domingo, 22 de junho de 2008

Estudo de História da Época Neotestamentária

Estudo de História da Época Neotestamentária

Livro: O Mundo do Novo Testamento, J.I.Packer, Merril C. Tenney.William White Jr.Ed.Vida.


1) Qual o impacto da chegada dos gregos no domínio do mundo ?

O impacto da chegada dos gregos no domínio do mundo, foram muitos. Cabendo ressaltar que a cultura helenística, (nome dado ao desenvolvimento da cultura grega entre os demais povos , que refletiam a cultura iniciada em Atenas, sendo levada aos demais povos através dos exércitos de Alexandre Magno) influenciou a religião, o governo, a língua e as artes dos demais povos.

O governo dos reis gregos foi lentamente usurpado por nobres, que possuíam grande riqueza e poder a expensa dos camponeses. Esse período de injustiça deu o tom para a religião grega mais tarde, e ajudou a pavimentar o caminho para a recepção do evangelho no mundo gentio.

A democracia grega deu aos cidadãos a oportunidade de expressar-se na defesa de seus próprios interesses. Não havia senso de cidadania entre os egípcios ou os mesopotâmios, nem mesmo entre os judeus do antigo testamento. Os gregos foram os primeiros a criar um sistema de governo que garantia liberdades civis e se concentrava nas obrigações cívicas. Durante esse período os gregos produziram poesia lírica, arquitetura, escultura e pensamento religioso que continuariam a influenciar o mundo nos séculos vindouros.

Os filósofos gregos clamaram por justiça social. Começaram a ensinar que os atos dos homens seriam julgados após a morte no tribunal de Minos e de Radamanto. A Macedônia, nação que os helenos haviam considerado bárbara, logo divulgaria a cultura grega através de muitas terras.

Os gregos conquistados consideravam os macedônios como estrangeiros, contudo, os macedônios, absorveram a cultura e dialetos helênicos. O grego ático que era língua falada em Atenas, sendo que foi adotada como língua oficial do estado sob o governo de Filipe. O povo começou a falar uma língua comum que era chamada de grego coiné.

Talvez nenhuma cultura jamais produziu mente maior do que a de Aristótoles, sua contemplação não deixou nenhum assunto por tocar, filosofia, botânica, geografia, zoologia, astronomia e arte foram assuntos de profundo interesse para ele. Por intermédio de Aristótoles, Alexandre adquiriu o grande amor que dedicava a cultura helênica, o qual o impulsionou até o Extremo Oriente a fim de divulgar o espírito helenístico. As conquista de Alexandre mudaram o centro da civilização Ocidental, cultura e economicamente para Alexandria, sendo o foco da vida grega intelectual e artística.

As campanhas de Alexandre exerceram profunda influência na história subseqüente, ele lançou os alicerces para o desenvolvimento cultural da civilização Ocidental. O casamento que Alexandre fez da cultura Oriental com a cultura helênica do Oeste pode-se ver na estatuária do quarto e terceiro séculos antes de Cristo da Gautama Buda, que apresenta notáveis características helênicas, especialmente nos rostos. Alexandre cuidou de propagar o grego Coiné ente os povos de muitas terras e muitas culturas. O coiné chegaria a dominar essa parte do Mediterrâneo e regiões orientais até ao período do Império Bizantino. Esta língua comum facilitou a divulgação do evangelho de Cristo durante a época de Paulo.

Sob os ptolomeus foi feita a tradução das Escrituras hebraicas para o grego coiné, que foi chamada de Septuaginta.

A influência helenizante atingiu muitas áreas da vida palestina, a arquitetura foi uma delas.

A influência do pensamento grego sobre Paulo, conquanto real, foi puramente externa.

Em 27 a.C., a Grécia, já não era potência política, mas sua cultura e espírito formaram os alicerces da cultura romana imperial. A arte a literatura e o governo helenísticos floresceram durante a maior parte do período romano.


2) Qual foi a contribuição dos romanos para a vinda de Jesus?

Os romanos não eram muito originais em sua forma abstrata de pensar, mas eram rápidos em adaptar boas idéias dos povos que conquistavam. Por exemplo, os romanos tomaram as colunas dóricas simples da arquitetura grega e as transformaram no estilo coríntio mais floreado. Os remanescentes das estradas, muros, pontes, anfiteatros e basílicas romanos ainda impressionam os turistas de nossos dias.

Os romanos mantinham a lei e a ordem acima de todas as demais coisas. Isto contribuiu de forma decisiva para a vinda de Jesus. Tratavam com justiça e tato os povos conquistados. Instituíram os três poderes de governo – legislativo, executivo e judiciário -, que se tornaram a base da democracia norte-americana e dos demais povos que adotam tal regime. Muitos aspectos da lei romana sobrevivem nos governos modernos ao redor do mundo.

A língua latina floresceu no primeiro século antes de Cristo, dando-nos a poesia e a prosa clássicas. Plínio, o velho, e outros escritores latinos registraram excelentes histórias do Império. Durante séculos, o latim influenciou as línguas e a literatura da Europa. Palavras como cidadão, censo, senado e fiscal são sobreviventes dos tempos romanos.

Os romanos faziam pouco uso de uma religião complexa; só invocavam os deuses quando precisavam de ajuda para a família ou para o estado. Seus principais deuses eram Júpiter, que controlava o Universo, Marte, deus da guerra; Juno, deusa padroeira das mulheres; e Minerva, deusa da guerra, da sabedoria e da habilidade.

Os romanos encontraram um modo de construir cúpulas de concreto o qual lhes permitia encerrar grandes áreas. Criaram o que foram, provavelmente, os primeiros hospitais e escolas de medicina. Muitas das contribuições dos romanos ainda influenciam a vida ocidental de nossos tempos. A ordem do mundo romano foi a maior das influências na vida dos judeus da era neotestamentária.

3) Como Jesus marcou a história de acordo com os capítulos 6-7.

Os quatro Evangelhos são nossas únicas fontes principais de informação a respeito de Jesus Cristo. Não apresentam uma biografia de toda a sua vida, mas um quadro de sua pessoa e obra. Todos os Evangelhos dão consideravelmente maior cobertura aos eventos da última semana da vida de Cristo do que a qualquer outra coisa.
Três meses antes do nascimento de João, o anjo Gabriel apareceu a Maria. Esta jovem era noiva de José, carpinteiro descendente do rei Davi. O anjo disse a Maria que ela conceberia um filho por obra do Espírito Santo, e que ela daria ao menino o nome de Jesus.

Jesus nasceu em Belém, ele foi circuncidado ao oitavo dia e recebeu o nome de Jesus, foi apresentado no templo para selar a circuncisão.

Herodes enviou os magos a Belém, pois desejava localizar o menino Cristo, para que assim pudesse afastar mais um outro rival. Deus disse a José que fugisse para o Egito com a família.

Jesus viajou com seus pais ao templo, quando tinha a idade de doze anos, indagado porque ficara para trás, Ele disse que aquela era a casa de seu Pai.

Como jovem, Jesus crescia em sabedoria, estatura, e graça, diante de Deus e dos homens.

João Batista disse aos representantes das supremas autoridades religiosas que ele não era o Messias, indicando, entretanto, que o Messias estava presente, e este era Jesus.

Logo depois Jesus viajou para a Galiléia, numa festa de casamento, em Caná, na qual ele transformou água em vinho. Aqui também ele curou o filho de um nobre.

Jesus ensinava na sinagoga aos sábados e curou ali um endemoninhado, além da sogra de Pedro. Reuniu-se uma multidão de gente enferma, e ele as curava, impondo-lhes as mãos.

Na fase seguinte de seu ministério, ele encontrou grande aceitação entre o povo comum, sendo que sua missão primária agora era ensinar. Jesus tinha submissão a lei, compaixão pelos homens, e interesse em levar os homens a salvação. Jesus demonstrou sua autoridade de perdoar pecados, ao curar um paralítico e convidar a Mateus, que era um odiado publicano, a tornar-se seu seguidor.

Jesus começou a enfrentar crescente hostilidade das altas autoridades judaicas que deram início à trama para destruí-lo.

A nomeação dos Doze inaugurou um novo período no ministério de Cristo. Talvez no mesmo dia em que proferiu o Sermão do Monte, Jesus curou o servo de um centurião.

Em Cafarnaum na entrada da cidade ele restaurou à vida o filho de uma viúva. A parábola era a principal ferramenta de ensino de Jesus, que tanto revelava como ocultava as verdades que ele desejava comunicar.

Jesus fez um terceiro giro pela Galiléia, o qual incluiu diversos milagres e a segunda rejeição em Nazaré. Jesus alimentou uma multidão de 5000 homens, dividindo e multiplicando cinco pães e dois peixes.

Jesus na sinagoga explicou que ele era o verdadeiro pão da vida, que veio do céu, sendo que depois desse discurso ele deixou o ensino público e se devotou à instrução dos discípulos.

Jesus pagou o imposto do templo com dinheiro provido de modo miraculoso.

Certo dia Jesus recebeu um recado urgente do lar de Maria e Marta. Quando Jesus chegou a Betânia, Lázaro já havia morrido, mas Jesus o levantou do túmulo.

A última semana anterior a crucificação de Jesus ocupa grande parte dos registros dos Evangelhos. Jesus entrou em Jerusalém montado num jumentinho. Na terça-feira os líderes Judeus exigiam que Jesus explicasse com que autoridade ele procedia daquela maneira. Na quinta-feira à noite ele comeu a Páscoa. Judas deixou a refeição para finalizar o acorde de trair Jesus.

No Getsêmani enquanto Jesus agonizava em oração, os seus discípulos dormiam. Jesus foi levado a julgamento perante as autoridades religiosas e as civis. O julgamento civil ocorreu sexta-feira de manhã perante Pilatos. Pilatos propôs açoitar a Cristo e libertá-lo, mas a multidão gritava crucifica-o.

Os relatos da execução de Jesus encontram-se em Mateus e passagens paralelas. Nicodemos e José de Arimatéia levaram o corpo de Jesus e o sepultaram no túmulo de José. Na manhã do terceiro dia os soldados atônitos sentiram a terra tremer e viram um anjo rolar a pedra que selava o túmulo. Jesus havia ressurgido dentre os mortos.

Após a ressurreição Jesus apareceu aos seus seguidores em dez ocasiões que estão registradas.

A cristologia trata da pessoa e obra de Cristo - Isto é, a doutrina de Cristo. Hoje os cristãos crêem que Jesus é ambos - Deus e homem. Cristo tem duas naturezas distintas, mas é uma única pessoa, não duas.

À Medida que buscamos entender a Cristo, devemos examinar sua posição perante a lei. Ele humilhou-se diante dela; como resultado. Deus o exaltou sobre ela. Esta é uma interessante ironia.

Durante seu ministério térreo, ele ensinou aos seus seguidores as coisas de Deus, tanto por palavra como por atos. Agora ele continua, lá do céu, sua obra profética operando por intermédio do Espírito Santo.

Jesus se apresentou como um sacrifício sacerdotal. O sacrifício de Cristo, feito uma vez por todas, foi a um tempo expiatório e vicário, e conquistou a salvação eterna para o seu povo.

Como segunda pessoa da trindade, co-criador com o pai, Cristo é o rei eterno sobre todas as coisas, como Salvador, ele é o rei de um reino espiritual. Ele entregará esse reino ao Pai quando concretizar a vitória final sobre o mal. Isto é, quando destruir esta ordem mundial de uma vez por todas e a fizer nova. Então o Universo, como o conhecemos, deixará de existir. Não haverá reis humanos ou poderes diabólicos capazes de reinar. Só Cristo e seu Reino serão preservados.

Jesus escolheu doze homens, que teriam a responsabilidade de representa-lo depois de haver ele voltado para o céu. Jesus fez desses doze homens líderes vigorosos e porta-vozes capazes de transmitir com clareza a fé cristã.

4) Como foi conduzida a igreja primitiva e quais eram os padrões de: culto, adoração, moralidade, etc.

A igreja primitiva surgiu no cruzamento das culturas hebraica e helenística. Cinqüenta dias após a Páscoa, no dia do Pentecoste um som como um vento impetuoso encheu a casa onde o grupo se reunia. Línguas de fogo pousaram sobre cada um deles e começaram a falar em línguas diferentes da sua conforme o Espírito Santo os capacitava. Alguns zombavam dizendo que estavam embriagados.
Mas Pedro fez calar a multidão e explicou que estavam dando testemunho do derramamento do Espírito Santo, conforme previra os profetas do antigo testamento.

Durante alguns anos Jerusalém foi o centro da Igreja. Os primeiro cristãos formavam uma comunidade estreitamente unida em Jerusalém, após o dia do Pentecoste. Eles esperavam que Cristo voltasse muito em breve.

A princípio os seguidores de Jesus não viram a necessidade de desenvolver um sistema de governo da igreja, pois esperavam o retorno breve de Cristo, porisso tratavam dos problemas internos a medida que surgiam.

Um ou mais presbíteros presidiam os negócios de cada congregação, sendo que esses anciões, eram escolhidos pelo Espírito Santo, e nomeados pelos apóstolos. Alguns ministros chamados de evangelistas viajavam de uma congregação para outra, e quando isto ocorria, os Presbíteros (anciões), assumiam os deveres pastorais normais entre as visitas desses evangelistas.

Em algumas congregações, os anciões nomeavam diáconos para distribuir alimentos aos necessitados ou cuidar de outras necessidades materiais.

A igreja primitiva não possuía um centro terrenal de poder. Os cristãos entendiam que Cristo era o centro e a fonte de todos os seus poderes. A igreja primitivas não fornecia poderes mágicos, por meio de rituais ou de qualquer outro modo.

Visto que os cristãos primitivos adoravam juntos, estabeleceram padrões de adoração que diferiam muito dos cultos da sinagoga. Sabemos que a igreja primitiva realizava os seus cultos aos domingos, o primeiro dia da semana, e que esses cultos eram realizados no templo de Jerusalém, nas sinagogas ou nos lares. Onde os cristãos eram perseguidos, os cultos eram realizados em lugares secretos, como as catacumbas.

Os cultos eram realizados em torno da ceia do Senhor, porém em determinado momento, começaram a ser realizados dois cultos, sendo que as horas eram escolhidas por questão de segredo, e visavam também atender as pessoas que não podiam comparecer aos cultos de adoração, durante o dia, por questão de trabalho.

O culto matutino era uma ocasião de louvor, oração e pregação. As pessoas que aceitavam a Cristo eram batizadas e os adoradores participavam dos cânticos, dos testemunhos ou de palavras de exortação.

Na ceia do Senhor era realizada uma refeição completa que os cristãos partilhavam em suas casas. Cada convidado trazia um prato para a mesa comum. A refeição começava com a oração e com o comer de pedacinhos de um único pão que representava o corpo partido de Cristo. Encerrava-se a refeição com outra oração e a seguir participavam de uma taça de vinho, que representava o sangue vertido de Cristo.

O batismo era um acontecimento comum da adoração cristã no tempo de Paulo, sendo que os primitivos cristãos interpretavam o significado do batismo como : símbolo da morte de uma pessoa para o pecado, de purificação de pecados, e da nova vida em Cristo.

Os primitivos cristãos, não confundiam o domingo com o sábado judaico, e não faziam tentativa alguma para aplicar a ele a legislação referente ao sábado.

5) Como você definiria o ministério do apóstolo Paulo.

Segundo escritos apócrifos, Paulo era um homem de baixa estatura, parcialmente calvo, pernas arqueadas, de compleição robusta, olhos próximos um do outro e nariz um tanto curvo. Porém sua verdadeira aparência teremos de deixar por conta dos artistas, pois não sabemos ao certo, porém mais importante é sabermos o que ele sentia, o que pensava, e o que fazia.

As cartas procedentes de sua pena, preservadas no Novo Testamento, dão eloqüente testemunho da paixão de suas convicções e do poder de sua lógica. O teólogo tem material suficiente para criar intérminos debates acerca daquilo em que Paulo acreditava.

Paulo começou na sinagoga de Damasco, a dar testemunho de sua recém-encontrada fé. O tema de sua mensagem concernente a Jesus era, que Ele era o filho de Deus.

Ele pregou por breve tempo em Damasco, foi-se para a Arábia e depois voltou para Damasco. Posteriormente a jovem e florescente Igreja de Antioquia resolveu enviar a Paulo juntamente com Barnabé, como missionários. Eles foram primeiramente a Salamina, na ilha de Chipre. Os êxitos de seus esforços missionários nessa ilha incentivaram Paulo e seus parceiros a avançar para território mais difícil.

Em antioquia, Paulo tornou-se o porta-voz e criou-se um padrão conhecido de todos. Alguns criam em sua mensagem e se regozijavam, outros a rejeitavam e provocavam oposição.

Paulo resolveu percorrer de novo a difícil rota sobre a qual ele tinha vindo, a fim de fortalecer, encorajar e organizar os grupos de cristãos que ele e Barnabé haviam estabelecido. Ele, não deixava seus convertidos desorganizados e sem liderança capaz, mas, pelo mesmo motivo, não permanecia muito tempo num só lugar.

Após uma curta permanência em Antioquia, Paulo partiu em sua terceira viagem missionária no ano 52 d.C. Desta vez suas primeiras paradas foram na Galácia e na Frígia. Depois de visitar as igrejas em Derbe, Listra, Icônio e Antioquia, ele resolveu fazer algum trabalho missionário intensivo em Éfeso, a capital da província romana da Ásia, o que provou ser a mais exitosa e extensa de suas atividades missionárias em qualquer localidade.

Depois de três invernos em Éfeso, Paulo passou o seguinte em Corinto. Ali Paulo fez outros preparativos para uma visita a Roma.

Os cristãos de Jerusalém ficaram felizes ao ouvir o relatório de Paulo sobre a divulgação da fé Cristã.

O Novo Testamento não nos fala da morte de Paulo. Muitos estudiosos modernos crêem que César libertou o apóstolo, e que ele empenhou-se em mais trabalho missionário antes de ser preso pela segunda vez e executado.

As Epístolas de Paulo são o espelho de sua alma. Revelam seus motivos íntimos, suas mais profundas paixões, suas convicções fundamentais. Paulo estava mais interessado nas pessoas e no que lhes acontecia do que em formalidades literárias.

Líderes fortes, como Paulo, tendem a atrair ou repelir os que eles buscam influenciar. Paulo tinha tanto seguidores devotados quanto inimigos figadais.

A forma clara e lógica de Paulo de explicar as grandes doutrinas da fé cristã foi, sem dúvida, resultado, pelo menos em parte de sua educação escolar aos pés de Gamaliel, que fortaleceu sua ortodoxia hebraica. Paulo foi um pregador persuasivo, redirecionado por Jesus Cristo, ele exortava seus ouvintes a crer e ser salvos no filho de Deus.

Paulo apontava para sua própria vida e obra como prova da sua mensagem, anunciando boas novas experimentadas pessoalmente.

Os auditórios achavam Paulo franco, corajosamente zeloso, equilibrado e simpático. Paulo trazia a lembrança de seus ouvintes judeus sua história, sua língua, seus costumes. Entre os gentios ele apelava para a curiosidade grega a respeito de novos ensinos. Ele atraía a atenção dos ouvinte com palavras, gestos ações dramáticas, e advertências.

O único objetivo de Paulo era ganhar almas para Cristo. Suas exortações e advertências eram calorosas e emocionais. Também usava argumentos convincentes, resumos bem desenvolvidos e aplicações pessoais. Paulo refletia os ensinos de Jesus, embora raramente citasse o Mestre.

Ele pregava com amor e compaixão pastorais. Sua teologia tinha por centro a pessoa e obra de Cristo. Ele cria que as exigências éticas da lei judaica deviam ser cumpridas; mas também cria que o novo homem, cheio do Espírito devia executar em virtude da motivação interior aquilo que as exigências da lei deixaram de realizar pela força.

Paulo sabia diferenciar entre suas próprias opiniões, e os mandamentos do Senhor. Mesmo em face de circunstâncias extremas, ele estava totalmente comprometido com Cristo, quer na vida, quer na morte. Seu testemunho é profundamente firmado nas realidades espirituais, como disse em Filipenses, Tanto sabia estar humilhado, como ser honrado, já havia tido experiência em todas as circunstâncias, tanto de fartura, como de fome, assim de abundância, como de escassez, tudo podia naquele que o fortalecia.

Estudo História do Pensamento Cristão I

Estudo História do Pensamento Cristão I

Livro: Pensamento Cristão. Volume I - Dos Primórdios à Idade Média

Autor: Toni Lane . Abba

1) Leia e faça um resumo de todos os concílios: um a um.

O concílio de Nicéia ( 325)

O concílio de Nicéia foi considerado como o primeiro dos concílios gerais ou ecumênico.

O concílio de Nicéia reuniu-se em reação ao ensino de Ário. Ário era um presbítero de Alexandria. Como Orígenes ele cria que o pai é maior que o filho, que por sua vez é maior que o Espírito Santo. Mas diferente daquele, Ário não acreditava ser possível ter uma hierarquia de seres divinos. Ele introduziu um monoteísmo radical ao sistema de Orígenes e concluiu que apenas o pai é Deus. O filho é através de quem o pai criou o universo, mas no entanto ele é apenas uma criatura feita do nada, não Deus. Como uma criatura ele não é eterno, mas teve um começo.

Em 324, Constantino tornou-se imperador do Oriente, como também do ocidente, e foi forçado a intervir. Ele convocou o Concílio de Nicéia, que se reuniu em junho de 325, sob sua presidência. Cerca de 220 bispos estavam presentes, a maioria do oriente. O concílio condenou Ário e produziu um credo antiariano.

Nicéia dividiu a igreja em dois grupos principais. De um lado, o partido Niceno, estava convencido quanto a plena deidade de Jesus Cristo, mas não convictos da eterna triunidade do ente supremo. Do outro lado os origenistas eram fortes quanto à triunidade do Ente supremo, mas menos convictos quanto a deidade de Jesus Cristo.

O Concílio de Constantinopla (381)

O concílio de Constantinopla foi considerado o segundo dos concílios gerais ou ecumênico.

Em 379 Teodósio imperador do oriente, resolveu acabar com arianismo de uma vez por todas, convacando um concílio em Constantinopla, que se deu de Maio a Julho de 381.

Tres heresias foram condenadas em Constantinopla: o Arianismo, já tratado no texto anterior sobre o Concílio de Nicéia, o Macedonianismo, que cria na deidade do filho, mas afirmava que o Espírito Santo é uma criatura, e o Apolinariasnismo que negava que Jesus tivesse uma alma humana.

O concílio de constantinopla, afirmou tanto que Jesus era plenamente Deus ( contra Ário), e plenamente homem ( contra Apolinário).

O Concílio de Éfeso (431)

O concílio de Éfeso foi considerado o terceiro dos concílios gerais ou ecumênico.

O imperador Teodósio convocou o Concílio de Éfeso, que se reuniu em junho de 431, para resolver a contovérsia entre Cirilo e Nestório. Nestório foi deposto, porém assim que os antioquianos chegaram, eles recusaram a reconhecer o concílio de Cirilo, e estabeleceram seu próprio, que condenou Cirilo.

O resultado desse concílio, foi confusão e divisão do oriente. Cirilo aceitou um documento moderado antioquiano chamado a Fórmula da Conciliação, enquanto os antioquianos concordaram em aceitar a deposição de Nestório.

O Concílio de Calcedônia (451)

O concílio de Calcedônia foi considerado o quarto dos concílios gerais ou ecumênico.

O concílio de Calcedônia foi convocado pelo imperador Marciano para resolver o caso de êutico, que já havia sido condenado por Leão. O concílio reuniu-se em Calcedônia ( do outro lado de Bósforo) em outubro de 451.

O concílio restaurou aqueles bispos antioquianos condenados no "Sinodo Ladrão" de Éfeso em 449. Êutico e Dióscoro de Alexandria foram depostos.

Nasceu aí a Definição Calcediana, que apresenta quatro pontos em oposição as quatro heresias antigas: Em Jesus Cristo, verdadeira deidade(contra Ário) e plena humanidade ( contra Apolinário) são indivisívelmente unidas em uma pessoa (contra Nestório), sem ser confundidas (contra Êutico). Seu ensino pode ser resumido na frase "uma pessoa em duas naturezas"

A definição reúne elementos de tradições diferentes: Alexandrina (Cirilo), antioquiana ( Fórmula de Conciliação), constantinopolitana (Flaviano) e ocidental (tertuliano e Leão), mas a mão dominante foi o ocidente.

O Concílio de Constantinopla (553)

O concílio de Constantinopla de 553 foi considerado o quinto dos concílios gerais ou ecumênico.

Em 553, Justiniano convocou o Concílio de Constantinopla, ele procurou satisfazer aos Monofisitas apresentando uma interpretação cirilina de Calcedônia. Há tres partes principais para a obra do concílio:

O concílio ratificou a condenação de Orígenes, ao editar quinze anátemas contra o ensino de orígenes e Evagrio, um dos seus discípulos mais radicais.

Os últimos tres dos catorze anátemas, reafirmaram a condenação aos "tres Capítulos, escritos pelo teólogo Antioquiano Teodoro de Mopsuéstia.

O concílio mostrou que calced6onia, devia ser entendida de um modo alexandrino, eles também editaram catorze anátemas.

O sétimo anátema dizia que se alguém usando a expressão "em duas naturezas"... fizesse uso do número (dois) para dividir as naturezas ou para fazer delas pessoas propriamente assim chamadas, seria anátema.

Da mesma maneira o décimo anátema dizia que se alguém não confessasse que o nosso Senhor Jesus Cristo que fora crucificado na carne, era o verdadeiro Deus e o Senhor da glória, e um da Santa trindade, seria anátema.

O Concílio de Constantinopla (680-681)

O concílio de Constantinopla (680-681) foi considerado o sexto dos concílios gerais ou ecumênico.

O concílio, reuniu-se de 680 a 681 em Constantinopla. O papa Agato havia escrito uma carta para o concílio, que pretendia fosse igualada ao Volume de Leão, Esta foi lida e aprovada pelo concílio. Ágato reivindicava que a Igreja Romana, nunca havia errado o caminho da tradição apostólica.

Roma teve que aceitar a condenação do papa Honório como Herege pelo concílio.

O concílio também produziu uma definição de fé, reafirmando o assentimento aos cinco sínodos anteriores.

O terceiro Concílio de Constantinopla marca o fim do desenvolvimento antigo do ensino sobre a pessoa de Jesus Cristo e a superação das implicações da Definição Calcediana. Foi o fim da tentativa de conciliar os monofisitas do oriente - o que não era mais uma necessidade urgente, agora que eles haviam sido removidos do império Bizantino pelas invasões muçulmanas.

O Concílio de Nicéia (787)

O concílio de Nicéia foi considerado o sétimo dos concílios gerais ou ecumênico.

Este novo concílio em Nicéia, foi considerado um concílio Iconófilo. Os iconófilos viam os ícones como os livros dos iletrados, como o caminho para trazer um ponto de origem das realidades espirituais a eles. Os iconoclastas replicaram que os simples poderiam não distinguir entre culto oferecido a um ícone e o oferecido ao próprio Deus, ou entre a veneração devida a um santo e a devida apenas a Deus. Os ícones portanto induziram os símples ao erro da idolatria.

O sétimo concílio geral cai numa categoria diferente dos seis primeiros. Estas foram tentativas sérias de chegar a termos com as doutrinas bíblicas centrais sobre Deus e Jesus Cristo. O sétimo, ao contrário, é uma tentativa de justificar uma prática relativamente recente a qual na melhor das hipóteses não tem prova bíblica e na pior, é descaradamente anti-bíblica. O protestantismo em geral tem se inclinado a aprovar os primeiros quatro concílios e numa extensão menor, os dois seguintes, mas a rejeitar o sétimo.

O Concílio de Orange (529)

O concílio de orange (Arausiacum), em 529, foi dirigido por Cesário de Aries, que tinha o apio do Papa Félix IV.

O concílio produziu vinte e cinco cânones de declarações doutrinárias curtas, seguidos por uma conclusão. Acima de tudo, o semipelagianismo é rejeitado. Treze dos vinte e cinco cânones negam que o homem pode tomar a iniciativa de voltar para Deus e insistem que a graça de Deus precisa ser "preveniente") isto é, deve preceder ou vir antes de qualquer movimento para Deus de nossa parte). Isto é necessário porque a queda de adão tem mudado a totalidade do homem (corpo e alma) para pior. A graça preventente é necessária se estamos indo para o caminho cristão e graça, cooperante é necessária para continuarmos nessa direção.

Finalmente o concílio condena não a doutrina de Agostinhjo de predestinação para a salvação, mas a idéia de predestinação para o mal.

O IV Concílio de Latrão (1215)

O Quarto Concílio de Latrão foi convocado em 1215 pelo maior dos Papas medievais. Inocêncio III, que viveu de 1198 a 1216, d.C, Inocêncio elevou o poder papal ao seu auge. Ele forçou o Rei João a submeter-se a ele ao colocar a inglaterra sob interdito ( uma espécie de greve geral por parte dos clérigos), que foram proibidos de realizar tudo, senão um mínimo simples de ritos. Ele concentrou poder no papado por um genuíno interesse na reforma, mas pouco tempo depois seus sucessores iriam procurar aumentar o poder do papado por seu próprio interesse.

O Quarto concílio de Latrão produziu setenta cânones, cobrindo uma ampla série de tópicos, entre os quais, os Albigenses e os Valdenses foram condenados.Alguns dos ensinos de Joaquim de fiore foram condenados. Pedro Lombardo foi inocentado. Os católicos foram obrigados a pelo menos uma vez por ano confessar aos seus sacerdotes.

O Concílio de Florença (1438-45)

O concílio de Florença de fato reuniu-se em tres locais diferentes -Ferrara (1438-39), Florença (1439-42) e Roma (1442-45) - embora a tarefa importante tenha acontecido em Florença. A mior tarefa do concílio era a conciliação das igrejas ortodoxas do oriente com Roma. Este foi o último de uma série de concílios no qual tal tentativa foi feita. Os orientais estavam desesperados por ajuda militar enquanto a pressão turca sobre Constantinopla aumentava e isto forçou-os a fazer concessões teológicas.

Os orientais foram forçados a aceitar a inserção ocidental no Credo niceno da palavra filioque, passou a ser permissível o uso tanto do pão levedado, como não levedado, foi aceita a doutrina romana do purgatório, e foram obrigados a aceitar o papa como sucessor de Pedro.


2) Fale de os representantes da Igreja nos primórdios.

a) Tertuliano

Quinto Sétimo Florêncio Tertuliano nasceu por volta do ano 160 em cartago (atual Túnis) numa família romana pagã. Ele foi educado em retórica e lei. É possível que tenha vivido por algúm tempo em Roma e trabalhado lá como advogado. Pouco antes do ano de 197, passou a ser cristão. Pelo resto de sua vida escreveu extensivamente como um advogado da fé cristã. Primeiro, apoiou a corrente principal da igreja católica. Mas pouco anmtes de 207 desiludiu-se com as autoridades eclesiásticas e começou a falar em favor do montanismo. Ele tornou-se um crítico da Igreja Católica e um defensor do Montanismo.Morreu idoso, pouco depois de 220.

Tertuliano foi o primeiro cristão importante a escrever em latim. Ele é o pai da teologia ocidental latina. Junto com Orígens, é um dos maiores escritores cristãos do segundo e terceiro séculos. De fato, foi um dos maiores escritores latinos e é dito que os pagãos costumavam ler suas obras simplesmente para desfrutar o estilo.

Tertuliano sempre escreveu como um advogado, defendendo sua própria posição e atacando todas as rivais. Ele escreveu mais de 30 obras, que se resumem em três grupos principais : Obras apologéticas;Obras dogmáticas/Anti-heréticas;Obras práticas.

Nas suas obras dogmáticas/Anti-heréticas, Tertuliano foi fortemente crítico da filosofia grega, vendo-a como pai da heresia. Escreveu também nessas obras contra o Monarquianismo.

Nas sua obras práticas, Tertuliano escreveu especialmente sobre a disciplina da igreja. Sendo que as suas obras se resumem em dois grupos, primeiramente as obras católicas, e posteriormente as obras montanistas.

O que o atraiu para o montanismo foi o código moral mais rigoroso.

b) Orígenes

Orígenes nasceu por volta de 185, de pais cristãos em Alexandria. Em 202 seu pai, Leonides foi martirizado, Orígens escreveu-lhe, insistindo para continuar firme, e é dito que o próprio Orígens foi impedido de buscar o martírio, só porque sua mãe escondeu suas roupas.

Teólogo cristão e filósofo neoplatônico grego e patrístico do período pré-nissênico, de grande erudição, criador do origenismo e um dos mais distintos pupilos de Amônio Sacas( ~175-242). De uma família cristã, foi atraído para a elevada filosofia de Alexandria. Estudou com Amônio Sacas e foi discípulo de são Clemente de Alexandria, a quem sucedeu (203) à frente da escola catequética de Alexandria (203) nomeado pelo bispo Demétrio, onde trabalhou por vinte e oito anos na cidade da família, estudando, escrevendo e ensinando filosofia e hebraico, trabalhando como exegeta, mestre de teologia e pregador. Restaurou a escola catequética daquela cidade, após o ataque de Sétimo Severo, tornando-se o expoente máximo da escola fundada por Panteno. Sob dua direção a escola de Alexandria alcançou o auge de sua atividade e teve sua importância mantida por pelo menos mais dois séculos seguintes. Sua coragem em ensinar o Evangelho em um dos períodos mais intensos das perseguições romanas não teve limites. Muitos de seus alunos deram a vida pelo Evangelho e alguns são hoje venerados pela Igreja. A profundidade e o amor que tinha pelas Escrituras atraíram-lhe alunos de várias partes do Império Romano. Desejoso de conhecer a igreja romana, iniciou um série de viagens (212) quando esteve em Roma do papa Zeferino (~150-217) e do Imperador Caracala (188-217), Grécia e Palestina. A mãe do imperador Alexandre Severo (209-235), Júlia Mamaea, chamou-o (218) a Antioquia para ouvir suas lições. Ordenado por bispos de Cesaréia, o fato provocou seu banimento de Alexandria por Demétrio, acusado de heresia por aplicar métodos filosóficos e filológicos a problemas de teologia. Perseguido partiu (232) para a Cesarea, Palestina, onde sob a proteção de Teocisto reuniu ao seu redor muitos discípulos, entre eles Gregório Taumaturgo e seu irmão Apolodoro, onde prosseguiu suas atividades de divulgação da fé cristã e onde fundou uma escola, famosa em todo o Oriente. Tornou-se o mais destacado exegeta bíblico da igreja grega primitiva e influiu em todo o pensamento cristológico oriental posterior. Durante a perseguição aos cristãos (250-251) promovida pelo imperador Trajano Décio (~190-251), foi aprisionado (250) e barbaramente torturado, mas manteve sua coragem inabalada escrevendo cartas sobre a fé. Foi libertado após a morte de Décio (251), mas não recuperou mais sua saúde, abalada pelos maus tratos da prisão e morreu dois anos depois, em Tiro, durante o governo do imperador Treboniano Galo (~200 - 253). A despeito da sua função cristã, ele foi um fervoroso neoplatônico, mas dos muitos trabalhos que redigiu, somente alguns poucos fragmentos foram preservados. O mais conhecido é o panfleto Contra Celsum ou Katà Kelsou, respondendo à críticas do filósofo neopitagórico Celso, que ousou atacar a fé cristã, declarando-a errônea e adaptada somente às pessoas ignorantes. Desta forma, trezentos anos após sua morte, seus ensinos foram condenados pelo Concílio Eclesiástico de Constantinopla (553), sob o reino do imperador Justiniano (483-565), quando este decreto foi promulgado. Dentre os seus discípulos, os mais destacados foram Longino, um homem renomado por sua casta instrução, e Sinésio, o bispo de Ptolemïs. Este último tinha uma grande admiração por sua instrutora, Hipátia (370-415), a inditosa cientista alexandrina. Fragmentos de suas cartas entusiásticas a esta maravilhosa sacerdotisa da filosofia foram preservados. A chave filosófica do seu pensamento era o de que Deus é incorporável e no centro de toda a criação estão Deus e a Trindade. Que a posição de Cristo no universo corresponderia à do pensamento no sistema neoplatônico: um mediador entre Deus e o mundo das criaturas. Utilizava sabiamente as doutrinas platônicas e estóicas como instrumentos conceituais aptos a expressarem e interpretarem racionalmente as verdades reveladas na Bíblia. Segundo Quasten, foi a mente mais filosófica e o maior erudito da Igreja antiga: deu à teologia cristã alta categoria científica e combateu o apocaliptismo da época. Estima-se que tenha escrito cerca de seis mil obras, todas em grego, a maior parte delas comentários às Escrituras, das quais se perderam a maioria, talvez em grande parte destruídas durante a invasão árabe. Das muitas que mesmo assim se conservaram, uma parte considerável deve-se à obra, aparentemente fortuita, de tradução para o latim que dois monges ocidentais, então residindo na Palestina, Rufino no Monte das Oliveiras e São Jerônimo, o tradutor da Vulgata, residente em Belém. Entre suas obras doutrinárias sobreviveram até nossos dias Os princípios (Hexapla e o Tetrapla), Contra Celso ou Katá Celsou (~245-250) e Comentários a João.
OBS: Sob a direção de Pateno, seguido de Clemente e de Orígenes, a escola catequética de Alexandria tornou-se um notável centro de ensino, de estudo e de espiritualidade cristã, na mesma época em que, nas areias escaldantes do sul do Egito iniciava-se, por obra de Santo Antão, a vida monástica na Igreja

c) Eusébio de cesaréia

Eusébio nasceu no início dos anos 260 na Palestina. Ele estudou e trabalhou com Panfílio que estava a cargo da biblioteca de Orígenes em Cesaréia e que fora martirizado em 309/10. Em gratidão a Panfílio, Eusébio tomou o seu nome, tornando-se Eusébio Panfílio, como se ele houvesse sido seu filho ou escravo. Como Panfílio, Eusébio era um ardente admirador de orígenes e escreveram uma defesa dele. Eusébio era antes de tudo um erudito, mas em 313/14 tornou-se bispo de Cesaréia. Ele morreu lá em 339/40.

Conheceu o presbítero Doroteu em Antioquia e, provavelmente recebeu dele instrução exegética. Em 296, estando na Palestina, viu Constantino I, que visitava essa província com Diocleciano. Estava em Cesareia quando Agápio era, aí, bispo. Tornou-se amigo de Pânfilo, com quem teria estudado a Bíblia, com a ajuda da Hexapla de Orígenes e de comentários compilados por Pânfilo, na tentativa de escrever uma versão crítica do Antigo Testamento.
Em 307, Pânfilo foi preso, mas Eusébio continuou o projeto que com ele tinha começado. O resultado foi uma apologia de Orígenes, terminada por Eusébio depois da morte de Pânfilo, que foi enviada aos mártires na minas de Phaeno, no Egipto. Parece que, depois, se retirou para Tiro e, mais tarde para o Egipto, onde sofreu, pela primeira vez, perseguição. A acusação de que obteve a sua liberdade sacrificando aos deuses pagãos parece ser infundada.
Voltamos a ouvir falar de Eusébio como Bispo de Cesareia. Sucedeu a Agápio, não se sabe bem quando mas, de qualquer forma, terá sido pouco depois de 313. Pouco se sabe dos primeiros tempos do seu bispado. No entanto, com o início da controvérsia ariana, toma, subitamente um lugar de destaque. Ário pediu-lhe protecção. Por uma carta que Eusébio escreveu a Alexandre, é evidente que não negou refúgio ao presbítero exilado. Quando o Primeiro Concílio de Niceia se reuniu, em 325, teve algum protagonismo. Nem era um líder nato, nem sequer um pensador profundo, mas como homem bastante instruído e autor famoso, caído nas graças do imperador, acabou por salientar-se entre os mais de 300 membros que reuniram no Concílio. Tomando uma posição moderada na controvérsia, apresentou o símbolo (credo) baptismal de Cesareia que acabou por se tornar a base do Credo niceno. No final do Concílio, Eusébio subscreveu os seus decretos.
A controvérsia ariana continuou, não obstante a realização do Concílio. Eusébio manteve-se envolvido na questão. Por exemplo, entrou em disputa com Eustáquio de Antióquia, que se opunha à crescente aceitação das teorias de Orígenes e, em especial, por este ter praticado uma exegese alegórica das escrituras, o que interpretava como sendo a origem teológica do arianismo. Eusébio, admirador de Orígenes, foi repreendido por Eustáquio que o acusou de se afastar da fé de Niceia. Eusébio retorquiu, acusando Eustáquio de seguir ideias sabelianas. Eustáquio foi acusado, condenado e deposto num sínodo, em Antióquia. Grande parte do povo de Antióquia rebelou-se contra esta decisão eclesiástica, enquanto os anti-eustaquianos propunham Eusébio como novo Bispo. Ele recusou a oferta.
Depois de Eustáquio ter sido afastado, os Eusebianos viraram-se contra Atanásio de Alexandria, um oponente muito mais perigoso. Em 334, Atanásio foi intimado a comparecer frente a um sínodo em Cesareia. Ele não compareceu. No ano seguinte, convocou-se outro sínodo em Tiro, presidido por Eusébio. Atanásio, prevendo o resultado, dirigiu-se a Constantinopla, onde apresentou a sua causa ao imperador. Constantino convocou os bispos para a sua corte, entre os quais, Eusébio. Atanásio foi condenado ao exílio no final de 335. Nesse mesmo sínodo, outro oponente era atacado com sucesso. Marcelo de Ancira há muito que lutava contra os Eusebianos, protestando contra a reabilitação de Ário. Acusado de sabelianismo, foi deposto em 336. Constantino morreu no ano seguinte. Eusébio não lhe sobreviveu mais tempo. Morreu (provavelmente em Cesareia), em 340, o mais tardar, sendo provável que tenha morrido a 30 de Maio de 339.
Da extensa actividade literária de Eusébio, uma, relativamente, grande parte foi preservada. Ainda que a posteridade tenha suspeitado dele como ariano, o seu método de escrita tornou-o indispensável; a utilização de excertos cuidadosamente íntegros nas suas citações poupou muito trabalho de pesquisa aos leitores futuros. As suas obras, tornadas de referência, foram deste modo preservadas.
As obras literárias de Eusébio reflectem o curso da sua vida. No início, dedicou-se à crítica dos textos bíblicos, sob a influência de Pânfilo e, provavelmente, de Doroteu, da escola de Antioquia. Com as perseguições de Diocleciano e de Galério, dirigiu o seu interesse para os mártires (tanto os da sua época, como os anteriores). Esse interesse levou-o a escrever, praticamente, uma história da Igreja e, mesmo, uma história universal, que, segundo o ponto de vista de Eusébio, seria apenas a base para a história eclesiástica. Nota-se, pois, que para Eusébio, a Igreja aparece como sendo o motor da História da Humanidade.
Com as controvérsias arianas, o interesse de Eusébio passou para as questões dogmáticas. A cristandade era finalmente reconhecida pelo Estado. Isso trouxe, não obstante, novos problemas. Apologias diferentes das anteriores tornavam-se necessárias. Por fim, Eusébio, no seu papel de teólogo da corte imperial, escreve panegíricos hiperbólicos dedicados ao imperador Cristão. A todas estas actividades, há a acrescentar muitos outros textos de natureza diversa, em que ressalta a sua correspondência, para além de trabalhos exegéticos onde se incluem comentários e tratados sobre arqueologia bíblica que se estendem durante todo o período da sua vida literária, fazendo fé daquilo por que Eusébio viria a ser reconhecido por quase todos, independentemente da opinião teológica que professassem: a sua larga erudição.
Pânfilo e Eusébio ocuparam-se, em conjunto, da leitura crítica das escrituras tal como eram apresentadas na versão da Bíblia conhecida como a "Septuaginta". Dedidcaram-se ao estudo do Antigo Testamento, ainda que se debruçassem especialmente sobre o Novo Testamento. Efectivamente, parece que um dos manuscritos da Septuaginta, preparado por Orígenes, terá sido trabalhado e revisto pelos dois, a crer em Jerónimo.
Para facilitar a pesquisa dos textos evangélicos, Eusébio dividiu a versão das escrituras que tinha em seu poder em parágrafos que remetiam para uma tabela sinóptica, de forma a encontrar os pericópios que se referissem mutuamente.
As duas grandes obras históricas de Eusébio são a "Crónica" e a "História da Igreja". A primeira (em grego, "Pantodape historia", ou seja, "História Universal") é dividida em duas partes. A primeira, (em grego: "Chronographia", ou seja "Anais" ou cronologia), pretende ser um compêndio de história universal, organizada segundo as diversas nações, recorrendo às fontes históricas que Eusébio pesquisou arduamente. A segunda parte, (em grego, "Chronikoi kanones", ou seja, "Cânones cronológicos") tenta estabelecer sincronismos do material histórico em colunas paralelas. É um dos exemplos mais antigos do que é frequente, hoje em dia, nas obras de referência, como enciclopédias, onde os frisos cronológicos se tornaram um instrumento de trabalho e consulta.
O trabalho original, no seu todo, está perdido. Pode, porém, ser reconstruído a partir dos excertos copiados, com incansável diligência, pelos cronologistas da escola Bizantina, especialmente Jorge Sincelo. As tábuas cronológicas da segunda parte foram totalmente preservadas numa tradução em latim feita por Jerónimo, e as duas partes existem ainda numa tradução em arménio, ainda que o seu valor seja discutível devido às alterações em relação ao original que poderão ter sido feitas pelos tradutores. A "Crónica", tal como a conhecemos, estende-se até ao ano de 325. Foi escrita antes da "História da Igreja".
Na sua "História da Igreja" ou "História Eclesiástica"), Eusébio tentou, de acordo com as suas próprias palavras (I, i.1), apresentar a história da Igreja desde os apóstolos (história essa referida nos "Actos dos Apóstolos") até ao seu próprio tempo, tendo em conta os seguintes aspectos:
(1) a sucessão dos bispos nas Sés principais;
(2) a história dos Doutores da Igreja;
(3) a história das heresias;
(4) a história dos judeus;
(5) as relações com os pagãos;
(6) o martirológio.
Agrupou o seu material de acordo com os reinados dos imperadores, apresentando-o tal como o encontrou nas suas fontes. O conteúdo consistia em:
I. Livro I: introdução detalhada, sobre Jesus Cristo.
II. Livro II: A história da época apostólica, desde a Queda de Jerusalém até Tito.
III. Livro III: A época após Trajano
IV. Livross IV e V: o século II
V. Livro VI: O período de Severo a Décio
VI. Livro VII e VIII: historial do surto de perseguições movidas sob o reinado de Diocleciano
VII. Livro IX: História da vitória de Constantino I sobre Maxêncio no ocidente e sobre Maximino no oriente.
VIII. Livro X: O reestabelecimento das congregações e a rebelião e conquista de Licínio.
Tal como chegou até nós, a obra concluiu-se antes da morte de Crispo, em Julho de 326, e, desde o Livro x que é dedicada a Paulino de Tiro que morreu antes de 325, no final de 323 ou em 324. Este trabalho é realmente impressionante pela pesquisa que exigia e deve tê-lo ocupado por vários anos. O seu martirológio terá sido um dos estudos preparatórios para a obra.
A autenticidade da "História da Igreja" de Eusébio não é posta em causa. Descobertas recentes vão revelando a forma responsável, cuidadosa e inteligente como as bibliotecas de Cesareia e Jerusalém eram geridas.
Numa das passagens da obra, Eusébio defende que as calamidades sofridas pelo povo judeu se deveram ao seu papel na morte de Jesus. Esta passagem tem sido usada, ao longo da história, tanto para atacar judeus como cristãos. Ver Cristianismo e anti-semitismo.
"desde esse tempo que rebeliões, guerras e conspirações danosas os seguiu, a cada um, em rápida sucessão, incessantemente, quer na cidade, quer em toda a Judeia, até que o cerco de Vespasiano os esmagou. Foi assim que a vingança divina se cumpriu para os Judeus, pelos crimes que ousaram perpetrar contra Cristo." (Eusébio de Cesareia, História da Igreja: Livro II, Capítulo 6: As desventuras que advieram aos Judeus depois da Injúria cometida contra Cristo) [1] (http://web.cbn.org/bibleresources/theology/eusebius/churchhistory/eusebius-b2-7.asp)- texto em inglês.
Antes de compilar a sua história da Igreja, Eusébio trabalhou no martirológio do período primitivo e uma biografia de Pânfilo. O martirológio não foi conservado na íntegra, embora se tenha preservado quase na totalidade, em partes. Contém:
(1) uma epístola da congregação de Esmirna a respeito do martírio de Policarpo
(2) o martírio de Piónio;
(3) os martírios de Carpo, Papilo e Agatónica;
(4) o martirológio das congregações de Vienne e Lyons (actual França);
(5) o martírio de Apolónio.
Da vida de Pânfilo resta apenas um fragmento. Um trabalho sobre os mártires da palestina foi composto depois de 311. Um grande número de fragmentos encontram-se disseminados por vários catálogos de lendas, ainda por compilar. A vida de Constantino foi compilada após a morte do imperador e a eleição do seu filho como um dos Augusti (co-imperadores romanos), em 337. É mais um panegírico, repleto de retórica, que uma biografia, mas é de grande valor histórico pelos documentos que incorpora.
Dos trabalhos exegéticos de Eusébio nada nos chegou na sua forma original. Os cahamdos "comentários" baseiam-se em em manuscritos posteriores copiados dessa série (catenae) de escritos. Um trabalho mais completo, de natureza exegética, preservado apenas em fragmentos, intitula-se "Das Diferenças dos Evangelhos" e foi escrito com o intuito de harmonizar as contradições nos relatos dos diferentes evangelistas. Foi também com propósitos exegéticos que Eusébio escreveu os seus tratados de arqueologia bíblica:
(1) uma obra sobre os equivalentes, em grego, dos nomes de família hebreus.
(2) uma descrição da antiga Judeia, com uma relação da distribuição das dez tribos.
(3) uma planta de Jerusalém e do Templo de Salomão.
Estes três tratados estão perdidos. Uma obra intitulada "Sobre os Nomes dos Lugares nas Escrituras Sagradas" sobreviveu até nós.
Há, ainda, que fazer menção de discursos e sermões, alguns deles preservados até hoje, como é exemplo um sermão para a consagração da Igreja de Tiro, e um discurso para o trigésimo aniversário do reinado de Constantino (336). Das cartas de Eusébio, restam apenas alguns fragmentos.
Do ponto de vista dogmático, Eusébio apoia-se totalmente em Orígenes. Tal como este teólogo, partiu da ideia fundamental da soberania absoluta (monarchia) de Deus. Deus é a causa de todos os seres. Mas não é, meramente, uma causa; Nele, tudo o que é bom está incluído; Dele, toda a Vida é originada; e é a origem de toda a Virtude. É o Deus Supremo, ao qual, Cristo está sujeito como Deus segundo (secundário). Deus enviou Cristo para o Mundo para que este participasse das Graças incluídas na essência divina. Cristo é a única criatura realmente boa, possuindo a imagem de Deus, e sendo um raio de eterna luz; esta comparação com o raio de luz é, no entanto, de tal forma limitada que Eusébio necessita de, expressamente, enfatizar a auto-existência de Jesus.
Eusébio tenta, assim, enfatizar a diferença das Pessoas da Trindade, mantendo a subordinação de Jesus a Deus (Eusébio nunca aplica a Jesus o termo theos) porque, segundo ele, tudo o que é defendido para além disso é suspeito de politeísmo ou de Sabelianismo. Crê que Jesus é uma criatura de Deus cuja geração ocorreu antes do Tempo. Jesus é, pela sua actividade, o órgão de Deus, o criador da vida, o princípio de todas as revelações divinas, que, no seu carácter absoluto é entronado sobre toda a criação. Este Logos Divino assumiu um corpo humano sem que o seu Ser fosse em algo alterado. A relação do Espírito Santo com a Santíssima Trindade é explicada por Eusébio em termos similares à relação entre o Pai e o Filho. Nada do que é apresentado nesta doutrina é original de Eusébio, tudo remetendo para a teologia de Orígenes. A falta de originalidade de Eusébio revela-se no facto de nunca ter apresentado as suas próprias ideias de forma sistemática.
As limitações de Eusébio estão intimamente relacionadas com os seus maiores dotes. Na sua época foi, justamente, considerado o mais instruído dos seus representantes. Uma lista dos documentos que usou para a sua História da Igreja bastaria para perceber a vastidão do trabalho feito em organizar e analisar todo esse acervo de material. No entanto, o saber de Eusébio não pode ser comparado com o de Orígenes. Este último foi um espírito produtivo, Eusébio foi um compilador. Eusébio distingue-se, no entanto, pelo cuidado com que elaborou a sua obra. Um homem como Eusébio teve, sem dúvida, um lugar inigualável nesta época em que as nações bárbaras começaram a invadir, em massa, a Igreja. No período que se seguiu, ninguém o suplantou em erudição. Os historiógrafos eclesiásticos foram capazes de o copiar, não de ocupar o seu lugar.

d) Ambrósio

Ambrósio nasceu em Trier em 339. Seu pai era prefeito da Gália (França) e seus pais eram cristãos. Ambrósio seguiu as pisadas do seu pai e tornou-se governador de província na itália. Mas em 374 houve um conflito quanto ao apontamento do novo bispo de Milão e Ambrósio foi escolhido como um leigo. Na época, era apenas um catecúmeno, preparando-se para o batismo. Isto era normal na Igreja do IV século para aqueles do ofício público, e, portanto, sujeitos a submeter pessoas a morte, atrasar o batismo. Uma vez que o batismo era visto como um lavar externo de todos os pecados, era melhor adiá-lo até que os perigos morais do ofício público houvessem passado.
Estava ainda por aprender quase tudo em relação a religião cristã. Se dedicou sobretudo ao estudo da Sagrada Escritura, com tanto empenho que logo a dominou. Ambrósio não era um intelectual puro; mas um ótimo administrador da comunidade cristã confiada a ele. Tornou-se um verdadeiro pai espiritual dos jovens imperadores Graciano, Valentiniano II e do temível Teodósio I que não hesitou em repreender asperamente, exigindo dele uma penitência pública de expiação quando, para conter uma revolta, fez massacrar a população de Tessalônica. Ambrósio é o símbolo da igreja renascente após os sofridos anos de vida escondida e das perseguições romanas. Por meio dele a Igreja de Roma tratou sem servilismo com o poder público. Foram as suas qualidades pessoais que impuseram o bispo de Milão à devota atenção de todos. Sua atividade diária era dirigida antes de tudo à orientação da própria comunidade, e ele cumpria as suas tarefas pastorais dirigindo ao seu povo mais de uma homilia por semana. Agostinho foi seu ouvinte assíduo, como refere-nos em suas “Confissões”; tendo sido batizado por Ambrósio. Os seus livros publicados e que chegaram até nós, são apressadas transcrições de discursos, pouco ou nada revisados. Os seus célebres “Comentários exegéticos”, antes de serem reunidos em volumes, tinham sido pregados à comunidade cristã de Milão. Aí encontramos o tom familiar do pastor que se dirige com muita simplicidade e amor ao seu rebanho. Sente-se aí palpitar o coração de um grande bispo, que consegue suscitar a comoção nos ouvintes com argumentações carregadas de emotividade e de interesse. Gostava de fazer o seu povo cantar e compôs um bom número de hinos, alguns dos quais ainda hoje são bastante familiares na liturgia ambrosiana. Foi ele que introduziu no Ocidente o canto alternado dos salmos. Entre os seus escritos ainda encontramos aqueles que não têm uma relação direta com a sua pregação, como o “Deveres dos Ministros”, enfatizando o conhecido texto de Cícero, acolhendo todos os elementos e demonstrando que o cristianismo pode assimilar sem perigo de alterar o significado da Boa Nova os valores morais naturais que o mundo pagão, o romano em particular, soube expressar. Ambrósio morreu em Milão no dia 4 de abril do ano 397 e sua festa litúrgica é celebrada no dia 7 de dezembro.

e) Agostinho

Agostinho foi o maior teólogo cristão desde o apóstolo Paulo. Ele é o pai da Igreja Ocidental. Seus pensamentos dominaram a Idade média - os bons e os maus igualmente. Filósofo e Teólogo de Hipona, Norte da África. Polemista capaz, pregador de talento, administrador episcopal competente, teólogo notável, ele criou uma filosofia cristã da história que continua válida até hoje em sua essência.Vivendo num tempo em que a velha civilização clássica parecia sucumbir diante dos bárbaros, Agostinho permaneceu em dois mundos, o clássico e o novo medieval.
Aurélio Agostinho Nasceu em 354, na casa de um oficial romano na cidade de Thagaste em Numidia, atual Algéria, no norte da África, era filho de um pai pagão, Patrício, e de uma mãe católica-cristã, Mônica. Apesar de não serem ricos, era uma família respeitada. Sua mãe dedicou-se à sua formação e conversão à fé cristã.
Com muito sacrifício, seus pais lhe ofereceram o melhor estudo romano. Seus primeiros anos de estudo foram feitos na escola local, onde aprendeu latim à força de muitos açoites. Logo, foi enviado para a escola próximo a Madaura, e em 375 à Cartago, para estudar retórica.
Longe da família, Agostinho se apartou da fé ensinada por sua mãe, e entregou-se aos deleites do mundo e a imoralidade com seus amigos estudantes. Viveu ilegitimamente com uma concubina durante treze anos, a qual lhe concedeu um filho, Adeodato, em 372. O mesmo morreu cerca do ano 390.
Na busca pela verdade, ele aceitou o ensino herético maniqueísta, o qual ensinava um dualismo radical: o poder absoluto do mal; o Deus do Antigo Testamento, e o poder absoluto do bem ; o Deus do Novo Testamento. Nesta cegueira ele permaneceu nove anos sendo ouvinte, porém, não estando satisfeito, voltou à filosofia e aos ensinos do Neo-platonismo. Ensinou retórica em sua cidade natal e em Cartago, até quando foi para Milão, Itália, em 384. Em Roma, foi apontado pelo senador Símaco como professor de retórica em Milão, e depois para a casa imperial. Como parte de seu trabalho, ele deveria fazer oratórias públicas honrando o imperador Valenciano II.

No ano 386, quando passava várias crises em sua vida, Agostinho estava meditando num jardim sobre a sua situação espiritual, e ouviu uma voz próxima à porta que dizia: “Tome e Leia”. Agostinho abriu sua Bíblia em Romanos 13.13,14 e a leitura trouxe-lhe a luz que sua alma não conseguiu encontrar nem no maniqueísmo nem no neo-platonismo. Com sua conversão à Cristo, ele despediu sua concubina e abandonou sua profissão no Império. Sua mãe, que muito orara por sua conversão, morreu logo depois do seu batismo, realizado por Ambrósio na Páscoa de 387. Uma vez batizado, regressou um ano depois para Cartago, Norte da África, onde foi ordenado sacerdote em 391. Em Tagasta, ele supervisionou e instruiu um grupo de irmãos batizados chamados de “Servos de Deus”. Cinco anos depois, foi consagrado bispo de Hipona por pedido daquela congregação, onde permaneceu até sua morte. Daí até sua morte em 430, empenhou-se na administração episcopal, estudando e escrevendo.

Agostinho é apontado como o maior dos Pais da Igreja. Ele deixou mais de 100 livros, 500 sermões e 200 cartas. Suas obras mais importantes foram: Confissões, obra autobiográfica de sua vida antes e depois de sua conversão;Contra Acadêmicos, obra onde demonstra que o homem jamais pode alcançar a verdade completa através do estudo filosófico e que a certeza somente vem pela revelação na Bíblia; De Doctrina Christiana, obra exegética mais importante que escreveu, onde figuram as suas idéias sobre a hermenêutica ou a ciência da interpretação. Nela desenvolve o grande princípio da analogia da fé; De Trinitate, tratado teológico sobre a Trindade; De Civitate Dei, obra apologética conhecida como Cidade de Deus. Com o saque de Roma por Alarico, rei dos bárbaros em agosto 28 de 410, os romanos creditaram este desastre ao fato de terem abandonado a velha religião clássica romana e adotado o cristianismo. Nesta obra, põe-se a responder esta acusação a pedido de seu amigo Marcelino.
Agostinho escreveu também muitas obras polêmicas para defender a fé dos falsos ensinos e das heresias dos maniqueus, dos donatistas e, principalmente, dos pelagianos. Também escreveu obras práticas e pastorais, além de muitas cartas, que tratam de problemas práticos que um administrador eclesiástico enfrenta no decorrer dos anos do seu ministério.
A formulação de uma interpretação cristã da história deve ser tida como uma das contribuições permanentes deixadas por este grande erudito cristão. Nem os historiadores gregos ou romanos foram capazes de compreender tão universalmente a história do homem. Agostinho exalta o poder espiritual sobre o temporal ao afirmar a soberania de Deus sobre a criação. Esta e outras inspiradoras obras mantiveram viva a Igreja através do negro meio-milênio anterior ao ano 1000.
Agostinho é visto pelos protestantes como um precursor das idéias da Reforma com sua ênfase sobre a salvação do pecado original e atual através da graça de Deus, que é adquirida unicamente pela fé. Sua insistência na consideração dos sentido inteiro da Bíblia na interpretação de uma parte da Bíblia (Hermenêutica), é um princípio de valor duradouro para a Igreja.
Durante os últimos meses de vida, os vândalos tomaram a cidade fortificada de Hipona por mar e terra. Eles haviam destruído as cidades do Império Romano no Norte da África e as evidências do Cristianismo. A cidade estava cheia de pobres e refugiados, e a congregação de Agostinho não era uma excessão. No final de sua vida, ele foi submetido a uma enfermidade fatal, e com 75 anos ele pediu que ficasse só, a fim de se preparar para encontrar com o seu Deus. Um ano depois da morte de Agostinho em 430, os bárbaros queimaram toda a cidade, mas felizmente, a biblioteca de Agostinho foi salva, e seus escritos se perpetuam em nosso meio até a nossa era.

3) De acordo com o lido:

a) O que é o Credo Atanasiano?

O Credo Atanasiano é mais uma definição do que um credo. Nos tempos mais antigos era usado como um teste da ortodoxia do clero e como um compêndio simples da doutrina católica para instruir os leigos

O Credo Atanasiano é uma confissão magnífica sobre o Deus triúno. Lutero o considerou "a maior produção da igreja desde os tempos dos apóstolos".
A origem do credo é, entretanto, obscura. Desde o século IX alguns o atribuíram a Atanásio, o heróico defensor da doutrina da divindade de Cristo contra Ario. Entretanto, não há razões muito fortes para que se possa atribuí-lo a Atanásio:
1. Não há evidências de que Atanásio e seus contemporâneos tivessem tomado conhecimento desse credo (também chamado "Quicunque" – pois ele inicia com estas palavras: "Todo aquele. . . ").
2. Ele ataca heresias que surgiram depois da morte de Atanásio, quando Nestório e Éutico introduziram heresias sobre a Trindade e a pessoa de Cristo.
3. É bem provável que o autor desse credo era versado nos escritos de Agostinho, que viveu entre 354 e 430.
Mas se Atanásio não foi o autor, quem foi? A questão tem intrigado os estudiosos da história cristã ao longo de todos esses anos. O mais próximo que chegaram, baseados em evidências encontradas, foi de que se conhecia um credo semelhante a esse na Galiléia (hoje França) na metade do 5° século. Entretanto, só se tornou popular para fins de instrução após Carlos Magno (742-814) ter decretado que todos os clérigos tinham que aprendê-lo.
O Credo Atanasiano nunca teve um uso generalizado como os outros 2 credos. Mas se há um momento no Ano Eclesiático que ele deveria receber um pouco de atenção, este é no 1º Dom. após Pentecostes – o Domingo da SS. Trindade, pois essa doutrina, e especialemtne a da divindade de Cristo e de sua obra redentora, é o fundamento sobre o qual está edificada a igreja (Ef. 2.20).
O texto abaixo se encontra no Livro de Concórdia*:
Todo aquele que quer ser salvo, antes de tudo deve professar a fé católica. Quem quer que não a conservar íntegra e inviolada, sem dúvida perecerá eternamente.
E a fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância.
Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo;
Mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade.
Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo.
Incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo.
Imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo.
Eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo;
Contudo, não são três eternos, mas um único eterno;
Como não há três incriados, nem três imensos, porém um só incriado e um só imenso.
Da mesma forma, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente;
Contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente.
Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus;
E todavia não há três Deuses, porém um único Deus.
Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor;
Entretanto, não são três Senhores, porém um só Senhor.
Porque, assim como pela verdade cristã somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada pela verdade cristã somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada em separado, é Deus e Senhor, assim também estamos proibidos pela religião católica de dizer que são três Deuses ou três Senhores.
O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem negado.
O Filho é só do Pai; não feito, nem criado, mas gerado.
O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente.
Há, portanto, um único Pai, não três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos.
E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor; porém todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si; de modo que em tudo, conforme já ficou dito acima, deve ser venerada a Trindade na unidade e a unidade na Trindade.
Portanto, quem quer salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade.
Mas para a salvação eterna também é necessário crer fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo.
A fé verdadeira, por conseguinte, é crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem.
É Deus, gerado da substância do Pai antes dos séculos, e é homem, nascido, no mundo, da substância da mãe.
Deus perfeito, homem perfeito, subsistindo de alma racional e carne humana.
Igual ao Pai segundo a divindade, menor que o Pai segundo a humanidade.
Ainda que é Deus e homem, todavia não há dois, porém um só Cristo.
Um só, entretanto, não por conversão da divindade em carne, mas pela assunção da humanidade em Deus.
De todo um só, não por confusão de substância, mas por unidade de pessoa.
Pois, assim como a alma racional e a carne é um só homem, assim Deus e homem é um só Cristo;
O qual padeceu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos, subiu aos céus, está sentado à destra do Pai, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
À sua chegada todos os homens devem ressuscitar com os seus corpos e vão prestar contas de seus próprios atos;
E aqueles que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna; aqueles que tiverem praticado o mal irão para o fogo eterno.
Esta é a fé católica. Quem não a crer com fidelidade e firmeza, não poderá salvar-se.

b) Quem foi Francisco de Assis?

Francisco de Assis é o mais bem amado dos santos medievais. Ele nasceu em 1181/82, o filho de Pedro bernadone, um comerciante de roupas ricas de Assis. Sua vida foi monótona até que, no inicio dos seus vinte anos, teve vários encontros com Deus. Estes levaran-no a retirar-se de sua vida mundana e a abraçar uma vida de simplicidade e pobreza.
Em certo sentido Francisco de Assis penetrou na história do Ocidente e continua lançando desafios ao nosso tempo, apesar de ter vivido no século XIII. Suas idéias e atitudes são provocativas e renovam o espírito de inquietação na medida em que travamos um diálogo com o Poverello, através das fontes disponíveis. O seu carisma exerce um enorme fascínio e penetra nos mais variados meios, de tal forma que impressionam até o mais cético dos homens. Muitos o admiraram e o seguiram, superando as barreiras e os obstáculos do preconceito. Foi nesse espírito que, quando na primeira década do século XVII freqüentava a Universidade de Coimbra, Lucas Wading viu-se assediado por inúmeras cartas de condiscípulos que lhe manifestavam a sua estranheza e perguntavam porque sendo ele um homem de tanta capacidade, se sacrificava mantendo-se numa Ordem de ignorantes, fundada por um ignorante e impenetrável a tudo o que hoje se chama valor de cultura. Semelhantes insinuações, em vez de lhe quebrarem o ânimo ou diminuírem o entusiasmo pela vocação franciscana, criaram nele um novo ímpeto que o levou a mostrar aos homens do século, que conheceu e amou Francisco, acima destes julgamentos.
Francisco de Assis teve uma história própria, uma experiência muito pessoal, repleta de fatos, episódios e acontecimentos ricos em significado e ação. Saber um pouco desta história, quem era este homem, o que ele representou para si e seus contemporâneos, é uma tarefa dificílima e muito árdua, pois os séculos que nos separam, impede uma reconstrução total do espírito originário do Santo e de seus primeiros seguidores. Os documentos existentes nem sempre demonstram clareza, objetividade, neutralidade, imparcialidade e fidelidade, gerando múltiplas interpretações acerca de sua pessoa e de seus ideais. Contudo, esta constatação não deve desanimar os que tiverem algum interesse pelo Santo, mas, ao contrário, deve orientar na preparação de um estudo maduro e sério. Nesta linha de raciocínio, este pequeno ensaio não tem a pretensão de fazer nenhuma grande revelação e os seus objetivos são modestos. A principal meta é traçar, em linhas gerais, uma impressão pessoal acerca de Francisco, que obtive com algumas leituras.
Francisco nasceu num período de grande progresso no Ocidente Medieval, caracterizado por transformações demográficas e econômicas de um lado e, do outro, por inúmeras hesitações, contradições e ambiguidades. Os centros urbanos ganharam um novo impulso, uma renovada dinâmica e as Comunas se solidificaram como Instituição. As mudanças afetaram a vida das pessoas e também promoveram alterações na esfera religiosa. Como conseqüência, os leigos se destacaram pela crescente participação na vida religiosa, aumentando seu papel e sua presença nos domínios da igreja.
As cidades ganharam um caráter mais urbano e menos rural. Com isto, as práticas sociais foram rearranjadas e com elas a compreensão da vida espiritual. A riqueza dos mosteiros e o relaxamento espiritual dos monges se tornaram assuntos polêmicos e as críticas dirigidas a eles se acentuaram. Os monges haviam se intrometido desmesuradamente em assuntos temporais e perderam o espírito primitivo de penitência. Em contrapartida, a pobreza tornou-se um ideal a ser seguido e, nesse perspectiva, a vida no mosteiro não acompanhou os novos sinais dos tempos.
A Igreja, por seu lado, procurou corresponder a estas inovações, através da Reforma Gregoriana. Com ela, procurou empreender uma forte "cruzada" para combater as distorções e restaurar as origens. Entretanto, os ajustes estipulados não promoveram o resultado desejado e a Igreja permaneceu descompassada em relação ao seu tempo, fracassando em algumas de suas metas.
Diante desta nova realidade, Francisco deu sinais de sintonia fina com o seu tempo: pregou a pobreza como fundamento de sua vida e iniciou um movimento religioso com nítidos contornos laicais e não clericais. Os sentidos do Santo estiveram em perfeito funcionamento e foram bem capacitados para captarem as mudanças que ocorriam e, deste modo, o seu movimento triunfou por preencher um espaço em que a Igreja não conseguia acessar: Francisco sintetizou em sua prática vários dos anseios da religiosidade popular.
Francisco se sentiu tocado pelo Evangelho e teve sua vida transformada. A menoridade e o despojamento se constituíram elementos fundamentais no seu seguimento a Jesus. A experiência de fraternidade foi um dos pontos centrais da sua mística religiosa e da dos seus primeiros irmãos. Por isso, o Santo tinha toda a legitimidade para temer alguns perigos, que podiam não só desviá-los da própria vocação, mas também resfriar-lhes o coração.
Francisco era um leigo na concepção do Direito Canônico de sua época e isto representava que seu acesso a Sagrada Escritura era dificultado, pois os leigos não tinham a sua disposição o livro das Escrituras e os preços eram caros demais. E, mais ainda do que isto, haviam barreiras disciplinares, erguidas pela Igreja, que desestimulavam a posse do livro sagrado. A língua foi outra barreira encontrada por Francisco, pois ele dominava sua língua materna, mas provavelmente não conhecia muito bem o latim, a língua usada para escrever as Sagradas Escrituras.
Contudo, estas barreiras que se levantaram contra Francisco não o impediram de tomar conhecimento dos textos decisivos para a sua vida evangélica. Ele tinha o sentimento de ser capaz de chegar diretamente ao evangelho. Sua cultura, diferente da dos clérigos ou dos monges, estava bem distante das sutilezas alegóricas. Francisco, diferentemente dos teólogos de seu tempo, não queria interpretar o texto sagrado, nem cometer heresia, almejava essencialmente uma apreensão direta, literal e realista do que estava contido nas Sagradas Escrituras.
Deste modo, Francisco de Assis se mostrou muito reservado e reticente quanto ao estudo de teologia por parte de seus irmãos. Tinha receio que eles, chamados conscientemente de irmãos menores, pudessem, por causa disto, afastar-se do caminho da simplicidade e da humildade. Mas seus seguidores tinham sido chamados para prestar serviço à igreja e ele também reconhecia que seus irmãos somente poderiam prestar um importante serviço se apresentassem em seus sermões um conhecimento teológico bem fundamentado. Essa formação, Antônio podia dá-la a seus irmãos. Assim Francisco escreveu pelo fim de 1223 ou começo de 1224 a seguinte carta: "Ao meu irmão Antônio, meu bispo, saúdo eu, frei Francisco. Gostava muito que ensinasses aos irmãos a Sagrada Teologia, contanto que este estudo não extinga o espírito da santa oração e da devoção, segundo está escrito na Regra. Passar bem! "
A carta é breve, mas importante. O texto conciso é típico do Santo. Sem dúvida, foi ele quem tomou a decisão. Apesar de não tratar das particularidades técnicas, pois isto ele deixou ao encargo de Antônio, traçou uma importante linha diretriz de espiritualidade, atestando que ele não rejeitava a teologia, ainda que isso tenha sido afirmado por alguns autores e continue sendo afirmado. A carta fala claramente o oposto a isto. Entretanto, ela alerta sobre um ponto que aliás se destaca nos escritos do Poverello: ele rejeita o saber como fim em si mesmo e não deseja que seus irmãos adquirem honra e fama perante os homens por meio do saber.
Por isto, cabe dizer que o relacionamento de Francisco com os estudos apesar de ser paradoxal e ambíguo, não era de total aversão. Ele não pertenceu a classe dos letrados e gostava de chamar-se "simples e ignorante". Contudo, possuía cultura suficiente para valorizar as atividades intelectuais e as aspirações dos homens de estudo. Venerou os teólogos e a ciência, somente não a colocou, inicialmente, entre os meios de formação e ação da fraternidade, tendo em vista que tinha algumas reservas para com o saber, sobretudo devido ao compromisso fundamental de serem pobres e menores. A mesma razão que levou Francisco a dispensar o dinheiro levou-o a não recorrer a ciência, num momento em que aparecia como força na Europa: Para ele, o saber, como o poder e o ter, eram tentações do orgulho humano e fonte permanente de desigualdade e, por isso, pressentia que os estudos poderiam ser utilizados como instrumento de domínio, de orgulho e de poder.
Com relação a vida de pobreza, a sua opção resultou do desejo de ser livre para seguir (diferente de imitar) o Mestre. Como produto desta escolha, desse casamento, brotou o propósito de preparar os pobres para receber a Boa-Nova, cuja revelação é reservada aos humildes, que são os herdeiros privilegiados. O Poverello de Assis identificou no pobre o próprio Jesus Cristo, de quem é a imagem, inteiramente fundamentado na atenção de Cristo pelos pobres. A pobreza foi dignificada e entendida como um estado de mérito, oferecida aos pobres e a seus benfeitores. Entretanto, nos parece que, neste ponto, Francisco não podia ser tão inovador, tendo permanecido, deste modo, inserido dentro dos modelos antigos de assistência aos pobres na concepção tradicional. A inovação de Francisco foi se unir aos pobres, se tornando ele próprio um, afirmando a dignidade da pobreza, sem romper os laços com a estrutura da Igreja.
O espírito de cavalaria foi uma outra marca importante de Francisco. O jovem cresceu em um ambiente em que a literatura de cavalaria era amplamente difundida e os seus ideais consagrados em estilos de vida. Os nobres eram os cavaleiros, mas o ideal de cavalaria não se restringia a eles. A cidade de Assis tinha posição geográfica privilegiada, o que a tornava um ponto estratégico na luta entre imperador e papado e, por este motivo, na cidade transitavam nobres cavaleiros em busca de aventuras. Francisco de Assis, certamente, entrou em contato com muitos cavaleiros e com eles muito aprendeu sobre a prática cavalheiresca. O próprio Francisco tinha ambição de se tornar um nobre cavaleiro e para alcançar esta meta se paramentou e foi a guerra. Mas, após a mudança de vida, os elementos que o Santo aprendeu com os romances e os cavaleiros que passavam por Assis foram adotados com uma nova roupagem: canalizados para o aprofundamento de sua vida espiritual. A linguagem usada por Francisco para louvar o senhor seu Deus estava imbuída de forte conotação cavalheiresca e o seu amor cortês. Francisco pregava a humildade, a generosidade, o respeito a natureza e outros atributos extraídos dos ideais de cavalaria. Porém, o jovem de Assis se distanciou dos nobres cavaleiros de seu tempo na medida em que devotou sua vida a um único Senhor, o seu Deus. Francisco não praticou a guerra e sua vida foi um convite à defesa da paz e ao amor entre os homens. Francisco se aventurou no seguimento radical a Jesus. O amor cortês de Francisco derivava do amor pela esposa do seu Senhor, do mesmo modo que o cavaleiro bajulava a esposa do seu Senhor temporal. O Poverello declarava o seu amor pela dama pobreza, esposa de seu Senhor Jesus. Na medida em que admitimos uma reordenação dos princípios cavalheirescos, podemos aceitar que Francisco foi um grande cavaleiro: o cavaleiro da dama pobreza.
O desejo de martírio e a viagem ao Oriente também acarretaram mudanças na trajetória de Francisco. A viagem teve uma conotação extremamente importante e inovadora: foi um misto de martírio, enquanto vontade de alcançá-lo, e uma prática missionária renovada. Francisco não tratou o Sultão como seu inimigo e, ao contrário, procurou com ele dialogar e divulgar a sua fé. Dialogando com o Sultão, o Poverello assinalou novos caminhos para a vida missionária da Igreja e, provavelmente, reformulou o seu próprio conjunto doutrinário: uma prática não hostil e cheia de firmeza e convicção de fé.
Assim sendo, podemos dizer que o Santo foi um homem de seu tempo: ele sofreu a influência da cultura cavalheiresca e sua devoção a pobreza teve contornos corteses. Por outro lado, Francisco se distanciou de seu tempo a medida que dava um tratamento diferenciado aos rejeitados pelos membros da Comuna e pela Igreja. Enquanto estes, apoiados na nova legislação canônica, excluíam leprosos, homossexuais e hereges (muçulmanos), Francisco proclamou a presença de Deus em todas as criaturas e se transformou no trovador de uma nova alegria.
c) Tomás de Aquino
Tomás de Aquino nasceu em 1225, perto de Nápoles como o filho mais novo do conde de Aquina. Era unido pelos laços de sangue à família imperial e às famílias reais de França, Sicília e Aragão. Recebeu a primeira educação no grande mosteiro de Montecassino, passando a mocidade em Nápoles como aluno daquela universidade. Depois de ter estudado as artes liberais, entrou na ordem dominicana, renunciando a tudo, salvo à ciência. Tal acontecimento determinou uma forte reação por parte de sua família; entretanto, Tomás triunfou da oposição e se dedicou ao estudo assíduo da teologia, tendo como mestre Alberto Magno, primeiro na universidade de Paris (1245-1248) e depois em Colônia.
Após uma longa preparação e um desenvolvimento promissor, a escolástica chega ao seu ápice com Tomás de Aquino. Adquire plena consciência dos poderes da razão, e proporciona finalmente ao pensamento cristão uma filosofia. Assim, converge para Tomás de Aquino não apenas o pensamento escolástico, mas também o pensamento patrístico, que culminou com Agostinho, rico de elementos helenistas e neoplatônicos, além do patrimônio de revelação judaico-cristã, bem mais importante.
Para Tomás de Aquino, porém, converge diretamente o pensamento helênico, na sistematização imponente de Aristóteles. O pensamento de Aristóteles, pois, chega a Tomás de Aquino enriquecido com os comentários pormenorizados, especialmente árabes.
Em 1252 Tomás voltou para a universidade de Paris, onde ensinou até 1269, quando regressou à Itália, chamado à corte papal. Em 1269 foi de novo à universidade de Paris, onde lutou contra o averroísmo de Siger de Brabante; em 1272, voltou a Nápoles, onde lecionou teologia. Dois anos depois, em 1274, viajando para tomar parte no Concílio de Lião, por ordem de Gregório X, faleceu no mosteiro de Fossanova, entre Nápoles e Roma. Tinha apenas quarenta e nove anos de idade.
As suas obras podem-se dividir em quatro grupos:
1. Comentários: à lógica, à física, à metafísica, à ética de Aristóteles; à Sagrada Escritura; a Dionísio pseudo-areopagita; aos quatro livros das sentenças de Pedro Lombardo.
2. Sumas: Suma Contra os Gentios, baseada substancialmente em demonstrações racionais; Suma Teológica, começada em 1265, ficando inacabada devido à morte prematura do autor.
3. Questões: Questões Disputadas (Da verdade, Da alma, Do mal, etc.); Questões várias.
4. Opúsculos: Da Unidade do Intelecto Contra os Averroístas; Da Eternidade do Mundo, etc.
Diversamente do agostinianismo, e em harmonia com o pensamento aristotélico, Tomás considera a filosofia como uma disciplina essencialmente teorética, para resolver o problema do mundo. Considera também a filosofia como absolutamente distinta da teologia, - não oposta - visto ser o conteúdo da teologia arcano e revelado, o da filosofia evidente e racional.
A gnosiologia tomista - diversamente da agostiniana e em harmonia com a aristotélica - é empírica e racional, sem inatismos e iluminações divinas. O conhecimento humano tem dois momentos, sensível e intelectual, e o segundo pressupõe o primeiro. O conhecimento sensível do objeto, que está fora de nós, realiza-se mediante a assim chamada espécie sensível. Esta é a impressão, a imagem, a forma do objeto material na alma, isto é, o objeto sem a matéria: como a impressão do sinete na cera, sem a materialidade do sinete; a cor do ouro percebido pelo olho, sem a materialidade do ouro.
O conhecimento intelectual depende do conhecimento sensível, mas transcende-o. O intelecto vê em a natureza das coisas - intus legit - mais profundamente do que os sentidos, sobre os quais exerce a sua atividade. Na espécie sensível - que representa o objeto material na sua individualidade, temporalidade, espacialidade, etc., mas sem a matéria - o inteligível, o universal, a essência das coisas é contida apenas implicitamente, potencialmente. Para que tal inteligível se torne explícito, atual, é preciso extraí-lo, abstraí-lo, isto é, desindividualizá-lo das condições materiais. Tem-se, deste modo, a espécie inteligível, representando precisamente o elemento essencial, a forma universal das coisas.
Pelo fato de que o inteligível é contido apenas potencialmente no sensível, é mister um intelecto agente que abstraia, desmaterialize, desindividualize o inteligível do fantasma ou representação sensível. Este intelecto agente é como que uma luz espiritual da alma, mediante a qual ilumina ela o mundo sensível para conhecê-lo; no entanto, é absolutamente desprovido de conteúdo ideal, sem conceitos diferentemente de quanto pretendia o inatismo agostiniano. E, ademais, é uma faculdade da alma individual, e não noa advém de fora, como pretendiam ainda i iluminismo agostiniano e o panteísmo averroísta. O intelecto que propriamente entende o inteligível, a essência, a idéia, feita explícita, desindividualizada pelo intelecto agente, é o intelecto passivo, a que pertencem as operações racionais humanas: conceber, julgar, raciocinar, elaborar as ciências até à filosofia.
Como no conhecimento sensível, a coisa sentida e o sujeito que sente, formam uma unidade mediante a espécie sensível, do mesmo modo e ainda mais perfeitamente, acontece no conhecimento intelectual, mediante a espécie inteligível, entre o objeto conhecido e o sujeito que conhece. Compreendendo as coisas, o espírito se torna todas as coisas, possui em si, tem em si mesmo imanentes todas as coisas, compreendendo-lhes as essências, as formas.
É preciso claramente salientar que, na filosofia de Tomás de Aquino, a espécie inteligível não é a coisa entendida, quer dizer, a representação da coisa (id quod intelligitur), pois, neste caso, conheceríamos não as coisas, mas os conhecimentos das coisas, acabando, destarte, no fenomenismo. Mas, a espécie inteligível é o meio pelo qual a mente entende as coisas extramentais (é, logo, id quo intelligitur). E isto corresponde perfeitamente aos dados do conhecimento, que nos garante conhecermos coisas e não idéias; mas as coisas podem ser conhecidas apenas através das espécies e das imagens, e não podem entrar fisicamente no nosso cérebro.
O conceito tomista de verdade é perfeitamente harmonizado com esta concepção realista do mundo, e é justificado experimentalmente e racionalmente. A verdade lógica não está nas coisas e nem sequer no mero intelecto, mas na adequação entre a coisa e o intelecto: veritas est adaequatio speculativa mentis et rei. E tal adequação é possível pela semelhança entre o intelecto e as coisas, que contêm um elemento inteligível, a essência, a forma, a idéia. O sinal pelo qual a verdade se manifesta à nossa mente, é a evidência; e, visto que muitos conhecimentos nossos não são evidentes, intuitivos, tornam-se verdadeiros quando levados à evidência mediante a demonstração.
Todos os conhecimentos sensíveis são evidentes, intuitivos, e, por conseqüência, todos os conhecimentos sensíveis são, por si, verdadeiros. Os chamados erros dos sentidos nada mais são que falsas interpretações dos dados sensíveis, devidas ao intelecto. Pelo contrário, no campo intelectual, poucos são os nossos conhecimentos evidentes. São certamente evidentes os princípios primeiros (identidade, contradição, etc.). Os conhecimentos não evidentes são reconduzidos à evidência mediante a demonstração, como já dissemos. É neste processo demonstrativo que se pode insinuar o erro, consistindo em uma falsa passagem na demonstração, e levando, destarte, à discrepância entre o intelecto e as coisas.
A demonstração é um processo dedutivo, isto é, uma passagem necessária do universal para o particular. No entanto, os universais, os conceitos, as idéias, não são inatas na mente humana, como pretendia o agostinianismo, e nem sequer são inatas suas relações lógicas, mas se tiram fundamentalmente da experiência, mediante a indução, que colhe a essência das coisas. A ciência tem como objeto esta essência das coisas, universal e necessária.
A metafísica tomista pode-se dividir em geral e especial. A metafísica geral - ou ontologia - tem como objeto o ser em geral e as atribuições e leis relativas. A metafísica especial estuda o ser em suas grandes especificações: Deus, o espírito, o mundo. Daí temos a teologia racional - assim chamada, para distingui-la da teologia revelada; a psicologia racional (racional, porquanto é filosofia e se deve distinguir da moderna psicologia empírica, que é ciência experimental); a cosmologia ou filosofia da natureza (que estuda a natureza em suas causas primeiras, ao passo que a ciência experimental estuda a natureza em suas causas segundas).
O princípio básico da ontologia tomista é a especificação do ser em potência e ato. Ato significa realidade, perfeição; potência quer dizer não-realidade, imperfeição. Não significa, porém, irrealidade absoluta, mas imperfeição relativa de mente e capacidade de conseguir uma determinada perfeição, capacidade de concretizar-se. Tal passagem da potência ao ato é o vir-a-ser, que depende do ser que é ato puro; este não muda e faz com que tudo exista e venha-a-ser. Opõe-se ao ato puro a potência pura que, de per si, naturalmente é irreal, é nada, mas pode tornar-se todas as coisas, e chama-se matéria.
Uma determinação, especificação do princípio de potência e ato, válida para toda a realidade, é o princípio da matéria e de forma. Este princípio vale unicamente para a realidade material, para o mundo físico, e interessa portanto especialmente à cosmologia tomista. A matéria não é absoluto, não-ente; é, porém, irreal sem a forma, pela qual é determinada, como a potência é determinada, como a potência é determinada pelo ato. É necessária para a forma, a fim de que possa existir um ser completo e real (substância). A forma é a essência das coisas (água, ouro, vidro) e é universal. A individuação, a concretização da forma, essência, em vários indivíduos, que só realmente existem (esta água, este ouro, este vidro), depende da matéria, que portanto representa o princípio de individuação no mundo físico. Resume claramente Maritain esta doutrina com as palavras seguintes: "Na filosofia de Aristóteles e Tomás de Aquino, toda substância corpórea é um composto de duas partes substanciais complementares, uma passiva e em si mesma absolutamente indeterminada (a matéria), outra ativa e determinante (a forma)".
Além destas duas causas constitutivas (matéria e forma), os seres materiais têm outras duas causas: a causa eficiente e a causa final. A causa eficiente é a que faz surgir um determinado ser na realidade, é a que realiza o sínolo, a saber, a síntese daquela determinada matéria com a forma que a especifica. A causa final é o fim para que opera a causa eficiente; é esta causa final que determina a ordem observada no universo. Em conclusão: todo ser material existe pelo concurso de quatro causas - material, formal, eficiente, final; estas causas constituem todo ser na realidade e na ordem com os demais seres do universo físico.
Quando a forma é princípio da vida, que é uma atividade cuja origem está dentro do ser, chama-se alma. Portanto, têm uma alma as plantas (alma vegetativa: que se alimenta, cresce e se reproduz), e os animais (alma sensitiva: que, a mais da alma vegetativa, sente e se move). Entretanto, a psicologia racional, que diz respeito ao homem, interessa apenas a alma racional. Além de desempenhar as funções da alma vegetativa e sensitiva, a alma racional entende e quer, pois segundo Tomás de Aquino, existe uma forma só e, por conseguinte, uma alma só em cada indivíduo; e a alma superior cumpre as funções da alma inferior, como a mais contém o menos.
No homem existe uma alma espiritual - unida com o corpo, mas transcendendo-o - porquanto além das atividades vegetativa e sensitiva, que são materiais, se manifestam nele também atividades espirituais, como o ato do intelecto e o ato da vontade. A atividade intelectiva é orientada para entidades imateriais, como os conceitos; e, por conseqüência, esta atividade tem que depender de um princípio imaterial, espiritual, que é precisamente a alma racional. Assim, a vontade humana é livre, indeterminada - ao passo que o mundo material é regido por leis necessárias. E, portanto, a vontade não pode ser senão a faculdade de um princípio imaterial, espiritual, ou seja, da alma racional, que pelo fato de ser imaterial, isto é, espiritual, não é composta de partes e, por conseguinte, é imortal.
Como a alma espiritual transcende a vida do corpo depois da morte deste, isto é, é imortal, assim transcende a origem material do corpo e é criada imediatamente por Deus, com relação ao respectivo corpo já formado, que a individualiza. Mas, diversamente do dualismo platônico-agostiniano, Tomás sustenta que a alma, espiritual embora, é unida substancialmente ao corpo material, de que é a forma. Desse modo o corpo não pode existir sem a alma, nem viver, e também a alma, por sua vez, ainda que imortal, não tem uma vida plena sem o corpo, que é o seu instrumento indispensável.
Como a cosmologia e a psicologia tomistas dependem da doutrina fundamental da potência e do ato, mediante a doutrina da matéria e da forma, assim a teologia racional tomista depende - e mais intimamente ainda - da doutrina da potência e do ato. Contrariamente à doutrina agostiniana que pretendia ser Deus conhecido imediatamente por intuição, Tomás sustenta que Deus não é conhecido por intuição, mas é cognoscível unicamente por demonstração; entretanto esta demonstração é sólida e racional, não recorre a argumentações a priori, mas unicamente a posteriori, partindo da experiência, que sem Deus seria contraditória.
As provas tomistas da experiência de Deus são cinco: mas todas têm em comum a característica de se firmar em evidência (sensível e racional), para proceder à demonstração, como a lógica exige. E a primeira dessas provas - que é fundamental e como que norma para as outras - baseia-se diretamente na doutrina da potência e do ato. "Cada uma delas se firma em dois elementos, cuja solidez e evidência são igualmente incontestáveis: uma experiência sensível, que pode ser a constatação do movimento, das causas, do contingente, dos graus de perfeição das coisas ou da ordem que entre elas reina; e uma aplicação do princípio de causalidade, que suspende o movimento ao imóvel, as causas segundas à causa primeira, o contingente ao necessário, o imperfeito ao perfeito, a ordem à inteligência ordenadora".
Se conhecermos apenas indiretamente, pelas provas, a existência de Deus, ainda mais limitado é o conhecimento que temos da essência divina, como sendo a que transcende infinitamente o intelecto humano. Segundo o Aquinate, antes de tudo sabemos o que Deus não é (teologia negativa), entretanto conhecemos também algo de positivo em torno da natureza de Deus, graças precisamente à famosa doutrina da analogia. Esta doutrina é solidamente baseada no fato de que o conhecimento certo de Deus se deve realizar partindo das criaturas, porquanto o efeito deve Ter semelhança com a causa. A doutrina da analogia consiste precisamente em atribuir a Deus as perfeições criadas positivas, tirando, porém, as imperfeições, isto é, toda limitação e toda potencialidade. O que conhecemos a respeito de Deus é, portanto, um conjunto de negações e de analogias; e não é falso, mas apenas incompleto.
Quanto ao problemas das relações entre Deus e o mundo, é resolvido com base no conceito de criação, que consiste numa produção do mundo por parte de Deus, total, livre e do nada.

d) Catarina de Siena

Catarina di Giacomo di Benincasa nasceu em 1347 filha de um tintureiro de lã sienence. Ela era a vigésima quarta de vinte e cinco filhos. Quando tinha sete anos teve uma visão de Jesus com Pedro, Paulo e João. Como resultado disto resoulveu levar uma vida de celibato. Sua família levou algum tempo para aceitar isto e quando tinha quinze anos, Catarina teve que cortar seus cabelos para evitar o casamento.
Mística, católica, italiana, nascida em Siena, Toscana, de participação destacada nos conflitos político-religiosos de sua época e que, segundo a tradição popular, teve a dolorosa experiência de ter reproduzidas em seu corpo as cinco chagas de Cristo. Nascida de uma família numerosa e modesta começou a ter visões de Jesus a partir dos seis anos de idade. Aos vinte anos foi admitida na ordem terceira das dominicanas, cujos congregados levavam uma vida religiosa fora do claustro. O seu trabalho religioso começou a aparecer quando começou a pregar uma cruzada contra o Islã, e foi até Avignon, e convenceu o papa Gregório XI a voltar para Roma (1377) para fazer a paz na Itália. Com a morte de Gregório XI (1378), apoiou o papa eleito Urbano VI de Roma, contra o antipapa Clemente VII, o que provocou o grande cisma do Ocidente. Escreveu o famoso Diálogo, um apaixonado canto de amor à igreja. Morreu em Roma e a imensa popularidade de que gozou em vida e depois da morte, a participação nos conflitos políticos de sua época e as intensas experiências místicas a tornaram uma figura excepcional entre os membros da Igreja Católica.

4) Fale de Desidério Erasmo

Desidério Erasmo nasceu em 28 de outubro de 1467, em Rotterdã, o filho ilegítimo de um sacerdote. Ele foi educado por algúns anos pelos Irmãos da vida comum. Após um período de estudo em Paris, a partir de 1495 tornou-se um erudito independente, viajando largamente por toda Europa.
É um pensador humanista de grande importância, mas ligado ainda à teologia. Filho de Gerardius de Präel, morreu quando Erasmo tinha treze anos, em 1480. Era chamado de o filho de Geraldo, pois era usual naquela época os filhos serem conhecidos pelos nomes dos pais. Começou seus estudos em Guda, passando pouco depois à catedral como monaguilho. Foi para a célebre éscola de Alexandre Hegius em Deventer, até que morreu sua mãe. Parou de estudar então por falta de recursos.
A pedido de seus parentes e tutores, foi para o seminário de Bois-de-Due. Devido ao seu caráter introspectivo e por ser um estudioso aplicado, o julgavam apto a seguir a carreira monástica e se se tornar padre. Porém, nos três anos em que Erasmo passou como seminarista, não se ocupou muito com a filosofia e com a religião, preferindo a música e a pintura. Após este período, voltou à Guda, onde viveu com seus tutores. Lá, com 19 anos, se decidiu a seguir a vida de claustro, junto com seu amigo Cornelio Verdenius, antigo companheiro em Deventer. Foi então para o convento de Stéin o Emmaus, nos arredores de Guda. Após mais um tempo no convento, decidiu defnitivamente que não havia nascido para monge. Mas para não desagradar seus parentes, fez os votos e continuou estudando. Enquanto seus companheiros de monastério se dedicavam aos cultos religiosos, Erasmo ia sozinho para a biblioteca e lá passava horas estudando, fazendo anotações. Isto levou a uma formação de uma cultura superior, que mais tarde veio a ser a causa de seu êxito intelectual e da fama de sua erudição. Se entusiasmou com as obras do humanista Lorenzo Valla, e em companhia de seu amigo Guilherme Hermann - que se tornou poeta lírico - , aprendeu a língua latina. A língua latina era a língua escrita por execelência, além de ser básica na Igreja católica, que ainda dominava em grande parte a cultura da Idade Média. O conhecimento do Latim possibitou a Erasmo fazer-se entender em outros países.
Erasmo, orfão de pais desde cedo, obrigado a viver a vida regrada dos monastérios, já exercia no começo de sua juventude a agudez satírica que o consagraria mais tarde em seu Elogio da Loucura. Por essa época, divertia-se com pequenos ensaios, como o "De Contemptu Mundi", que ironizava a vida dos monges, relevando o aspecto mundano destes. Felizmente, não precisou continuar muito mais tempo nesta vida, pois graças ao seu bom latim, foi nomeado por seus superiores para acompanhar até Roma Enrique de Bergen, bispo de Cambrai, a quem o papa havia concedido o título de cardeal. A viagem durou bastante e o cardeal foi seu protetor durante este tempo. Para acompanhá-lo, Erasmo foi ordenado presbítero. Será uma constante na vida de Erasmo a ajuda e o suporte de amigos, mecenas e pessoas poderoas que se interessavam pela cultura. Em 1486, Erasmo foi para Paris terminar seus estudos. Se instalou no colégio Montaigú, onde sentia repugnância pelos ensinamentos teológicos e pela comida, que era basicamente a base de peixe, alimento que lhe fazia mal. Aguentou durante três meses esta situação, até que lhe autorizaram a voltar para Cambrai, onde residiu por mais um ano. Lá se curou das enfermidades que lhe ocorreram durante sua estada na França. Ao cabo deste ano, voltou a Paris, mas sem a proteção de Enrique de Bergen, que havia falecido, foi obrigado a se iniciar como professor particular para sobreviver. Conseguiu alguns discípulos ricos, que lhe davam excelente pagamento. Entre seus discípulos estava Guilherme Mountjoy, um inglês, que gostava muito de Erasmo e lhe acolheu em sua casa, com o consentimento de seus pais, estes muito estimaram a presença dum professor de maneiras corretas e grande cultura. Foi então que uma grande peste assolou Paris, e centenas de habitantes começram a morrer diariamente. Erasmo fugiu para o sul da França, onde travou amizade com a marquesa Ana de Vera, que também ficou encantada com Erasmo e passou a lhe fornecer uma pensão de cem florins. Pouco tempo depois foi erasmo para Orleans, onde permaneceu três meses na casa do catedrático Jaime Tudor, que havia conhecido em Cambrai, onde Tudor lecionava direito canônico.
Em 1497, foi com seu discípulo Guilherme Mountjoy para Londres, onde permaneceu até 1500. Lá visitou a Universidade de Cambridge e Oxford, onde travou amizade com os mais insígnes humanistas da época, como Thomas More - a quem veio a ser grande amigo - , Juan Coleti, Guilhermo Crocyn e Latimer.
Thomas More o apresentou ao rei Henrique VII, que o recebeu com muita estima, pois Erasmo sempre se fazia simpático e amigável com os poderosos. Na Universidade de Oxford, termina seus estudos em grego, um idioma que só os eruditos conheciam na época. este conhecimento serviu de ponte para sua relação com o douto filósofo Juan Colet, que lhe deu a conhecer obras importantíssimas, como a primeira versão da Bíblia. O conhecimento deste manuscrito foi decisivo para Erasmo se apartar da filosofia escolástica.
Volta então à França, passando pelas cidades de Paris, Orleans, e Lovaina, analisando as obras curiosas das bibliotecas locais. Vivendo quase que exclusivamente da escrita, como acontecia com a maior parte dos humanistas. Começou a publicar vários livros e tratados, que chamaram a atenção dos estudiosos e lhe conferiram uma grande autoridade intelectual. Os poderosos e magnatas passaram a solicitar a companhia de tal estudioso, tão versado nas ciências filológicas e literárias.
Em 1504, o encarregam de recepcionar o novo governante, o arquiduque Felipe, recebendo por este trabalho 50 moedas de ouro, o que solucionou seu problema financeiro por dois anos. Pouco tempo depois, na Louvania, travou relação com um grupo de teólogos, entre os quais o futuro Alexandre VI e o fransciscano P. Vitrarius, que se tornou seu amigo íntimo e o ajudou economicamente depois.
Graças a um mecenas de Lovaina, editou as obras de um de seus autores prediletos, o sábio Lorenzo Valla. Se dedicou às obras sobre o Novo Testamento deste sábio, e pôs um prefácio considerado interessantíssimo, que foi muuito comentado em todas as partes. Um dos grandes desejos de sua vida era conhecer bem a Itália, mas as suas ocupações e problemas financeiros não permitiam a realização de tal projeto. Seus numerosos amigos de Londres lhe facilitaram uma cátedra em Cambridge, onde lecionava seu antigo discípulo Guilhermo, que sempre o estimou.
Em 1506 Erasmo finalmente realizou seu desjo de ir à Itália, passando antes por Paris e Lion, cidade que lhe agradou muitíssimo. Passou por Turim, cuja Universidade lhe concedeu o título de doutor em teologia, sendo muito admiradas as suas aulas que expunham de forma original e convidativa os textos cristãos.
Residiu brevemente em Bologna - que era um grande centro cultural italiano - passando pouco depois à Florença, onde também foi homenageado pelas universidades e centros de cultura. regressou pouco tempo depois à Bologna, onde o papa Jacob II o saudou, e lhe disse que seria muito bem vindo em Roma, se resolvesse lá fixar residência. Foi para Roma e lá ficou durante um ano, sendo estimado por todos, pois o papa não parava de elogiar os profundos conhecimentos de Erasmo, que nesta época já era famoso em toda Europa. Encaminhando-se em Veneza, travao amizade com o impressor Aldo Monucio, que há pouco tempo havia publicado a sua obra Adágios, por volta de 1500. Aldo foi seu hospedeiro e introdutor em Veneza, mas Erasmo demonstrou ingratidão ao satirizar Aldo e sua família.
Em 1508, Erasmo abandonou Veneza, passa uma curta temporada em Pádua e retorna à Roma, detendo-se alguns dias na cidade de Siena, onde visitou um antigo aluno.
O êxito de seu adágio lhe valeu novas amizades e o ingresso nos círculos culturais, bem como uma infinidade de alunos, que ansiavam por aprender suas lições. O papa o dispensou de seus votos clericais, que havia feito anteriormente, e isso lhe permitiu uma maior liberdade para se vestir e uma maior flexibilidade de costumes. Quando Henrique VII - que Erasmo conheceu quando este era princípe herdeiro - assume o trono da Inglaterra, insiste muito para que fique com ele, pois lembrava das lições de Erasmo na Universidade de Cambridge. Por volta do ano de 1511, permaneceu um ano na localidade de Addington, a convite do arcebispo de Canterbury. De lá saiu por ser uma província demasiado pequena e não poder relacionar-se com pessoas mais instruídas, como costumava fazer. Nesta época começou a sentir-se mal de saúde, sofrendo enfermidades e moléstias, por conta do clime nebuloso da ilha. Passou a pensar em morar num melhor clima, mas que pudesse ainda manter-se estudando.
Em 1513 foi para a Alemanha, passando pelas cidades mais importantes até chegar à Basiléia. Era sempre bem recebido por onde chegava. Na Basiléia foi chamado novamente pela corte inglesa, onde permaneceu até 1516, indo então para a Holanda, na corte do jovem monarca Carlos, que lhe nomeou seu conselheiro, assegurnando-lhe uma pensão de 400 florins. Erasmo não era obrigadi a morar com ele e pouco trabalhava. Isto lhe deu liberdade para que viajasse a vontade pelo estado.
Com o dinheiro da pensão, Erasmo comprou uma casa sossegada num lugar aprazível, onde se rodeou de comodidades, adim de passar confortavelmente o inverno. Erasmo sempre sofreu com o inverno, e por isto desta vez equipou bem a sua casa, com estufa e forros na parede.
Sua prosperidade foi crescendio, e com o dinheiro que sobrava, subsidiava jovens estudantes que mostravam predisposição para a filologia e a literatura. Aos políticos que lhe vinham pedir conselho, geralmente não o dava, pois não se considerava político e achava que isso deveria ser feito só pelos que se dedicavam à essa área, a qual não tinha vocação. A vida de Erasmo era totalmente dedicada ao labor intelectual, e tudo que estivesse forda disto era evitado. Os lugares de preferência de Erasmo era a Lavaina, Basiléia, Bruxelas, Amberes e Londres. Em londres ia sempre que o monarca inglês solicitava seus serviços. Residiu durante muitos anos na sua tranquila propriedade da Basiléia, estabelecendo notável correspondência com os filósofos e eruditos mais celébres de seu tempo, como Escolampadro, beato Rheananus e Gloreano. Com a chegada da reforma na Alemanha, Erasmo se vê obrigado a emigrar, indo pra Friburgo de Brisgau, onde adquiriu uma casa modestíssima, que preparou conforme seu gosto, para poder se dedicar à escritura e a à leitura, únicos prazeres verdadeiros de sua vida de solitário.
Erasmo, que deixara a Basiléia por ser contra os protestantes, começa a ser utilizado também na Holanda, com a instauração das doutrinas protestantes em sua pátria. Isto lhe fez perder sua serenidade. Tanto católicos com protestantes vinham pedir seus conselhos sobre qual era a melhor forma de praticar a religião. Aplacadas as lutas ideológicas, marchou para Roma, onde o papa Paulo III lhe deu um priorato em Deventer. Marchou para Paris, mas antes deteve-se alguns meses na Basiléia, onde imprimiu algumas de suas obras. Mas as enfermidades voltaram a ficar graves e durante o inverno, que lhe foi terrível, se viu obrigado a permancer mais tempo. ficou em sua casa na Basiléia debaixo das cobertas, completamente doente. Na convalescência, chegou a começar uma dição crítica das obras de Orígenes, mas por pouco tempo. Em 11 de junho de 1536, na Basiléia, falecia aquele que era chamado de " o príncipe dos humanistas". Grandes foram as homenages que lhe foram prestadas em quase toda a Europa. Na Espanha seu nome gozou de especial predileção, pois muitos discípulos escreviam inúmeros estudos a seu respeito, o que ficou conhecido como erasmismo. Seu corpo foi sepultado na catedral da Basiléia.

5) Quem foi Martinho Lutero ?

Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro 1483 em Eisleben ( ao leste da Alemanha). Ele estava a caminho de tornar-se advogado quando uma escaramuça tinta com a morte espantou-o para tornar-se monge.
Martinho Lutero descendia de agricultores, fato que ele sempre fez questão de enfatizar. Seu pai, Hans Lutero, era minerador de cobre em Mansfeld. Lutero estudou em Mansfeld, Magdeburg, e Eisenach. Em 1501, aos 17 anos, entrou para a Universidade deErfurt, formando-se em 1502 e em 1505 completou o seu mestrado. Na época pretendia estudar direito, um antigo desejo de seu pai, mas acabou abandonando os estudos e entrando para o mosteiro agostiniano, em Erfurt. No mosteiro, Lutero não encontrou a paz que esperava. Mesmo assim, fez-se monge em 1506 e foi ordenado em 1507.
Lutero estudou teologia para tornar-se professor em uma das muitas universidades alemães geridas por monges. Em 1508, foi designado por Johann von Staupitz, vigário-geral dos agostinianos e seu amigo e conselheiro, para dar aulas introdutórias em filosofia moral na Universidade de Wittenberg. Formou-se em teologia em 1509 e retornou a Erfurt, onde lecionou e estudou por dois anos. No final do ano de 1510, sob o patrocínio de mosteiros agostinianos, ele visitou Roma, julgando mundana a postura do clero. Em 1512 recebeu seu diploma de doutorado, logo assumindo a cadeira de teologia bíblica, que manteve até a sua morte.
Em algum momento durante o estudo do Novo Testamento e a preparação de suas leituras, Lutero começou a acreditar que a salvação dava-se pela fé e não pelas práticas religiosas, como acreditava a Igreja Católica. Tratando da matéria publicou, em 1517, suas "Noventa e Cinco Teses". A publicação deu início a uma série de conflitos entre Lutero e os líderes da Igreja. A partir daí, Lutero não mais obedecia às ordens de Roma. Mantinha seus pontos de vista em debates com Johann Eck e na Dieta Worms, em 1521. Em função disto foi excomungado mas, sustentado por príncipes alemães, fez seguidores entre os homens da igreja e a população.
Lutero escreveu hinos, catecismos e diversos tratados de teologia. Foi feita por ele a tradução do Novo Testamento para o alemão, e em 1532, foi publicada a sua versão do Antigo Testamento, a partir do original.
Por volta de 1537, já no fim de sua vida, o fortalecimento do papado preocupava Lutero. Considerando uma tentativa dos judeus em tirar vantagem da divisão existente entre os cristãos para reabrir a questão de Jesus como sendo o Messias, escreveu violentamente contra os judeus, polemizando ainda contra o papado e a ala radical dos reformistas, os anabatistas. Sua última mediação foi a resolução da controvérsia estabelecida entre dois jovens condes que governavam então a região de Mansfeld, onde havia nascido.
Martinho Lutero morreu de 18 de fevereiro de 1546, em Eisleben.

6) O que é confissão de Augsburgo ?

Em 1530, o imperador Carlos V convocou uma dieta imperial para se reunir em Augsburgo. Seu desejo era negociar com os protestantes e se possível encerrar a disputa. Melancton redigiu uma confissão protestante de fé, baseada em parte em algúns escritos anteriores de Lutero. O produto final teve a aprovação de lutero, que não pôde estar na dieta porque havia sido excomungado. Em junho ela foi lida ao imperador em Augsburg - Desta maneira tornando-se conhecida como a Confissão de Augsburgo.
Invictíssimo Imperador, César augusto, Senhor clementíssimo. Porquanto Vossa Majestade Imperial convocou uma dieta imperial para Augsburgo, destinada a deliberar sobre esforços bélicos contra o turco, adversário atrocíssimo, hereditário e antigo do nome e da religião cristãos, isto é, sobre como se possa resistir ao seu furor e ataques com preparação bélica durável e permanente; e depois também quanto às dissensões com respeito a nossa santa religião e fé cristã, e a fim de que neste assunto da religião as opiniões e sentenças das partes, presentes umas às outras, possam ser ouvidas, entendidas e ponderadas entre nós, com mútua caridade, brandura e mansidão, para que, corrigido o que tem sido tratado incorretamente nos escritos de um e outro lado, possam essas coisas ser compostas e reduzidas a uma só verdade simples e concórdia cristã, de forma tal, que, quanto ao mais, seja praticada e mantida por nós uma só religião pura e verdadeira; e para que, assim como todos estamos e militamos sob um mesmo Cristo, possamos da mesma forma viver em uma só igreja cristã, em unidade e concórdia; e porque nós, os abaixo assinados, assim como os outros eleitores, príncipes e ordens, fomos chamados à supramencionada dieta, prontamente viemos a Augsburgo, a fim de nos sujeitarmos obedientes ao mandado imperial, e, queremos dizê-lo sem intuito de jactância, estivemos entre os primeiros a chegar.
Como, entretanto, Vossa Majestade Imperial também, aqui em Augsburgo, no próprio início desta dieta, fez que, entre outras coisas, se indicasse aos eleitores, aos príncipes e a outras ordens do Império que as diversas ordens do Império, por força do edito imperial, deveriam propor e submeter suas opiniões e juízos nas línguas alemã e latina, e como quarta-feira passada, após deliberação, se respondeu, em seguida, a Vossa Majestade Imperial que de nossa parte submeteríamos os artigos de nossa Confissão sexta-feira próxima, por isso, em obediência à vontade de Vossa Majestade Imperial, oferecemos, nesta matéria da religião, a confissão de nossos pregadores e de nós mesmos, tal qual eles, haurindo da sagrada Escritura e da pura palavra de Deus, ensinaram essa doutrina até hoje entre nós.
Agora, se os demais leitores, príncipes e ordens do Império igualmente apresentarem, de conformidade com a precitada indicação de Majestade Imperial, em escritos latinos e germânicos, sua opiniões na questão religiosa, estamos dispostos, com a devida obediência a Vossa Majestade Imperial, como nosso Senhor clementíssimo, a conferir, amigavelmente, com os precitados príncipes, nossos amigos, e com as ordens, sobre vias idôneas e toleráveis, a fim de que cheguemos a uma acordo, até onde tal se possa fazer honestamente, e, discutida a questão entre nós, dessa maneira, com base nos propostos escritos de ambas as partes, pacificamente, sem contenda odiosa, possa a dissensão, com a ajuda de Deus, ser dirimida e haja retorno a uma só verdadeira e concorde religião. Assim como todos estamos e militamos sob o mesmo Cristo, devemos outrossim confessar um só Cristo, segundo o teor de edito de Vossa Majestade Imperial, e todas as coisas devem ser conduzidas em acordo com a verdade de Deus, e pedimos a Deus com ardentíssimas preces que auxilie esta causa e dê a paz.
Se, porém, no que diz respeito aos demais eleitores, príncipes e ordens, que constituem a outra parte, esse tratamento da causa não se processar segundo o teor de edito de Vossa Majestade Imperial, e ficar sem fruto, nós outros em todo o caso deixamos o testemunho de que nada retemos que de algum modo possa conduzir a que se efetue uma concórdia cristã possível de fazer-se com Deus e de boa consciência, como também Vossa majestade Imperial, e bem assim os demais eleitores e ordens do Império, e quantos forem movidos por sincero amor e zelo pela religião, quantos derem ouvidos a essa causa com equanimidade, dignar-se-ão, bondosamente, a reconhecer e entender dessa Confissão nossa e dos nossos.
Como Vossa Majestade Imperial também bondosamente significou, não uma, senão muitas vezes, aos eleitores, príncipes e ordens do Império, e na Dieta de Espira, celebrada em 1526 A. D., fez que fosse lido e proclamado, de acordo com a forma dada e prescrita de Vossa imperial instrução, que Vossa Majestade Imperial, nesse assunto de religião, por certas razões, que então foram alegadas, não queria decidir, mas queria empenhar-se junto ao Romano Pontífice a favor da reunião de um concílio, conforme também essa questão foi mais amplamente exposta, faz um ano, na próxima-passada Dieta de Espira, onde Vossa Majestade Imperial, por intermédio do Governante Fernando, rei da Boêmia e da Hungria, clemente amigo e Senhor nosso, e além disso através do embaixador e dos comissários imperiais, fez que, entre outras coisas, fosse apresentado, segundo a instrução, o seguinte: que Vossa Majestade Imperial notara e ponderara a resolução do representante de Vossa Majestade Imperial no Império, bem como do presidente e dos conselheiros do regime imperial, e dos legados de outras ordens que se reuniram em Ratisbona, concernente à reunião de um concílio geral, e que Vossa Majestade Imperial, outrossim, julgara que seria útil reunir um concílio, e que Vossa Majestade Imperial não duvidou de que seria possível induzir o Pontífice Romano a celebrar um concílio geral, porquanto as questões que então eram tratadas entre Vossa Majestade Imperial e o Romano Pontífice avizinhavam-se de uma concórdia e reconciliação cristã. Por isso Vossa Majestade Imperial bondosamente significava que se empenharia no sentido de que o Romano Pontífice consentisse, o quanto antes possível, em congregar tal concílio, através da emissão de cartas.
Se, pois, o resultado for tal, que essas dissensões não sejam compostas amigavelmente entre nós e a outra parte, oferecemos aqui, de superabundância, em toda obediência perant e Vossa Majestade Imperial, que haveremos de comparecer e defender a causa em tal concílio geral, cristão e livre, para cuja reunião sempre tem havido, em razão de gravíssimas deliberações, em todas as convenções imperiais celebradas durante os anos de reinado de Vossa Majestade Imperial, magno consenso da parte dos eleitores, príncipes e ordens do Império. Para esse concílio e para Vossa Majestade Imperial mesmo já anteriormente apelamos da maneira devida e na forma da lei, nessa questão, incontestavelmente a maior e mais grave. A esse apelo continuamos a aderir. E não intentamos nem podemos abandoná-lo, por esse ou outro documento, a menos que a causa fosse amigavelmente ouvida e levada a uma concórdia cristã, de acordo com o teor da citação imperial. Quanto a isso, também aqui testificamos publicamente.
Introdução
"Todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus" (Mt 10,32s). Estas palavras de Jesus nos dizem o que é uma confissão "confissão" é dizer sim ou não para Jesus Cristo, tomar partido em favor de Jesus ou contra ele. Confissão é discipulado. Uma tal confissão quer ser a Confissão de Augsburgo que, neste ano de 1980, está comemorando 450 anos. Ela é, ao lado da Sagrada Escritura e do Catecismo Menor de Martin Lutero, o documento básico, através do qual expressamos o que Jesus Cristo é para nós. A Confissão de Augsburgo é também aquele escrito que permitiu entre nós, aqui no Brasil, o surgimento da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Éramos, originalmente, quatro igrejas independentes (o Sínodo Riograndense, o Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná, a Igreja Evangélica Luterana no Brasil e o Sínodo do Brasil Central) que descobriram a sua unidade na Sagrada Escritura, no Catecismo Menor de Lutero e na Confissão de Augsburgo. Desde 1949 nós confessamos a nossa fé em Jesus, conjuntamente, através da Confissão de Augsburgo.
As palavras da Confissão de Augsburgo foram escritas em uma situação bem especial. Todos nós conhecemos a Martin Lutero e sabemos que por causa de uma descoberta que ele fez, por volta de 1517, toda a situação religiosa na Alemanha ficou bastante agitada. Lutero descobriu que Deus não é um Deus que quer que o homem morra, mas viva! Deus não quer condenar, mas salvar o homem. Quando fez esta descoberta, o reformador não ficou com isso para si. Ele a anunciou. Sua descoberta se alastrou como pólvora por toda a Alemanha. Sempre que o Evangelho se liberta, não há mais quem o segure. Ele tomou conta do apóstolo Paulo, de Santo Agostinho, de Lutero e de milhares de contemporâneos de Lutero.
Onde o Evangelho age, também surgem mudanças. E, na Alemanha começaram a ocorrer mudanças. A partir do Evangelho se ia descobrindo novas realidades. Surgiu uma nova concepção de igreja, de santo ceia, houve casamentos de pastores, monges abandonavam conventos. Com isso ocorriam mudanças. A Alemanha se via dividida em dois campos, os adeptos da velha e da nova fé. O culto passou a ser oficiado em língua alemã, havia santa ceia sob duas espécies, comunidades escolhendo seus pastores. O povo criava novos hinos, onde se cantava da liberdade trazida por Deus em Cristo. Muitos cristãos, lendo a Bíblia e encontrando a proibição de imagens, foram mais longe e começaram a destruir imagens, altares, etc.
Esta liberdade significava perigo para os cristãos da nova fé. Desde o século VI, fé católica e fidelidade ao Estado eram uma e a mesma coisa. Quem passava a ensinar coisa diferente daquela que até agora fora ensinada, em questões de fé, era herege e, ao mesmo tempo, traidor da pátria. Por algum tempo, porém, puderam ocorrer mudanças no campo religioso, na Alemanha, porque o Imperador Carlos V, o homem que tinha que zelar pela fidelidade política e religiosa, estava empenhado em lutas com seus dois principais opositores: o Papa e o rei da França. Em 1529 a coisa, porém, mudou. Neste ano Carlos V venceu a seus opositores e anunciou, por carta, aos príncipes alemães a convocação de uma Dieta, i.é., uma reunião dos representantes dos principados e cidades que formavam o Império Alemão. Esta Dieta ocorreria na cidade de Augsburgo e deveria iniciar a 8 de abril de 1530. O Imperador vinha disposto a "reparar o ultraje que fora feito a Cristo". Na sua opinião as mudanças feitas, a partir do Evangelho, pelos adeptos da nova fé, eram um ultraje a Cristo. Atrasos na viagem do Imperador fizeram com que a Dieta só se iniciasse em junho de 1530.
Quando o príncipe eleitor da Saxônia, - território onde Lutero residia e que tinha na cidade de Wittenberg sua capital, -recebeu a convocação para a Dieta, procurou entrar em contato com seus partidários. Eram eles Felipe de Hesse, Ernesto de Lüneburgo, Jorge de Ansbach, Henrique de Mecklenburgo e Wolfgang de Anhalt. Nas cartas enviadas, João, o Constante, -é este o nome do príncipe eleitor da Saxônia - procurou mover seus partidários a se fazerem presentes na Dieta, para justos poderem difundir e defender a fé evangélica. As respostas não foram muitas alentadoras, pois mostravam que não havia unanimidade de pensamento. Enquanto alguns viam a importância da Dieta na defesa da "fé e do sacramento", outros julgavam ser mais importante quebrar a hegemonia política do Imperador. Também entre as cidades não havia unanimidade. Essa situação era perigosa. Diante da inatividade de seus partidários, o príncipe eleitor encarregou a Universidade de Wittenberg com a elaboração de um documento no qual fosse responsabilizadas as mudanças havidas na Igreja em seu território. Este documento recebeu o nome de "Artigos de Torgau".
Quando se dirigiu para a Dieta de Augsburgo, o príncipe João, o Constante, levou consigo, entre outros conselheiros, a Felipe Melanchthon, colaborador de Lutero e professor na Universidade de Wittenberg. Lutero não pode ir junto por estar banido. Como o Imperador tardasse em chegar a Augsburgo, João, o Constante, encarregou Melanchthon de elaborar um novo escrito que abrangesse os Artigos de Torgau e outros escritos anteriores. Este escrito nós conhecemos, hoje, sob o nome de Confissão de Augsburgo. Em maio de 1530 o escrito foi enviado a Lutero que a ele se referiu da seguinte maneira: "Eu li a apologia (defesa) de Malanchthon, a qual me satisfaz e eu nada sei como melhorá-la ou modificá-la, o que também não conviria, já que eu não consigo manifestar-me de modo tão manso e suave. Cristo, nosso Senhor, ajude que ela traga grandes frutos, como nós esperamos e pedimos."
Em 15 de junho de 1530 o Imperador entrou em Augsburgo. No dia seguinte era festa de Corpus Christi. Os príncipes evangélicos negaram-se a obedecer a ordem do Imperador de participar da procissão. Foi um ato de coragem, mas também de perigosa desobediência. A chegada do Imperador fez com que os príncipes evangélicos que ainda vacilavam em princípios de 1530, se unissem agora, assumindo em conjunto o documento de Melanchthon.
Carlos V quis que o documento fosse simplesmente entregue. Os príncipes, porém, quiserem confessar sua fé publicamente e conseguiram que o documento fosse lido perante toda a Dieta. Essa leitura ocorreu no dia 25 junho de 1530, às 15 horas. O texto foi lido em latim e em alemão. Após a leitura, o imperador proibiu a divulgação do texto. Mas, em pouco tempo ele era divulgado em toda a Alemanha.
Ao saber do ocorrido, Lutero viu cumpridas as palavras do Salmo 119.46: "Falarei dos teus testemunhos na presença dos reis, e não me envergonharei".
A Confissão de Augsburgo é uma pública confissão de fé, uma confissão do senhorio de Jesus Cristo. A confissão como tal foi apresentada em hora de perigo. Ali, em Augsburgo, nossos pais luteranos fizeram uma pública confissão de fé, de sua fé em Jesus Cristo.
O Imperador não aceitou o documento, mas ele veio a ser a base para as igrejas luteranas na Alemanha e, hoje, em todo o mundo, também aqui entre nós no Brasil.
A confissão de Augsburgo abrange ao todo 28 artigos que estão divididos em duas partes. Na primeira parte deparamo-nos com "Artigos de fé e de doutrina" (Artigos 1-21). Eles se ocupam com três questões básicas:
a. Os artigos 1-3 pretendem demonstrar a concordância com a doutrina da Igreja Antiga a respeito de Deus (1), origem do pecado (2) e cristologia (3).
b. Nos artigos 4-6 e 18-20 é apresentada a compreensão reformatória do Evangelho: Justificação (4), ministério da pregação (5) (seria mais correto se o artigo fosse intitulado de "meditação do Espírito Santo, através de Palavra e Sacramento"), nova obediência (6), livre arbítrio e origem do pecado (18-19), fé e boas obras (20).
c. Nos artigos 9-15 deparamo-nos com problemas relativos à Igreja: Conceito de Igreja (7-8), sacramentos (9-13) (note-se que aqui a confissão e o arrependimento estão incluídos entre os sacramentos, sem, no entanto, serem declarados sacramentos), ordem e ritos eclesiásticos (14-15).
Além dessas três questões básicas, encontramos ainda três questões específicas: autoridades civis (16), segunda vinda de Cristo para juízo (17), culto aos santos(21).
Na segunda parte (artigos 22-28) deparamo-nos com "Artigos sobre que há divergência e em que se trata dos abusos que foram corrigidos": Das duas espécies do sacramento (22), Do matrimônio dos sacerdotes (23), Da Missa (24),da Confissão (25), Da distinção de manjares (26), dos votos monásticos (27), Do poder eclesiástico (28). No final são abordados sumariamente, temas como indulgências, peregrinações, excomunhão, etc.


7) O que é Fórmula de Concórdia ?

No ano de 1570 várias confissões foram produzidas e em 1577 algumas destas foram reunidas para formar a Fórmula da Concórdia, que ganhou a aprovação de muitos dos estados alemães luteranos.
A Fórmula de Concórdia foi elaborada por uma equipe de teólogos em 1577. Esta fórmula é a Repetição e Declaração, pura, correta e final de alguns Artigos da Confissão de Augsburgo nos quais por algum tempo houve desacordo entre alguns teólogos adeptos dela, resolvido e composto sob a orientação da Palavra de Deus e do conteúdo sumário do ensino cristão Depois de tantos manuais e documentos, finalmente, em 25 de junho de 1580, cinqüenta anos após o dia da leitura de Confissão de Augsburgo diante de Carlos V, o Livro de Concórdia completo com todos os manuais e documentos foi colocado em circulação. Aceito pelos Lute ranos como exposição correta das Sagradas Escrituras. O objetivo deste livro ser um instrumento de bênçãos ao povo de Deus.