosor e a interpretação dada a Daniel- Daniel governador
3.1-30- Os amigos de Daniel são jogados na fornalha de fogo
4.1-37- A loucura de Nabucodonosor
5.1-31- A escrita na parede
6.1-27- Daniel na cova dos leões
2ª parte:
7.1-28- Visão de Daniel- As 4 feras
8.1-27- Visão de Daniel- O carneiro e do bode
9.1-19- Intercessão de Daniel
9.20-27- As setenta semanas
10.1-21- Visão do Senhor
11.1-12.3- Visões até o fim dos tempos
12.4-13- Conclusão da profecia com mais detalhes sobre o fim.

5) Neemias foi um grande homem de Deus, fale o que ele fez por Israel, onde,como e quais datas.

Neemias, quer dizer confortado por Jeová, ele foi, Filho de Hacalias (Ne 1:1), era provavelmente, da tribo de Judá. A sua família deve ter-se estabelecido em Jerusalém (Ne 2:3). Era um dos “judeus da dispersão” e na sua juventude foi nomeado para o importante cargo de copeiro real no palácio de Susã. O rei Artaxerxes Longânimo parece ter tido uma certa familiaridade amigável com o seu subordinado. Através do seu irmão Hanani e talvez através também de outras fontes (Ne 1:2; Ne 2:3), ele ouviu falar do estado desolador e fúnebre em que se encontrava a Cidade Santa, enchendo-se de tristeza o seu coração. Durante alguns dias, ele jejuou, pranteou e orou pelo local da sepultura dos seus pais. Com o tempo, o rei acabou por ver o quanto ele se mostrava triste e perguntou-lhe qual a razão para tanta tristeza. Neemias explicou-lhe tudo e obteve permissão para ir a Jerusalém e aí actuar como tirshatha ou governador da Judeia. Ele dirigiu-se a Jerusalém na primavera de 446 AC (onze anos depois de Esdras) com uma forte escolta fornecida pelo rei e com cartas para todos os paxás das províncias pelas quais ele tinha que passar e uma também para Asafe, guarda das florestas reais, carta essa onde o rei o instruía a ajudar Neemias. Quando chegou, ele decidiu-se a inspeccionar a cidade e a estabelecer um plano para o seu restauro; um plano que ele executou com grande energia e perícia, de modo que tudo ficou pronto em cerca de seis meses. Ele permaneceu na Judeia durante treze anos como governador, levando a cabo muitas reformas, apesar da muita oposição que encontrou (Ne 13:11). Ele construiu sobre as antigas estruturas, “complementando e completando o trabalho de Esdras,” tratando de todos os pormenores referentes à segurança e boa governação da cidade. No fim deste importante período da sua vida pública, ele voltou para a Pérsia, para o serviço do seu amo real em Susã ou Ecbatana. Pouco depois disto, o antigo estado de corrupção voltou, mostrando a inutilidade das profissões de fé que tinham sido feitas aquando da dedicação dos muros da cidade (Ne 12). Malaquias levantou-se de entre o povo com palavras severas de reprovação; Neemias voltou novamente da Pérsia (após uma ausência de quase dois anos) e lamentou-se ao ver como a degeneração moral se espalhara. Decidiu-se, com vigor, a rectificar os abusos flagrantes que se tinham espalhado e restaurou uma administração ordenada de adoração pública e uma observação extrínseca da lei de Moisés. Da sua história subsequente, nada se sabe. Talvez tivesse permanecido no seu posto de governador até à sua morte (por volta de 413 AC) com uma idade bem avançada. O local onde morreu e foi sepultado é, contudo, desconhecido. “Parece-se com Esdras no seu zelo inflamado, no seu activo espírito de empreendimento e na piedade da sua vida: mas era de uma disposição mais franca e mais intensa; tinha menos paciência para com os transgressores; era mais um homem de acção do que pensamento e mais inclinado para o uso da força do que da persuasão. A sua sagacidade prática e a sua grande coragem eram muito vincadas, sendo demonstradas pelo modo como reconstruiu os muros e frustrou os habilidosos planos dos seus adversários. O seu coração piedoso, o seu profundo espírito religioso e constante sentido de comunhão e dependência absoluta de Deus são notavelmente exibidos, primeiramente na longa oração registada em Ne 1:5-11 e, em segundo lugar, no que tem sido apelidado de “orações interjeccionais”, aquelas pequenas mas tocantes súplicas ao Deus Todo Poderoso que ocorrem com tanta frequência nos seus escritos, a instintiva expansão de sentimentos de um coração profundamente tocado mas que descansa em Deus e que somente olha para Deus em busca de ajuda na aflição, na frustração dos desígnios malignos e na recompensa e aceitação final.” Neemias foi o último dos governadores enviados pela corte persa. A Judeia, depois disto, foi anexada à satrapia da Síria, sendo governada pelo sumo sacerdote sob a jurisdição do governador da Síria, tornando-se a sua estrutura interna cada vez mais numa hierarquia.

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